terça-feira, 10 de janeiro de 2012

A ARTE PELA ARTE


O que é arte? Para que serve arte? Qual a função social da arte, se é que ela tem alguma? Como distinguir o que é belo para cada pessoa? Essas e muitas outras questões povoam a cabeça de professores, artistas e críticos pelo mundo. Uma reflexão séria sobre o assunto é cada vez mais escassa nos meios de comunicação. Aliás, os textos que versam sobre alguma obra artística, hoje em dia, não passam de releases pré-moldados, nada mais tem que ver com uma crítica, uma apreciação de valor.
A verdade é que a arte, seja ela qual linguagem for, é para poucos. Mas também ela tem, e deve, sobreviver. E isso ela só consegue através da comercialização dos seus produtos, assim como todos os outros no sistema capitalista. Como fazer um bom livro, peça, filme, e ao mesmo tempo ser vendável? Como conciliar os dois, muitas vezes postos em extremos? É claro que o ideal seria que todas as obras de arte fossem de alta qualidade e ao mesmo tempo consumidas pelas massas.
No entanto, isso não acontece. Um músico como Caetano Veloso, tido como bom, não passa de 200 mil cd’s vendidos a cada lançamento. Já músicos como Amado Batista, tido como brega, batem recorde de milhões de cd’s vendidos. Por que será? A população tem gosto chulo? O popular também é arte? Ou a arte que está vivendo em guetos, elitizada?
Pode-se ampliar a reflexão para o cinema: o brasileiro e o hollywoodiano, para ficar só nesses dois. Aqui no Brasil a média de criação de filmes não deve passar de vinte, trinta, longas-metragens por ano. Mas dessa quantidade, é possível extrair uns dez que sejam de bons a excelentes. Em Hollywood a média de filmes passa de 600 longas por ano, de orçamentos milionários, tirando 15, 20, que prestam. A média daqui é muito melhor, muito superior. Porém, não é vista, não é cultuada. Assistimos a todas as quinquilharias feitas nos EUA, as mídias televisivas nos impõem goela abaixo, no mais das vezes.
Até meados do século XX, tínhamos três grandes escritores cultuados no mundo: Jorge Amado (o mais lido), Guimarães Rosa (para muitos, merecedor do Prêmio Nobel de Literatura) e Clarice Lispector. Um trio de respeito de artistas literários que nos representava com orgulho e galhardia. Hoje, vemos a ascensão de Paulo Coelho como representante da nossa escrita planeta afora. A classe média européia se rendeu ao mago, ao exótico dos trópicos. E ele escreve literatura? Escreve bem? Começa por aí... E termina em altas vendagens como paradoxo!
Sem falar em escultura, dança, fotografia, artes plásticas...
Enfim, enquanto alguns tentam mostrar para os incautos de que há salvação, como apregoava alguns estetas, como Sartre e Schopenhauer, através da arte, da velha e boa arte, criando catarse e sublimando a existência, seguimos na nossa pacata província, nesse pedacinho de chão do sul da Bahia, acreditando que um dia a arte não será elaborada apenas pela arte, e sim para a consumação de saberes e sabores, como diz o poeta Jorge Araújo.
Gustavo Atallah Haun - Professor.

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