sábado, 17 de setembro de 2011

A IMPORTÂNCIA DA BAIXA LITERATURA

Muitos colegas professores se exaltam quando a discussão descamba para a qualidade dos livros lidos pela juventude atual. Alguns acham uma merda, baixa literatura, qualidade zero. Ótimo. É bom ter essa visão crítica acerca dos vários livros ruins que são lançados anualmente no Brasil e no mundo.


Paulo Coelho, o maior vendedor de livros do Brasil.

O que alguns doutos docentes não percebem é que tais livros – série Harry Potter, série Crepúsculo, Paulo Coelho, Augusto Cury, etc. – servem como a boa e velha isca para a formação de futuros leitores. Ou alguém acha por aí que uma criatura se inicia nas letras lendo Ulisses, de James Joyce?
Para os que têm livros à mão, gozam das suas companhias, é só recuar um pouco no tempo e no espaço, lembrando-se das primeiras páginas lidas. Começou nas páginas de Os Sertões, de Euclides da Cunha, ou nos gibis de Batman, Superman ou da Turma da Mônica? O primeiro livro lido foi Grande Sertão Veredas, de Guimarães Rosa, ou as epopéias da literatura infanto-juvenil cobradas pelas professoras ginasiais em tenra infância?

O bruxinho Harry Potter é responsável por milhares de jovens lerem no mundo.

Quem, em sã consciência, gostou de ler Machado de Assis com treze, quatorze anos de idade, em pleno Ensino Fundamental? Só doido ou gênio.
Não, os livros lidos eram os de Monteiro Lobato, e olhe lá! Livros de Bartolomeu Campos Queirós, Cecília Meirelles, Ruth Rocha, Ana (e Clara) Maria Machado, Pedro Bandeira, Moacyr Scliar, Vinícius de Moraes e tantos outros povoadores do imaginário lúdico infante.
O que convém nesse debate - sobre o que é bom ou não para se ler - é fazer com que os discentes, vivendo em um mundo absurdamente virtual, agreguem o computador com os livros, o televisor com os livros, o estudo com os livros, o namoro com os livros, a música eletrônica com os livros, a novela com os livros, etc. Não é tentar apartá-los, sem nenhum motivo plausível, dos prazeres e facilidades mundanos, mas fazê-los somar a tudo isso que desfrutam hoje aos benditos livros.
E se tiver que começar com os livros do pequenino bruxo inglês (longe de ser o bruxo do Cosme Velho!), que seja! Se tiver que começar torcendo pelo namoro dos vampirinhos Bella e Edward, que seja! Se for para descortinar os mistérios do ladrão de raios, que seja!

Livro inicial da série Crespúsuclo, de Bella e Edward.

E as escolas não podem ignorar esse turbilhão de novidades que englobam a escrita no planeta. Não podem e não devem ficar obsoleta, cultuando apenas o ontem, esquecendo-se da atualidade.


Atualmente, O Ladrão de Raios arrebata a juventude.


O que não convém, no entanto, é estacionar aí nesse nível. Tem que incentivar os alunos a seguir adiante, sendo introduzidos aos poucos à boa literatura, brasileira e universal. Um livro com uma densidade linguística um pouco maior, depois outro com uma trama mais complexa. Sempre partindo da narrativa mais clássica para a modernista e pós-modernista. Depois vêm os poemas, que são leituras mais sofisticadas e necessitam de maior conhecimento do mundo e da arte literária.
Sem saber como se processam os mecanismos do deleite, e vítimas do imediatismo que ronda a educação doméstica e escolar, os adultos tendem a impor aos jovens, aos adolescentes, os livros que eles acham bons, esquecendo-se que um dia também já foram jovens sem nenhuma preocupação na cabeça.
Gustavo Atallah Haun - Professor.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

A REDAÇÃO NO ENEM

Apesar da prova de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias deixar a desejar nos novos e velhos ENEM’s, privilegiando o óbvio, a elaboração da proposta de Redação (dissertativo-argumentativa) faz a diferença todos os anos. Bem amarrada, com uma avaliação interessante e com temas mais do que pertinentes, a produção textual do Exame mostra que está afinada com a atualidade.
Tendo como característica principal ser feita por estudantes de todos os estados da federação, as provas do ENEM têm feito abordagens nacionais, comuns, conhecidas, na generalidade, por qualquer pessoa, descentralizando assim os tópicos frasais que pudessem excluir o conhecimento regional ou estadual da sua consecução.
Por isso, temas abrangentes, às vezes clichês, como Violência, Meio Ambiente, Trabalho Infantil, Mídia, etc., fizeram parte dos assuntos da prova de Redação nos últimos anos. Será que os alunos não poderiam escrever sobre temas tão repetidos, tão debatidos e cheios de opiniões conhecidas? Claro que sim.
Ademais, a nosso ver, a prova tem um padrão de, no mínimo, 15 linhas e, no máximo, 30, o que facilita sobremaneira para o redator afeito aos textos mais longos. Nos vestibulares Brasil afora, o padrão médio são 20 linhas, no mínimo, e varia entre 30 e 34 (caso da FUVEST), no máximo.
Além disso, a prova escrita é corrigida por dois professores levando-se em consideração cinco competências: a) domínio da língua culta; b) compreensão da proposta e aplicação do diversos conhecimentos; c) selecionar, relacionar, organizar e interpretar para defender um ponto de vista; d) ter domínio da coesão e da coerência; e e) elaborar proposta de solução para o problema abordado.
Vê-se, portanto, que a prova não privilegia somente a feitura de um texto correto gramaticalmente, o que já é um grande avanço. A idéia, as partes, a essência, o conjunto como um todo têm de estar em conformidade com a crítica ou a solução proposta, sem ferir os Direitos Humanos, sempre.
De acordo com a prova anulada em outubro, o tema da produção textual seria “a valorização do idoso”, propondo ações sociais e respeitando os direitos e deveres de cada um. É um tema muito pertinente, que suscitaria muita polêmica pelo caráter ariano da sociedade, que tende a rechaçar a terceira idade, esquecer seu patrimônio imaterial, desprezar suas heranças e tradições, os seus sábios e experientes velhinhos. Um assunto, aliás, que não é tão debatido pelos meios de comunicação, apesar de ter sido aprovado (e não posto em prática!) o Estatuto do Idoso há pouco tempo.
No mais, pretendemos fazer uma ampla discussão sobre A Redação do ENEM: Prepare-se!. Por isso convido a todos os estudantes das redes particular e pública para participarem comigo de curso homônimo, que acontecerá no dia 31 de outubro, véspera da prova, no auditório da escola Ação Fraternal de Itabuna, horários vespertino e noturno, com o custo de R$ 15,00. Na oportunidade, falaremos sobre todos esses reclames, além de discutir temas anteriores, destrinchar as competências avaliadas, revisar dissertação-argumentativa e muito mais.
Venha conferir!
Prof. Gustavo Atalah Haun

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

TÉCNICAS DE REDAÇÃO?

A redação talvez seja a disciplina escolar (ou atividade humana) das mais complexas e problemáticas de todas, não à toa os grandes escritores rareiam no mundo. Um dos fatores que se associam a essa idéia é porque ela é totalmente cognitiva, mental. Uma atividade subjetiva, em que o redator lida somente com a folha em branco e o próprio conhecimento, sem ou com poucas interferências externas.
O professor de redação pode, quando competente, lançar ao aluno algumas técnicas (regras) de composição de alguns gêneros textuais: narrativo, descritivo, dissertativo, jornalístico, epistolar, etc. Porém, o docente jamais interferirá no texto propriamente dito, não poderá dizer ao discente o que escrever, o como, o jeito de fazê-lo, do contrário a autoria será do professor e não do aluno.
Para aprender a escrever bem, ao contrário de andar de bicicleta, por exemplo, só com treino, bastante prática e muita leitura. O ato de começar a pedalar é feito apenas uma vez, cai da bicicleta no primeiro momento, suja-se, mas o sujeito morre sabendo, aprende para sempre! Já com a redação, não. O sujeito tem que treinar, escrever, suar, assim como pensar, ler, pesquisar. São atividades que se completam na complexidade da escrita.
Outra ajuda viável que o professor-leitor pode dar ao escrevente iniciante ou intermédio é corrigir os seus possíveis erros, dizer onde pecou, alertar para possíveis interpretações equivocadas do tema, idéias superficiais usadas, deslizes gramaticais, etc. Mais importante do que freqüentar as aulas de redação, muitas vezes, é ter um especialista, um amigo, um colega, que possa ler o texto alheio e mostrar como melhorá-lo. Depois, óbvio, reescrevê-lo até ficar bom.
Até mesmo professores (sem falar dos escritores profissionais e dos jornalistas) necessitam estar a todo instante escrevendo, reescrevendo e lendo: primeiro para ser exemplo, exemplo que pode, que é possível, que não é nada de outro mundo; segundo, porque o exercício é fundamental, só se aprende fazendo e refazendo!
As melhores redações, no entanto, que se tem feito por vestibulandos e concurseiros no Brasil afora são as que extrapolam qualquer regra, qualquer técnica prévia. É uma mescla de texto demiúrgico com um objetivo proposto no enunciado, focado na questão que está abordando. São redações incríveis, com idéias superiores, muito acima da média dos que prestam vestibular ou concurso. Para se chegar a esse estágio, porém, só há uma única regra a seguir: fazer da escrita um sacerdócio! Eis um belo desafio para nós mesmos!
Assim, não estaremos criando meros escreventes ou redatores em ambientes superficiais das escolas, cursos e pré-vestibulares – algumas vezes de forma até coercitiva. Mas, estaremos preparando o sujeito para ser cidadão através da sua escrita; estaremos criando luzes nas consciências; estaremos ampliando visões de mundo e jorrando sabedoria por todos os cantos. É só lapidar o diamante bruto!
Gustavo Atallah Haun - Professor.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

A PROLIXIDADE NOS TEXTOS

Já diziam os mais velhos (sábios) que, quando não pudermos ajudar, é melhor ficar calado, ou então, quem conversa demais da bom dia a cavalo, ou ainda, boca fechada passarinho não faz ninho.
À parte os clichês, muitas vezes senso comum destituído de qualquer sentido concreto, esses citados acima deveriam nortear a vida daqueles que lidam com as palavras, profissionais ou não.
É verdade que a herança do ocidente, vinda dos pensadores gregos, é a da prolixidade, do falar demais e exacerbadamente, ao contrário da competência e objetividade do oriente, que consegue sintetizar uma máxima em apenas um ideograma, falar pouco, resumidamente, e conter muito conteúdo.


Talvez por isso professores de História, Geografia e até Literatura sejam altamente prolixos, o que é bom algumas vezes, enfadonho em outras tantas.
Certa feita, comentando sobre prolixidade nos textos, demos exemplo do que seria isso, muitas vezes dando voltas e mais voltas em um assunto, buscando informações ou argumentos desde a antiguidade até os dias atuais.
Os alunos, então, maledicentes, disseram que tinham uma professora de História que era assim, falava demais para explicar uma coisa simples que haviam perguntado. Colocando de lado os temas históricos que hão de ter essa necessidade e também a ignorância dos interlocutores, muitas vezes é preciso essa volta, esse retorno às origens, ao ontem, para explicar o hoje e também prever o amanhã.
Mesmo assim, demos boas risadas, brincamos e falamos de escritores muito prolixos, como Eça de Queirós, Jorge Amado, o americano Norman Mailler, entre outros.
Em reunião docente algum tempo depois, a professora em questão contou, às lágrimas, a “injúria” sofrida por um colega, que a chamou de prolixa. Naquele momento, pensamos que o Aurélio ou o Houaiss haviam transpassado o sentido da palavra para “vitupério”, “obscenidade”, “calúnia”, “ultraje”, “ignomínia”... O que não é o caso. A colega, a nosso ver, foi precipitada em suas conclusões e fez tempestade em copo d’água.
O problema que nós queríamos tratar, realmente, era que em textos escritos o rodeio, a amplitude de informações, o dar a volta de 360º graus, ficaria chato, longo, tedioso, poderia soar até como vaidade do autor, que quer demonstrar tudo o que sabe (e não teria outra chance de fazer isso!).
O excesso de conteúdo, nesse caso, poluiria a redação. Engraçado é que os textos escolhidos como os de “nota dez” em vestibulares e concursos Brasil afora são os que apresentam boas ideias, bom conteúdo e, acima de tudo, têm objetividade. São simples e ao mesmo tempo utilizam uma linguagem culta, correta. Primam por dizer muito com pouco.
Deixemos a prolixidade para as mesas de bares, o estádio de futebol, a conversa informal na fila do banco ou no consultório dentário, quando o tempo é propício e se arrasta, mas não para as redações que, infelizmente, necessitam estar encolhidas em apenas 30 mirradas linhas.
Gustavo Atallah Haun - Professor.

A INTERPRETAÇÃO DE UM TEXTO


Depois que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9394/96) entrou em vigor no Brasil, em 1997, muita coisa no ensino de Língua Portuguesa foi modificada, levando-se em consideração agora o amplo trabalho dos lingüistas nas universidades.
Antes o ensino de L.P. era basicamente em cima das gramáticas normativas: cheias de regras preconceituosas, impossíveis e, na maioria dos casos, decorativas. Quem não se lembra de ir para a escola carregando aquele calhamaço, aquele catatau de páginas e mais páginas explicando os inúmeros casos de como se usa a crase, entre tantas outras explicações esdrúxulas?
Hoje, o ensino de L.P. é basicamente interpretativo e contextualizado. Educa-se em língua materna para o entendimento no contexto em que se realiza a comunicação; educa-se para a completude do sujeito; educa-se para a essência do conteúdo, além dos diversos níveis de linguagens e gêneros existentes em uma mesma sociedade.
Mesmo assim, quando se fala em interpretação de textos muitos estudantes não têm certeza ou segurança de seguir em frente. A interpretação é algo individual ou há um sentido comum a todas as pessoas? O que a universidade quer é o mesmo que o autor diz? E as pegadinhas? São muitas as dúvidas que pairam sobre a cabeça dos alunos.
Virou lenda os casos de Jorge Amado e Mário Prata não acertarem as questões de vestibular que caíram sobre suas próprias obras literárias. Ninguém atesta a veracidade desse fato, mas é comum ouvir isso nos corredores dos pré-vestibulares e colégios.
O que se pode minimizar sobre o assunto, neste espaço contido, é que, em relação à interpretação de textos, não se pode cair em três erros básicos: a extrapolação, a redução e a contradição, senão se terá desviado do que pede o enunciado.
A extrapolação é o erro mais comum nas interpretações. Trata-se do aluno que “viaja na maionese”, ou seja, vai para além dos limites do texto, para o que não disse o autor. Não é a soma do que está nas entrelinhas ou implícito, é ultrapassar a fronteira do que não está posto.
Já a redução é enxergar o texto sobre um único prisma, não vê-lo como um todo: o aluno só se depara com um aspecto do mesmo e não com todo ele. A redução é fruto da pressa, da inexperiência, do ler de forma superficial.
E, por fim, a contradição, que é o fato do leitor chegar a conclusões opostas àquelas que estão no texto. As suas deduções o levaram a aspectos que estão contrários aos do autor, ao que ele escreveu. O mesmo que incoerência.
Como o brasileiro figura nas piores estatísticas da UNESCO sobre interpretação de textos e resoluções de problemas matemáticos (que são basicamente interpretativos!), é bom ficar de olho nos três erros descritos acima.
Persistindo a dúvida, tenha calma, leia a questão novamente, procure absorver o que quer dizer o autor - qual o tema trabalhado -, e responda à questão que mais se identifica com a idéia núcleo, com a essência, com o que se pede. Na maioria das vezes é uma simples questão de raciocínio lógico ou dedutivo.
Tudo o que o estudante necessita está ali no texto, no que o autor escreveu ou, como diria Foucault, nos silêncios que há entre uma palavra e outra, sem extrapolação, redução ou contradição!
Gustavo Atallah Haun - Professor.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

O SEXO & O TEXTO OU O TEXTO & O SEXO

Escrever um texto é como ter uma relação sexual. O sexo é uma troca de energia, um ato necessário para a procriação e para a satisfação fisiológica. Redigir é imprescindível: igualmente energético, gera prole (discussão ou outros textos) e também satisfaz o ego.
Assim como o ato sexual precisa de um(a) parceiro(a) – há quem não se importe com tal ausência –, o ato de escrever precisa de alguém para ler, ou não, caso o autor queira se resguardar no anonimato. A verdade é que ninguém jamais redige algo para não ser lido, se não, qual a graça e o motivo?
O sexo desprovido de amor ou paixão é a escrita mecânica, a prosa por encomenda; o sexo animal é o escrito demiúrgico, angustiado, poético; o sexo responsável, comedido, é a redação cautelosa, refinada.
Escrever é transar, chegar ao orgasmo, gestar, parir e amamentar nos poucos minutos da escrita. Jogar um filho ao mundo, talvez colhendo os louros ou as desditas do fruto concebido.
O começo do texto pode ser considerado as preliminares. Beija-se, abraça-se, excita-se de todas as formas possíveis para abrir o caminho para o porvir. A preparação para pegar o leitor, não fazê-lo desistir, deixá-lo doidinho para continuar! E é assim que começa um bom sexo, o início é um vislumbre do que vai acontecer!
Já o miolo do texto, a que muitos chamam de desenvolvimento, é o desenrolar do sexo, o ir e vir, o balanço gostoso que gera delícia: o ato em si. Há quem goste de ficar horas no meio, sem querer chegar aos “finalmentes”, pois o prazer gerado com uma boa prosa é sublime... E quantos bons argumentos! E quantos bons clímaces! Dependendo dessa fase, o final pode ser um incrível êxtase, pode ser arrebatador, como um bom texto que lemos de cabo a rabo, sem largar um só minuto esperando as derradeiras palavras!
E, por fim, a parte principal: o fechamento da obra, a conclusão, o desfecho, ou seja, o orgasmo, o gozo lítero-carnal. Premeditado, gérmen cultivado pelos autor e co-autor(leitor ou parceiro(a)) que explode em virulento tesão. Existem aqueles que asseguram que o redator escreve já tendo o final claro na mente. Todos que se entregam à doce luxúria sabem que o orgasmo é o último porto, o porto seguro. Às vezes o final do texto não funciona, assim como o orgasmo não vem. São as intempéries da vida, os maus escritos ou as escritas tortas!
Dessa forma, uma arte milenar, a da palavra escrita, catalisadora do saber, vai tomando rumo, vai se assenhorando da folha antes em branco, agora maculada, desvirginada pelos sinais e ícones latentes de uma dolorosa poesia, de uma lenda exuberante, de uma opinião formada, de uma narração documental, enfim, de uma simbologia que cerca toda a humanidade, todos os habitantes dessa nave desgovernada que é a existência.
Com sexo e muito texto ou sem sexo e com nada!
 Gustavo Atallah Haun - Professor.

OS SETE PASSOS PARA A ARQUITETURA DO TEXTO

Qualquer gênero textual que uma pessoa escreva ou fale tem que passar, religiosamente, por um arsenal arquitetônico na mente ou no papel, construindo com os tijolos, cal e areia das palavras a estrutura que será as suas frases, as suas ideias, a sua essência, ou seja, a sua base comunicacional.
Numa prova de redação, por exemplo, terror dos vestibulandos, o primeiro passo ao elaborar um texto é ler e interpretar o enunciado. Ninguém pode começar a escrever sem entender bem a proposta do que está sendo solicitado. Por isso, ler uma, duas ou três vezes é fundamental para que não se fuja do tema pedido.
Depois desse início, há a necessidade de ter uma opinião sobre a ideia núcleo, o tema. É importante saber algo sobre o assunto, ter referências sobre ele. A respeito desse quesito, sairá sempre na frente dos demais aqueles que forem leitores do mundo, da realidade, pois saberão abordar temas que lhes são comuns.
O terceiro passo é elencar tudo o que vem à cabeça sobre o assunto. Fatos, exemplos, dados, estatísticas, argumentos, servirão de apoio para a elaboração do texto como um todo. Separando tudo o que vem à mente, ficará fácil escolher as melhores elucubrações, os melhores conceitos, a melhor estratégia.
Os três passos iniciais podem ser feitos apenas com a leitura do tema. Passada essa série, elabora-se a introdução do texto, que, no caso de uma dissertação-argumentativa, será composta com o tema, sob a perspectiva que se quer adotar (chamada também de tese), acrescido dos argumentos (apenas mencionados) que serão trabalhados nos parágrafos seguintes.
Finda a introdução, sem pular etapas, elabora-se o desenvolvimento. Cada argumento citado na introdução será discutido em seu parágrafo específico. Aqui, algumas ideias que foram selecionadas no terceiro passo serão aproveitadas para fundamentar o argumento. Esse é o momento que o redator tem à sua frente para dizer tudo o que sabe sobre os tópicos ambicionados, justificar o seu posicionamento, amparar as suas argumentações.
A sexta e penúltima etapa é elaborar a conclusão, para alguns a parte mais preciosa do texto. Como todo texto dissertativo deve ser cíclico, é interessante aqui retomar a tese debatida na introdução, já agora fundamentada pelo desenvolvimento. Para finalizar, seria interessante o redator acrescentar uma observação final, que poderia ser crítica(s) ou solução(ões) para o problema que está sendo enfocado.
Por fim, o último estágio deve ser feito com carinho e muito cuidado: revisar, corrigir o que se escreveu. É muito difícil para quem redige enxergar os próprios erros, principalmente com um texto que é feito assim de chofre, para ser entregue logo, dispondo de apenas uma hora ou duas para a sua feitura. A dica é rascunhá-lo e deixá-lo respirar, desapegar-se dele, desapaixonar-se da sua criação, indo, talvez, fazer outra prova, se for o caso. Numa segunda leitura, a visão já será um pouco mais distanciada e, com certeza, poderá ter maior possibilidade de ver os deslizes.
Escrever não é uma arte para iniciados, tampouco é motivado através da inspiração das musas, do vinho ou dos deuses. É, sim, trabalho de transpiração do redator. Ler é fundamental para que se tenha visão global de mundo, saiba falar sobre variados tópicos, melhore o vocabulário, etc. E a prática – sentar e escrever, corrigir e reescrever – é extremamente necessária para se desenvolver a palavra escrita.
Gustavo Atallah Haun - Professor.

domingo, 11 de setembro de 2011

A CORREÇÃO DE UMA REDAÇÃO

Num vestibular ou num concurso o estudante-escrevente, felizmente ou infelizmente, será o seu próprio mestre e terá que corrigir o seu texto, perceber onde pecou, onde cometeu algum erro.
Para que isso ocorra, é necessário que ele faça o esboço no rascunho e depois, no final, passe o que escreveu para a folha definitiva. Sem tal esboço, escrevendo diretamente na folha, não vai perceber onde cometeu equívoco, isso porque quando nós escrevemos geralmente não percebemos de chofre nada, escrevemos sobre uma influência forte da nossa mente, da nossa paixão, do nosso desejo. Um olhar mais frio, desapaixonado, é importante, pois fará o escrevente enxergar o que está errado.
Mesmo assim, frente à redação, todos podem se perguntar: o que corrigir? São quatro os aspectos que as pessoas devem ficar atentas para construir uma boa redação.
O primeiro aspecto é o ESTÉTICO. Embora seja um aspecto superficial, alguns defendem a ideia de que pela quantidade de redações, muitas bancas podem corrigir os textos apenas sobre este aspecto. As margens regulares, a legibilidade, a paragrafação bem feita, o respeito à quantidade de linhas solicitadas e a ausência de rasuras ou borrões farão com que o vestibulando ganhe pontos importantes em seu texto.
Outro aspecto, de maior importância, é o GRAMATICAL. Esse propõe o domínio da norma culta para os concurseiros. Algumas seleções de vestibular elaboram provas com quantidade máxima de erros, como a FUVEST, em São Paulo, que nas instruções pede para não extrapolar a quantidade de vinte erros, do contrário o texto estará nulo. Outras seleções universitárias não cobram uma quantidade, mas descontam ponto dos desacertos cometidos. Nesse aspecto, a atenção da banca estará sobre a pontuação, a ortografia, a acentuação, a concordância, a regência, o gerundismo, os termos coloquiais e a colocação pronominal.
Também o texto passará pelo crivo da ESTILÍSTICA. Todos têm a sua forma de escrever, o seu estilo próprio, comum. Porém, não devemos repetir as mesmas palavras, isso denota pobreza de vocabulário. Da mesma forma, o uso de períodos longos ou curtos demais é ruim, assim como o excesso de “mas”, de “e”, de “que” vai ser prejudicial. O uso de oralidade, ser prolixo, o uso do internetês e de palavras desnecessárias ou ideias repetidas também. Tudo isso são problemas que podemos e devemos evitar no aspecto estilístico.
E, por fim, o último aspecto corrigido no texto é o ESTRUTURAL, o mais valioso e importante de todos. Nele, a banca estará de olho na organização das idéias, na fuga do tema, na coerência e na coesão, na estrutura textual solicitada pelo concurso, na informatividade e, principalmente, na originalidade da redação. Esse aspecto é um divisor de águas para aqueles que demonstram segurança e domínio dos que ainda são incipientes.
Pronto, as regras estão na mesa. Agora é só pegá-las e servi-las adequadamente no seu texto. Relembrando: a escrita anda sempre de braços dados com a leitura, as informações que temos do mundo, e deve vir acompanhada de muita prática. Assim, o sucesso será inevitável!
 Gustavo Atallah Haun - Professor.

A PROVA DE REDAÇÃO NO VESTIBULAR

Chegando perto de prestar as provas dos vestibulares das universidades estaduais baianas, o aluno nessas horas tem que se manter calmo, tranquilo e com a consciência em paz, pois, se plantou boas sementes durante o ano letivo, óbvio que irá colher bons frutos agora.
Um dos obstáculos que mais tiram o sono – e realmente o que mais reprova nos concursos – é o da Redação. Muitos mitos e lendas circulam por aí em torno da escrita de um simples texto dissertativo, geralmente o que mais é cobrado nessas ocasiões, por se tratar de um texto debatedor, opinativo, de convencimento, fazendo com que o discente demonstre seus conhecimentos a respeito do assunto proposto.
O texto dissertativo tem como estrutura básica a argumentação, que serve para todo e qualquer tema possível, um tipo de chave-mestra que abre todas as portas. É tão simples quanto milenar: a introdução (abordando o tema mais uma alusão das idéias secundárias que servirão de argumentos), o desenvolvimento (que terá tantos parágrafos quantos forem os argumentos apontados no início do texto, acrescido de dados, estatísticas, exemplos, citações e especificações) e a conclusão (retomando o tema e fazendo uma observação final, como críticas ou soluções do problema que está sendo esmiuçado).
Os alunos chegam em sala de aula cheios de dúvidas, de suposições, de questiúnculas que não se coadunam com um legítimo ensino da escrita de um texto, tais como se pode letra de forma, se pode usar primeira pessoa, se rasurar o que é que faz, qual o mínimo de linhas, etc. Eu sempre digo que depende de cada caso. Existem vestibulares que permitem o uso da letra bastão, outros não. Certos temas permitem o uso da primeira pessoa, outros não... E por ai vai. Na verdade, a grande diferença ou o maior fator, digamos assim, que fará um aluno escrever um texto nota 10, é a originalidade da exposição, a capacidade de discutir acerca do tema, as leituras de mundo que esse sujeito tenha e que demonstre de maneira informativa e clara.
Entretanto, não é isso o que vemos. Apesar de uma avalanche de informações por todos os lados, de tantas publicações midiáticas, do advento da internet e de um certo barateamento dos livros, os adolescentes hoje não lêem muito, ou se lêem não são bons textos, que farão com que eles tenham parâmetros internalizados e absorvam boas idéias. Muitas publicações alternativas ficam restritas a nichos intelectuais que os jovens não frequentam, fazendo com que eles busquem clichês e chavões massificados no dia-a-dia das TVs brasileiras e revistas de gosto duvidoso.
No meio literário é comum a assertiva de que um escritor é medíocre quando escreve mais do que lê. Assim também o é com qualquer ser humano. A leitura é um exercício que está indissociável ao da escrita: só escrevemos bem, se lermos bons e muitos textos! Não há como fugir de tal regra, a não ser que sejamos gênios... O que não vem ao caso. Na dúvida, ponha o coração e a mente na mão e escreva com sinceridade, com verdade, sem esquecer que tudo vale a pena... se a alma não for pequena!
Gustavo Atallah Haun - Professor.

sábado, 10 de setembro de 2011

SÉRIE "DICAS PARA ESCREVER BEM"

DICAS PARA ESCREVER BEM

Muitas pessoas me questionam sobre como escrever corretamente, escrever bons textos, principalmente redações que possam garantir uma boa colocação em concursos ou em vestibulares da vida.
Diante da difícil pergunta - como escrever bem? -, com tantas variáveis possíveis, eu diria que ninguém aprende a escrever bons textos sem ler excelentes textos. Eis a primeira questão. Um escrevente (ou até mesmo um escritor, jornalista, redator) que não tem o hábito de ler, é medíocre. Como a média do brasileiro é a singela marca de 02 (dois) livros por ano, a dificuldade com a escrita tende a persistir. Nos países mais desenvolvidos esse percentual sobe para 12 (doze), 14 (quatorze) livros por ano, o que faz com que problemas com o letramento do indivíduo sejam mínimos.
Então, se o sujeito quiser aprender de verdade e progredir de alguma forma comece com o salutar ato da leitura. Leia de tudo um pouco, não se preocupe em misturar os gêneros, os meios, as situações.
Mas, se não tem paciência, não consegue se concentrar, comece por textos simples, fáceis, que dê prazer, como os gibis, charges, anedotas, páginas de esporte, fábulas, lendas, etc. Depois vá evoluindo para algo mais elaborado, como as boas reportagens, enciclopédias, sites jornalísticos, revistas semanais de todas as áreas, romances, livros de poesia, paradidáticos. Por fim, quando já estiver tomado gosto pela coisa, pegue os livros mais densos, mais profundos, como os que tratam de teoria, os livros literários universais, ensaios, textos filosóficos.
Essa pequena lista não trata de criar um cânone ou um manual de regras fixas. Como dizem os mais velhos: cada cabeça é um mundo. Só estou querendo elaborar um pré-roteiro que, sendo professor, indicaria para estudantes interessados em burilar a sua expressão, verbal ou não-verbal. Alguns podem discordar, indicando diversas outras formas de iniciar a sua competência leitora.
Passada essa etapa inicial, de formação do leitor, a segunda questão é: não tenha preguiça de começar a escrever. Infelizmente não há outra forma, escrever se aprende escrevendo! Escreva tudo, tudo o que quiser e vier na cabeça: se quiser fazer o resumo de algo que leu, faça; uma carta para um parente, um amor, um amigo distante, faça; uma dissertação comentando algum fato do noticiário, faça; uma crônica sobre um acontecimento banal da vida, faça. Treine, redija, materialize o seu pensamento. Se tiver alguém que possa corrigir, entregue. Refaça o texto corrigido. Devolva ao corretor. Se vier com correções, refaça novamente. Dessa forma, todos aprenderão e não terão dúvidas sobre qualquer aspecto textual.
É isso. Não há vitória sem esforço, não há ponto de chegada sem objetivo, não há perfeição sem treino, exercício e suor. Vejam o que fazem os atletas olímpicos, os escritores profissionais, enfim, toda pessoa que se propõe a ser bom em alguma coisa: eles têm metas e lutam durante horas, dias, meses, anos para conseguir realizá-las.
Gustavo Atallah Haun - Professor.

 
DICAS PARA ESCREVER BEM II
                                                                                                
Muitas pessoas imaginam que para escrever um bom texto tem que entender tudo da gramática normativa, de frente para trás. Ledo engano. A decoreba de regras e leis gramaticais, muitas vezes obsoletas, arcaicas, não fará com que a pessoa saiba redigir um texto arrepiante ou com emoção; poético ou rico em informações.
Saber de cabeça todas as preposições ou decorar todas as conjugações verbais, como ensinavam as nossas antigas professoras de português, não tem grande importância na construção de uma redação, a não ser pelo fato de conhecê-las formalmente. Mas na hora em que escrevemos, de maneira alguma pensamos: agora vou pôr essa preposição aqui, lá adiante vou usar aquela conjugação, acolá vou enfiar tal pronome.
Nos primeiros anos de vida já sabemos nossa gramática, ela está internalizada na memória dos falantes da língua materna. Jamais ouviremos uma criança, letrada ou não, dizer coisas do tipo: “João comeu peixe o” ou “João comeu a peixe”. Ela falará: “João comeu o peixe”, mesmo sem entender conscientemente de concordância nominal ou que o artigo aparece antes do substantivo. Isso ela já sabe pelo convívio com seus semelhantes, ninguém a ensinou.
Os verdadeiros estudiosos da linguagem afirmam que o que vale é o contexto do enunciado, e não o certo-errado gramatiquês. A língua é como se fosse um guarda-roupa, com trajes adequados para todos os momentos. Horas formais exige linguagem formal; horas informais necessita de linguagem coloquial. Como a roupa que usamos adequada para cada ocasião.
Porém, a escrita, por se tratar de uma convenção, impõe-se de forma autoritária. Em relação à ortografia, por exemplo, se oralmente tanto faz a gente falar esselentchi, esselente, esselenti, só podemos “segundo a norma” escrevê-la deste modo: excelente. É a forma redigida entendida de norte a sul do país.
Saber regras gramaticais irá ajudar o escrevente a utilizar a linguagem formal, portanto culta (socialmente aceita!), nos momentos apropriados. Entretanto, não fará ninguém escrever um belo texto, que, na verdade, deve ser tentado com a prática, com os exercícios constantes, com o sangue e, sobretudo, com muita leitura de bons textos, como clássicos da literatura universal, textos filosóficos, ensaios, boas reportagens, entre tantos outros.
Quem acompanha essas linhas pode ter notado muitos erros, derrapagens na parte gramatical ou estilística da escrita. Um exemplo, no parágrafo anterior foi utilizado por três vezes a palavra “texto”, uma repetição imprópria, inadequada, pobre, para uma língua tão rica como a portuguesa. Poderia ser escrito: redação, conjunto de palavras, compêndio, manifestação verbal, prosa, manifestação lingüística.
Perceba quantos sinônimos, quanta riqueza para ser expressa! Basta que para isso tenhamos leituras prévias, objetivo e consciência do que queremos quando estamos escrevendo algo. O que urge é acabarmos de uma vez por todas com este pânico do papel em branco (ou tela) e da caneta (ou teclado): escrever só se aprende escrevendo!
Gustavo Atallah Haun - Professor.

 
DICAS PARA ESCREVER BEM III

Existem diversos aspectos que se devem levar em conta quando se está querendo aprender a arte da escrita. Dois deles são a coesão e a coerência, muitas vezes confundidas entre si e mal ensinadas por aí.
Quando temos algo para escrever devemos ter uma meta o que queremos atingir, escrever sem objetivos é para poucos, talvez poetas e prosadores profissionais abstracionistas, non sense. Ter uma meta é fundamental, pois a partir disso é que se pode traçar uma estrutura, linear ou não, do que se quer dizer.
Aqui entra a coerência, a não-contradição das idéias, dos fatos. Por exemplo, se estiver escrevendo uma narração e afirmo que a personagem saiu de casa sem dinheiro, não posso relatar adiante que ela pagou algo com dinheiro, seria incoerente. A não ser que algum fato tivesse acontecido: alguém emprestou ou achou no chão. Se estiver redigindo uma dissertação não posso dizer que a religião transforma o homem, modela o seu caráter, transforma o seu íntimo e no final afirmo que a religião não muda ninguém.
Acontece o mesmo quando ouvimos alguém falando “fulano é uma pessoa incoerente”, ou seja, seus atos e atitudes não condizem com o que ele fala, prega. E quantas vezes nós não nos deparamos com sujeitos incoerentes na vida? Que digam os políticos brasileiros!
Por outro lado, o texto deve ser escrito com todas as partes em harmonia, sem que nada esteja destoando. É então onde entra a coesão, que significa elo, conexão. Existem a coesão macrotextual (harmonia do texto completo, como um todo), paragrafal (ligação, sintonia, entre os parágrafos), textual (elo entre as frases que compõem os parágrafos) e microtextual (conexão entre as palavras de uma oração). Se houver harmonia entre todas essas partes, a redação estará bem escrita, sem problemas.
Quando ouvimos a frase “aquela é uma família coesa”, estamos dizendo que aquela família é unida, sem conflitos. Da mesma forma deve ser o texto, unido entre todas as partes que o compõe, sem redundâncias, ambigüidades, sem conflitos de ordem estética, gramatical, estilística ou estrutural.
Por isso a necessidade de sempre mostrar a composição a um revisor, alguém habilitado para corrigir, solicitar mudanças, indicar melhores caminhos, enfim, dar uma olhada com certa distância, sem a paixão de quem escreveu (que geralmente não enxerga os próprios deslizes), até que o escrevente tenha segurança suficiente para caminhar sozinho.
Obedecendo a esses dois aspectos, além de se aprofundar mais no assunto com a teoria devida e com os exercícios, é certo que a coerência e a coesão irão brotar fácil na sua labuta literária. Sem esquecer que a primeira está relacionada com o sentido, com a idéia do que se quer dizer; já a segunda se relaciona com a estrutura do texto, com as partes materializadas em perfeita ordem.
Gustavo Atallah Haun - Professor.

 
DICAS PARA ESCREVER IV

Existem três tipos chamados de textos básicos: a narração, a descrição e a dissertação. Cada um tem suas especificidades, seus objetivos e seu conteúdo próprio. O domínio desse trio textual fará com que o escrevente saiba redigir qualquer redação, em qualquer lugar e momento.
A narração, como o próprio nome diz, narra uma ação, ou seja, conta uma história, através de um narrador [que não tem nada a ver com o autor do texto], e contém como elementos: as personagens [principais(protagonista e antagonista) e secundários], o tempo [quando se passa a história], o espaço [lugar(es) onde se desenrola a narração] e o enredo, que é a espinha dorsal do texto, os fatos ou os acontecimentos, distribuídos estruturalmente em quatro partes: apresentação, complicação, clímax e desfecho. As novelas, os filmes, os contos, os romances, as fábulas, lendas, mitos são exemplos de textos narrativos.
Já a descrição, obviamente, descreve algo, quer dizer, através de um observador, é feito o detalhamento verbal de seres, objetos e lugares. Tem como característica principal fotografar verbalmente o que está sendo descrito, fazer o interlocutor imaginar, ter idéia do que está sendo esmiuçado. É também chamado de texto figurativo. É normal aparecer a descrição no início dos romances ou contos, quando está sendo apresentado o local ou as personagens. Nesse caso, temos um texto misto, uma mistura de narração e descrição.
O texto dissertativo, por sua vez, é um texto opinativo, requer de quem o redige conhecimentos prévios do mundo e espírito crítico, ponto de vista e bom poder de persuasão. A coerência e a coesão são tidas como regras de ouro na dissertação. O conteúdo geralmente é uma idéia, uma tese, uma opinião, um tema da atualidade. Pede-se ao escrevente um espírito debatedor para convencer quem o lê do seu poder de argumentação. É o texto mais cobrado em concursos e vestibulares justamente por oferecer essa necessidade de discussão, de domínio de assuntos, para se ter um aluno antenado, não um agente alienado e passivo da realidade.
Além deles, há entre tantos outros os gêneros textuais em forma de missiva [ou textos epistolares, cartas] e os jornalísticos. No caso em questão, os dois podem ser considerados uma instância superior, além, dos três citados acima, pois aqueles são tipos textuais e não gêneros, já que numa carta podemos narrar um fato, descrever o nascimento de um bebê, opinar sobre a conta de luz que veio alta demais. Assim como podemos escrever uma dissertação em um artigo de opinião para o jornal ou ler uma narração verídica na página policial.
Enfim, seja como for, todos os três textos básicos têm em comum a necessidade do treino e de boas leituras. Sempre! Treinar, ler, pesquisar e escrever é necessário, pois só com o tempo, aprimorando as técnicas, tendo contato com outras grandes redações, o sujeito vai crescer, deslanchar, nessa arte por vezes árdua que é a escrita. Afinal, nenhuma vitória acontece sem esforço, sem dedicação, sem vontade de vencer!
 Gustavo Atallah Haun - Professor.