domingo, 2 de outubro de 2011

O PROFESSOR

Uma imensa castanheira. Dessas seculares e tão maravilhosamente descritas por um escritor de pena sensível ou por um fotógrafo de lentes cautelosas, numa quinta fértil e airosa nas serras bucólicas.
Uma árvore robusta, forte, imperial. Que nasce do grão ínfimo e cria raízes fundas, que são os motores trabalhadores. Raízes essas sempre escondidas, sem alardes, pois estão soterradas e não podem ser vistas. Ao mesmo tempo, essas partes que labutam são a sustentação de todo o resto. O equilíbrio para futuras ventanias e inundações. Profundas, invisíveis e fundamentais são elas que se fixam na terra, criando caminhos e retirando a seiva para a sobrevivência do que está no exterior.
Depois vem a haste, que quando jovem é roliça, fina e tem venturas em se destacar logo para que sua copa alcance um lugar ao sol. O corpo que ao passar dos longos anos de crescimento, vai se alargando, avolumando-se, criando fendas de experiências, os sulcos enigmáticos que perpassam por todo ele. E, de repente, algo majestoso, incrivelmente imortal se avizinha dos que o admiram e o abraçam. O tronco respeitoso, viril.



Por fim, a sua imensa colpada ofertando sombra aos passantes da estrada, errantes do vaivém da vida, enquanto a imensa planta fincada no seu solo lhe serve de abrigo. Também ofertando frutos aos sedentos e esfomeados. Frutos muitas vezes abstratos, compondo a cadência espiritual dos necessitados. Outros, concretos e fartos, aspirando esperanças no porvir. A sublime árvore que se destaca de todo o resto porque é o seu dom, a sua existência e a sua vontade.
Muitas vezes vingada em terrenos inclinados, impróprios e secos. Mas, ainda assim, conservando o seu viço e a sua missão. Noutras, sem regalias, sem a abundância da sua característica primária: viver livre, sem pesares. Por vezes ainda abandonada, sem ter quem saboreie das suas ofertas, largada ao léu, sem nenhuma sorte de encontros fortuitos ou casuais com amantes em espreita.
No coração febril dessa amendoeira, entretanto, por toda a eternidade a imperiosa necessidade de ser única, exemplar e imorredoura. Do contrário, terá vivida em vão, como uma erva daninha ou uma herbácea comum, que cresce sem horizontes, que existe por estar ali e não serviu nem para dar sombras, nem para matar a fome e a sede dos muitos que encontrou na sua trajetória pensada como milagre dos deuses.
Gustavo Atallah Haun – Professor

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