Tema de Redação: Alimentação
irregular e obesidade no Brasil
11/06/2017 Yuri Costa
(Adaptado)
A partir da leitura dos textos motivadores e
com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija texto
dissertativo-argumentativo em norma padrão da língua portuguesa sobre o
tema: Alimentação irregular e obesidade no Brasil, apresentando
proposta de intervenção, que respeite os direitos humanos. Selecione, organize
e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu
ponto de vista.
Texto
I
Paola Flores, que pede
frango frito em um restaurante de comida rápida na capital da Colômbia, é um
dos milhões de latino-americanos que lutam com a obesidade, uma epidemia que
castiga a região mais duramente do que outras áreas em desenvolvimento no
mundo. Mais de 56% dos adultos latino-americanos estão acima do peso ou obesos,
em comparação com uma média mundial de 34%, de acordo com um relatório do
Instituto de Desenvolvimento do Exterior, divulgado no ano passado.
O problema crescente
costuma afetar principalmente os mais pobres na sociedade, e traz o risco de
sobrecarregar os sistemas de saúde pública da América Latina e reduzir os
ganhos econômicos no longo prazo, dizem os especialistas.
Desde 1991, o número de
pessoas que passam fome na América Latina caiu quase pela metade, de 68,5 milhões
para 37 milhões em dezembro. Embora a região seja a única que está no caminho
certo para atingir as metas da ONU sobre a redução da fome até 2015, muito
menos atenção tem sido dada ao combate à obesidade.
Na década passada, as
economias de rápido crescimento impulsionadas pela expansão no consumo de
matérias-primas, incluindo o México, Colômbia e Brasil, têm visto uma classe
média em ascensão com um gosto por alimentos processados que são mais ricos em
sal, açúcar e gordura. Benefícios em forma de transferências monetárias,
adotados por alguns dos governos de esquerda da região, particularmente o
Brasil, fazem com que as pessoas tenham mais dinheiro para gastar com comida.
Os governos e os programas de nutrição agora precisam se concentrar em garantir
que as pessoas comprem mais alimentos ricos em fibras e proteínas, tais como
frutas e legumes, disseram autoridades da ONU.
A obesidade é a doença
crônica que mais cresce, matando 2,8 milhões de adultos a cada ano. Condições
relacionadas com a obesidade, incluindo diabetes e doenças do coração, agora
causam mais mortes do que a fome, de acordo com o Fórum Econômico Mundial.
“A rápida elevação dos
índices de obesidade na América Latina e no mundo traz enormes desafios sociais
e coloca um grande fardo sobre os indivíduos afetados, bem como a economia e os
sistemas de saúde pública no mundo”, disse Florencia Vasta, especialista na
Aliança Mundial para Melhor Nutrição. Costa Rica, Uruguai e Colômbia
introduziram medidas para promover a alimentação saudável nas escolas, enquanto
o Equador adotou controles na rotulagem de alimentos.(Disponível em:
http://g1.globo.com/bemestar/noticia/2015/02/america-latina-enfrenta-epidemia-de-obesidade-apos-luta-contra-fome.html)
Texto
II
A cada cinco
brasileiros, um está obeso. Mais da metade da população está acima do peso. O
país que até pouco tempo lutava para combater a fome e a desnutrição, agora
precisa conter a obesidade. Por que a balança virou?
Indicadores apresentados
na segunda-feira pelo Ministério da Saúde mostram que, nos últimos 10 anos, a
prevalência da obesidade no Brasil aumentou em 60%, passando de 11,8%, em 2006,
para 18,9%, em 2016. O excesso de peso também subiu de 42,6% para 53,8% no
período.
Os dados são da Pesquisa
de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por
Inquérito Telefônico (Vigitel), com base em entrevistas realizadas de fevereiro
a dezembro de 2016 com 53.210 pessoas maiores de 18 anos de todas as capitais
brasileiras.
Especialistas ouvidos
pela BBC Brasil atribuem o aumento de peso dos brasileiros a fatores econômicos
e culturais, mas também genéticos e hormonais.
A endocrinologista
Marcela Ferrão também atribui a baixa qualidade do sono como um dos fatores
para o aumento da obesidade. Segundo ela, a sociedade acelerada e conectada faz
com que as pessoas não tenham horário para dormir.
“À noite, a serotonina,
que é o hormônio do humor, converte-se em melatonina, responsável pelo sono
reparador. Nesse estágio do sono, as células conseguem mobilizar gorduras de
forma adequada”, explica.
Mas não tem sido fácil
chegar a esse estágio do sono quando a tensão e o estresse estão cada vez mais
intensos, a pessoa não consegue desligar o celular e acorda várias vezes
durante a noite. “Isso gera desequilíbrio hormonal e faz com que a pessoa
acorde ainda mais cansada”, conclui Ferrão.
Um último ponto
destacado pelos especialistas para o aumento da obesidade no Brasil é a falta
de acesso a uma dieta diversificada, o que depende menos de poder aquisitivo do
que de educação alimentar.
Nesse sentido, o Guia
Alimentar para a População Brasileira se destaca entre as políticas do
Ministério da Saúde para enfrentar a obesidade. A publicação oferece
recomendações sobre alimentação saudável e consumo de alimentos in natura ou minimamente processados,
mas vai além: coloca a hora da refeição no centro de uma discussão sobre
convivência familiar e gestão do tempo.
“Os alimentos
ultraprocessados são muito consumidos pela população jovem porque são práticos.
Outro problema é o comportamento alimentar. É muito comum as pessoas comerem
rápido, sozinhas e com celular na mão. Estudos mostram que comendo com família
ou amigos, a pessoa presta mais atenção no que está comendo”, diz a
coordenadora-geral de Alimentação e Nutrição do Ministério da Saúde, Michele
Lessa de Oliveira.
O crescimento da
obesidade é um dos fatores que podem ter colaborado para o aumento da
prevalência de diabetes e hipertensão, doenças crônicas não transmissíveis que
pioram a condição de vida do brasileiro e podem até levar à morte.
O diagnóstico médico de
diabetes passou de 5,5%, em 2006, para 8,9%, em 2016, e o de hipertensão de
22,5%, em 2006, para 25,7%, em 2016, conforme a Vigitel. Em ambos os casos, o
diagnóstico é mais prevalente em mulheres.
“A obesidade é a mãe das
doenças metabólicas. Além da diabetes, que apresenta mais de 20 fatores de
comorbidade (doenças ou condições associadas), obesos infartam mais e até
câncer é mais prevalente em pessoas acima do peso”, destaca o diretor do Centro
de Obesidade da PUCRS, Cláudio Mottin.(Disponível em: http://g1.globo.com/bemestar/noticia/por-que-ha-uma-explosao-de-obesidade-no-brasil.ghtml)
Texto
III
Entrevista da BBC BRASIL com o endocrinologista brasileiro Walmir
Coutinho, que preside a World Obesity Federation
BBC Brasil – O que significa ter metade das crianças pequenas brasileiras comendo
bolachas e boa parte delas bebendo refrigerante e suco artificial?
Coutinho – Esses dados dão a medida de uma tendência que outros estudos já haviam
mostrado. O consumo excessivo de alimentos e bebidas pouco saudáveis hoje é um
problema seríssimo no Brasil. E, se continuarmos nesse ritmo de crescimento da
obesidade, seremos o país com mais obesos do mundo em 15 anos.
BBC Brasil – Olhando o lado da alimentação da criança brasileira, quem são os
principais vilões atualmente?
Coutinho – Há os vilões invisíveis, especialmente suco de fruta artificial e
iogurte. O pai e a mãe acham que estão dando algo saudável para as crianças,
mas são produtos que tem muitíssimo açúcar. Fora isso, é preciso lembrar que os
alimentos mais baratos são os que mais engordam.
BBC Brasil – E como isso é prejudicial?
Coutinho – É um fenômeno chamado de transição nutricional, em que as pessoas que
conseguem superar a falta de alimentos começam a ter acesso aos produtos mais
baratos, que costumam ser altamente industrializados. Sair do supermercado com
saquinho de batata frita, salgadinhos, biscoitos e chocolates é mais barato do
comprar frutas e verduras. A população de baixa renda também costuma ter menos
tempo e infraestrutura para praticar atividade física.
BBC Brasil – Quais os principais impactos em alguém que passa pela infância sendo
obeso?
Coutinho – O impacto na saúde da criança é mais conhecido. A obesidade traz
problemas graves como hipertensão arterial muito alta, problemas
osteoarticulares em partes do corpo como joelho, coluna e tornozelo, além de
asma e diabetes. Mas também há o lado psicológico, que muitas vezes é
subvalorizado. As pessoas não se dão conta do impacto psicológico de apelidos
dados a essas crianças, do isolamento em que elas vivem e de estereótipos como
o menino gordinho que só pode jogar no gol, por exemplo. São situações que
causam traumas que podem ser levados para a vida adulta. (Publicação em 26.8.15)
Texto IV
“Desde que o
pânico sobre o aumento de peso da população emergiu na década de 1990, essa
visão negativa das pessoas gordas tem se intensificado”, diz a socióloga
australiana Deborah Lupton, professora da Universidade de Sydney e autora de
Fat (“Gordo”, não lançado no Brasil). O livro, publicado em 2012, analisa como
tem se espalhado um estigma sobre os cidadãos acima do peso, “vistos como
pessoas gananciosas, sem autocontrole, desorganizadas, até grotescas”.
Na TV, gordos
são ridicularizados, sofrendo para fazer dieta e exercitar-se em frente às
câmeras. Fala-se de uma “epidemia de obesidade”, e gordos recebem olhares de
desaprovação, como se fossem emissários da peste negra. Companhias aéreas e
marcas de roupas penalizam seus clientes mais pesados. No Brasil, o sobrepeso
virou critério de seleção em concursos públicos e se transformou em nota de
corte no mercado de trabalho – em uma entrevista, o publicitário e apresentador
de TV Roberto Justus decretou que não se deve contratar quem está acima do
peso, pois isso seria um sinal inequívoco de desequilíbrio e falta de
inteligência. “Muitas campanhas contra a obesidade acabam envergonhando a quem
deveriam ajudar, além de incitarem o ódio à gordura”, diz Deborah.
Para ficar bem
claro: gordura corporal em excesso é, sim, um perigo. “Uns 30% dos obesos podem
ter um perfil metabólico e cardiovascular dentro da normalidade. Mas estudos
mostram que pacientes com IMC (Índice de Massa Corporal, ou peso dividido pela
altura ao quadrado) superior a 30 sempre têm risco aumentado para doenças
cardíacas, vasculares, diabetes e câncer”, diz o endocrinologista Lício Veloso,
professor da Unicamp e pesquisador de mecanismos da obesidade. (Disponível em
http://super.abril.com.br/ciencia/onde-os- gordos-nao- tem-vez)
Texto V
A gordofobia é
uma forma de discriminação estruturada e disseminada nos mais variados
contextos socioculturais, consistindo na desvalorização, estigmatização e
hostilização de pessoas gordas e seus corpos. As atitudes gordofóbicas
geralmente reforçam estereótipos e impõem situações degradantes com fins
segregacionistas; por isso, a gordofobia está presente não apenas nos tipos
mais diretos de discriminação, mas também nos valores cotidianos das pessoas.
Uma das maiores
dificuldades ao se enfrentar a gordofobia está na própria resistência social de
reconhecer esse preconceito. Isso acontece porque é considerado aceitável
intimidar e censurar quem é gordo, fazer observações constrangedoras sobre o
que a pessoa gorda está comendo e utilizar todos esses comportamentos
intrusivos como justificativas para uma falsa preocupação com a saúde do
indivíduo.
Mas mesmo a
própria preocupação com a saúde de quem é gordo já demonstra indícios de
gordofobia, uma vez que se assume que aquele sujeito tem problemas de saúde só
por ser gordo, enquanto pessoas magras não são abordadas e questionadas a
respeito de seus níveis de colesterol, por exemplo. Acontece que,
culturalmente, quem é magro é visto inicialmente como saudável, independente de
outros fatores. (Fonte:
http://www.revistaforum.com.br/digital/163/gordofobia-como-questao-politica-e-feminista/)