A Importância da Iniciação Cientifica
INICIAÇÃO CIENTÍFICA E A FORMAÇÃO DO
PESQUISADOR BRASILEIRO (*)
Sérgio Missiaggia – Coordenador do PIBIC no CNPq
Apesar
de bastante jovem a pesquisa brasileira evoluiu bastante nos últimos 40 anos,
quando passou a ocupar destaque na agenda do governo. Antes dos anos 60, as
atividades de pesquisa foram resultado de ações individualizadas, ou de
associações de pesquisadores. É dessa época a criação da Academia Brasileira de
Ciências (1916), a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (1949) e
outras sociedades científicas. As ações governamentais surgiram mais
recentemente, com a criação do CNPq e CAPES, ambas em 1951, e FAPESP, em 1962.
Quanto às nossas universidades, também são bastante jovens, em contraste com as
dos países desenvolvidos, onde elas são instituições centenárias. Embora as
primeiras universidades brasileiras datem de 1912 (UFPR), e 1922 (UFRJ), elas
constituíam, nessa época, um aglomerado de escolas isoladas previamente
existentes. A primeira instituída com as características próprias de uma
universidade, a USP, só veio a ser criada em 1934.
Com o fortalecimento, institucionalização e sistematização das atividades de
investigação científica e de desenvolvimento tecnológico nas universidades e
nos centros de pesquisa, pode-se afirmar que, nos últimos 40 anos, o programa
brasileiro para a formação, treinamento e capacitação de recursos humanos para
ciência e tecnologia foi um sucesso. O Diretório dos Grupos de Pesquisa do CNPq
registra que o país conta hoje com aproximadamente 12 mil grupos de pesquisa,
com cerca de 50 mil pesquisadores, dos quais, 31 mil são doutores. Formamos
hoje 5 mil doutores por ano. Em 1990 formávamos 1 mil. Os grupos de pesquisa
estabelecidos são produtos do processo de formação de pesquisadores, e também,
os centros onde se desenvolve a maioria dos programas de pós-graduação.
A partir da instituição da pós-graduação brasileira, houve também progressivo
crescimento do número de publicações científicas, conforme amplamente divulgado
nos meios de comunicação, e resultados expressivos podem ser citados, tanto na
pesquisa básica como no desenvolvimento tecnológico. Na pesquisa básica, a
biologia dos vetores e dos agentes causais de doenças parasitárias,
biotecnologia (fixação de nitrogênio, particularmente na soja, o que a tornou
competitiva no mercado internacional), química de produtos naturais, e o mais
recente, o projeto Genoma, sucesso reconhecido na comunidade científica
mundial. No desenvolvimento tecnológico, podemos citar as tecnologias para
exploração de petróleo em águas profundas, a microeletrônica e sistemas de
telecomunicações, a automação bancária, o desenvolvimento e produção de
aeronaves de médio porte, hoje em destaque no cenário internacional pela
disputa da EMBRAER com a empresa canadense Bombardier, monitoramento climático
e ambiental via satélite, entre outros.
O sucesso da pós-graduação no Brasil pode ser creditado, em grande parte, à
condição de processo formativo que caracteriza a educação pela ciência. Essa
condição contrasta com um processo educacional informativo que ainda prevalece
na maioria das instituições do País. Esse processo formativo se dá
substancialmente através da iniciação científica, que propicia ao jovem estudante, a oportunidade para um confronto
com uma realidade acadêmica fundamentalmente distinta daquela encontrada na
sala de aula. Esse primeiro confronto oferece ao jovem universitário a
ocasião para, abstraindo-se do processo puramente informativo, praticar o pleno
exercício do raciocínio pela via do método científico. Propicia ainda
oportunidades únicas para o exercício da criatividade científica, satisfação da
curiosidade intelectual, aperfeiçoamento do espírito crítico, aprendizado e
consolidação de outros conhecimentos necessários à complementação da sua
formação. Finalmente, a iniciação científica é o instrumento mais eficaz para
assegurar ao estudante o processo do amadurecimento e da diferenciação
individual, garantindo segurança no domínio dos limites do seu conhecimento.
Tal conjunto de características impõe no jovem egresso desse processo uma
postura amadurecida diante do novo quadro de opções profissionais, quer para
ser pesquisador, quer para exercer a profissão escolhida. A comprovação do
treinamento na iniciação científica passou a ser requerido, nos últimos anos,
como requisito adicional para a seleção de candidatos para os cursos de
pós-graduação, bem como para o mercado de trabalho. Para a pós-graduação, a
iniciação científica exerce impacto decisivo, pois permite a seleção de
candidatos mais amadurecidos, muitos deles dispensando a etapa do mestrado, e
na significativa redução da idade dos titulados, especialmente de doutores.
O CNPq vem investindo na formação de jovens pesquisadores através da concessão
da bolsa de iniciação científica desde a criação da agencia, em 1951. Nessa
época, o número de bolsas era bastante reduzido e atingiam pouquíssimas áreas.
Ficaram estáveis por mais de duas décadas, e, no final da década de 80, tomaram
impulso dentro do CNPq. Porém, a iniciação científica só se tornou
significativa na década de 90, quando foram concedidas cerca de 165 mil bolsas,
373% a mais do que o total de bolsas dessa modalidade concedidas até então.
Desta forma, os anos noventa podem ser caracterizados como a década da
iniciação científica. Papel importante teve o PIBIC nesse processo, pois nos
últimos dez anos, um grande investimento do CNPq foi feito nesse programa. Em
1987, o número de bolsas de iniciação científica era de aproximadamente 4 mil,
concedidas diretamente aos pesquisadores através do sistema conhecido como
“balcão”. Com a criação do PIBIC, em 1990, o número de bolsas aumentou de forma
expressiva, chegando hoje a um total de 19 mil, aqui contempladas as bolsas do
PIBIC e “balcão”, concedidas a 121 instituições de ensino superior e institutos
de pesquisa.
(...)
(...)
Quando se analisa a questão da formação do pesquisador brasileiro, dois
aspectos devem ser observados. O primeiro diz respeito ao tempo médio para
entrada na pós-graduação, que está hoje, em média, em torno de 4,5 anos após
término da graduação. O segundo, é quanto à idade. Para entrada no mestrado,
está em torno de 30 anos, e, para o doutorado, em torno de 35 anos,
significando que estamos formando nossos doutores com aproximadamente 40 anos,
bastante alta quando comparada com a idade média de formação dos
doutores/pesquisadores dos países desenvolvidos, em torno de 30 anos. A
iniciação científica tem contribuído decisivamente para reverter esse quadro.
Em recente processo de avaliação das bolsas de iniciação científica,
verificou-se que os alunos de graduação que fizeram iniciação científica
demoraram, em média, 2 anos para entrarem na pós-graduação após o término da
graduação, situação bastante diferente daqueles que não tiveram esse benefício,
que demoraram mais de 7 anos para entrarem na pós-graduação.
A importância da iniciação científica na formação do pesquisador brasileiro é
inquestionável, mas, quando o CNPq iniciou as primeiras experiências da
concessão de quotas de bolsas às instituições, muitas dúvidas foram levantadas.
Porém, depois de dez anos, ficou caracterizado que o compromisso assumido pelas
instituições foi honrado. Houve um fortalecimento da pesquisa, principalmente
nas instituições das regiões norte, nordeste e centro-oeste. Pró-Reitores de
Pesquisa e Pós-Graduação dessas regiões destacaram alguns benefícios do
programa: a) deu maior estímulo aos pesquisadores já produtivos e criou
ambiente mais propício à formação científica, demonstrando que é possível
realizar com seriedade a pesquisa na graduação; b) instaurou e disciplinou
critérios de apresentação, formulação e avaliação de projetos de pesquisa com a
introdução da avaliação externa; c) dinamizou o entrosamento da graduação com a
pós-graduação e contribuiu para o encaminhamento de alunos mais qualificados
para a pós-graduação, além de ter diminuído o tempo de formação na pós-graduação
e d) aproximou o avaliador do avaliado, dando mais sentido ao trabalho do
bolsista que passou a ser avaliado individualmente nos seminários de iniciação
científica.
(...)
Para os próximos anos, o Programa deve interagir com os programas setoriais do
CNPq, de tal forma que, através de uma ação ordenada, possamos cada vez mais
induzir nossas ações com uma visão das metas a serem alcançadas, fixando
diretrizes e apoiando projetos que venham a beneficiar aquilo que é essencial,
e não apenas interessante ou de importância restrita, de modo a impedir a
pulverização dos financiamentos. Aspecto importante nesse processo será a
oportunidade gerada pelos fundos setoriais. O eixo dessa nova política de
fomento é o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, que
agregará, ao longo dos anos, uma série de fundos específicos. Como já
amplamente divulgado, o primeiro desses fundos em funcionamento, o CTPETRO já
acumulou R$ 155 milhões. Importante ressaltar que 30% dos recursos desses
fundos setoriais serão destinados às regiões norte, nordeste e centro-oeste.
Outro aspecto importante é que 20% desses recursos serão destinados à formação
de recursos humanos, aqui incluída a bolsa de iniciação científica. Cabe a
todos nós, CNPq e instituições envolvidas no PIBIC a responsabilidade de saber
aproveitar essa grande oportunidade, a maior dos últimos anos.
(*) A maioria do texto é baseado em informações, avaliações e dados já
divulgados em outras oportunidades.
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