Mesmo que você não faça UNICAMP, tire as suas dúvidas gerais sobre Redação. |
1. É permitido escrever com letra de
forma?
Sim. O importante, para a Banca de
Correção, é que o texto do candidato seja legível. A única coisa que precisa
fazer é distinguir as maiúsculas das minúsculas.
2. Até que ponto conta a ortografia?
A ortografia, assim como os demais
aspectos da correção gramatical, é avaliada no item “adequação à modalidade
escrita”, um dos itens nos quais se baseia a correção das redações do
Vestibular/Unicamp. Esses itens, divulgados e comentados no Manual do
Candidato/99, são os seguintes: Adequação ao Tema e ao Tipo de Texto, Adequação
à Coletânea, Adequação à Modalidade, Coerência e Coesão. Na composição da nota
total atribuída ao candidato, a ortografia não é, portanto, supervalorizada. O
mesmo vale para os aspectos relativos às questões de flexão e concordância
verbal e nominal, regência, pontuação.
3. É permitido usar corretor líquido
ou escrever a lápis?
Não, o candidato não pode usar corretor
líquido. Quanto a escrever a lápis, é admissível apenas no rascunho. A prova
deve ser feita com caneta azul ou preta.
4. Quais são os critérios para se
estabelecer que o candidato não se adequou ao tema?
Uma vez elaborados os temas (A, B e C), a
Banca Elaboradora prepara uma detalhada orientação para a Banca de Correção,
explicando as expectativas de desenvolvimento dos temas propostos. Desta
orientação faz parte a explicitação dos casos que devem ser considerados “fuga
total ao tema proposto”. Nos dois primeiros dias que se seguem à realização da
prova, a Banca de Correção dedica-se à leitura atenta de uma amostra das
redações, criteriosamente constituída, com o objetivo de verificar o rendimento
dos candidatos em cada um dos temas propostos. Somente após a leitura e
discussão dessas amostras é que são definidos os critérios definitivos para a
avaliação do que deve ser considerada uma redação “fora do tema”. Todas as
redações são corrigidas por dois avaliadores, que constituem as duplas de
correção. No sentido de garantir que nenhuma redação seja anulada
indevidamente, todos os casos de anulação são submetidos a uma terceira
correção.
5. (a) Até que ponto a subjetividade
de quem corrige influi na nota? (b) Não é verdade que, se a opinião do
candidato for mais “senso comum”, sua argumentação parecerá mais forte?
(a) Todo o trabalho de treinamento
dos corretores, realizado anualmente a partir do início de outubro, tem por
objetivo garantir uma compreensão consensual dos critérios de correção já
mencionados, e também uma atribuição homogênea de pontos em cada um dos seis
itens de correção. Esse treinamento para utilização da grade de correção
– que detalha os parâmetros para atribuição de pontos por item – garante uma
avaliação o mais objetiva possível das redações, da qual fiquem eliminados
critérios subjetivos que possam vir a prejudicar os candidatos.
(b) Não. Não é verdade que uma
opinião mais “próxima do senso comum” faz com que a argumentação do candidato
pareça mais “forte”. Espera-se, na verdade, que os candidatos expressem sua
opinião sincera a respeito das questões propostas nos temas. Nesse
sentido, é importante deixar claro que os corretores são preparados para
avaliar os textos dos candidatos e pontuá-los estritamente de acordo com a
grade de correção, sem considerações de ordem ideológica. Os candidatos não têm
motivos, portanto, para tentar adivinhar qual seria a opinião ou quais seriam
os argumentos “preferidos” pelas Bancas de Elaboração e Correção da Redação.
Muitas vezes, a tentativa de “agradar” aos corretores pode levar o candidato a
produzir um texto pior do que o que seria capaz de elaborar expressando sua
opinião sincera sobre o assunto.
6. Há um número mínimo ou máximo de
linhas para redação?
Espera-se que os candidatos não escrevam
menos de 20 linhas nem ultrapassem em muito as 60 linhas. Isso não significa,
no entanto, que textos com menos de 20 linhas não sejam corrigidos. Não se
espera também, que o candidato interrompa bruscamente o texto após
ultrapassadas, eventualmente, as 60 linhas. A Banca não estimula,
evidentemente, a prolixidade, que em nada contribui para a qualidade dos
textos. Por outro lado, na medida em que também se procura avaliar, nas
redações, a capacidade do candidato de selecionar elementos relevantes para o
desenvolvimento do seu texto, ele não deverá deixar de usar elementos que
considere significativos, apenas pelo fato de já ter ultrapassado 60 linhas. (Detalhe: a UNICAMP utiliza 60 linhas, mas
o padrão dos vestibulares e concursos são 30)
7. Quantos elaboram os três temas e
quantos corrigem as redações?
Os temas são elaborados por uma banca
constituída de cinco pessoas. As redações são corrigidas por 100 corretores,
orientados por monitores cujo trabalho é diretamente supervisionado pela
Presidência da Banca. Os Corretores são organizados em “duplas de correção”. As
duplas de correção são secretas, ou seja, os dois corretores de uma mesma dupla
não sabem que formam uma dupla. Isso garante que sejam feitas duas leituras
independentes de cada redação, sem que a avaliação de um corretor interfira na
avaliação do outro membro da dupla. Nos casos de notas consideradas divergentes,
segundo critérios estatísticos, submete-se a redação a uma terceira correção.
8. Qual o perfil de quem elabora a
prova? Eles fazem o quê?
Os membros da Banca de Elaboração são
professores de Língua Portuguesa e Literatura, com grande prática de trabalho
de docência e pesquisa nas áreas de leitura e produção de textos. Atuam
profissionalmente na Universidade e no ensino médio.
9. Usar gírias ou palavras de uso
coloquial consideradas incorretas do ponto de vista gramatical tira muitos
pontos? Quantos?
O uso de gírias e da linguagem coloquial
será avaliado em função do tema escolhido pelo candidato. Essas escolhas podem
ser inadequadas, por exemplo, para um texto dissertativo. Já quando utilizadas
com propriedade em um texto narrativo, onde podem contribuir, por exemplo, para
a caracterização de determinada(s) personagem(ns) podem ser perfeitamente
adequadas.
Quando utilizadas inadequadamente, as
gírias e expressões típicas da linguagem coloquial serão avaliadas segundo critérios
estabelecidos na grade de correção, para atribuição de pontos ao item “adequação
à modalidade escrita”.
Os candidatos não devem tentar sofisticar
artificialmente sua linguagem escrita, no entanto, utilizando palavras ou
expressões cujo significado não dominem. Quando dizemos que um texto
dissertativo deve apresentar uma linguagem escrita formal, nossa expectativa é
apenas a de que esse grau de formalidade seja compatível com a linguagem
esperada de um bom texto escrito por um jovem que concluiu o ensino médio.
10. Um texto original ganha ou perde
pontos?
As redações não são corrigidas e
pontuadas segundo critérios de “originalidade” ou “criatividade”, uma vez que é
impossível introduzir tais critérios em uma grande correção, sem prejudicar a
atribuição objetiva de pontos aos candidatos. Todavia, aquelas redações que se
destacam do ponto de vista da elaboração mais sofisticada levará o candidato a
receber o número máximo de pontos nos itens em que sua redação apresentar
grandes qualidades. Assim, um texto excelente do ponto de vista do
desenvolvimento do tema proposto, receberá necessariamente a pontuação máxima
prevista nos itens “adequação ao tema”, “adequação à coletânea” e “coerência”.
Um texto excepcional do ponto de vista da elaboração formal, receberá pontuação
máxima nos itens “adequação à modalidade” e “coesão”. Um texto excepcional em
termos de elaboração formal e de conteúdo receberá nota máxima em todos os
itens. Esses textos são, evidentemente, os mais “originais” e “criativos”.
11. Qual o critério de escolha dos temas?
Ao elaborar os temas, a Banca de
Elaboração leva em conta principalmente os objetivos específicos da prova de
redação. Assim, para que o candidato tenha a possibilidade de mostrar se possui
as habilidades definidas no perfil do aluno ideal da Unicamp, todos os
três temas devem permitir que ele faça um exercício de leitura, seleção de
informação e elementos relevantes, estabelecimento de relações e elaboração de
hipóteses. É por esse motivo que temas atuais são utilizados na elaboração do
tema dissertativo (A) e no tema argumentativo (C). A Banca pressupõe que o
candidato bem informado tenha melhores condições de lidar com temas atuais
acompanhados de uma coletânea representativa de algum assunto relevante e/ou
polêmico que tenha merecido destaque nos órgãos de divulgação. Quanto ao tema
narrativo (B), a Banca não espera do candidato que ele simplesmente
escreva uma história, mas sim que ele demonstre a capacidade de lidar com os
elementos que caracterizam o texto narrativo (personagens, cenário, tempo da
narrativa, foco narrativo), e de integrá-los ao enredo sugerido pelo tema e
coletânea proposto. Assim, ao elaborar um tema narrativo, a Banca preocupa-se
em fornecer ao candidato elementos que permitam que sua redação seja um
exercício comparável ao que se espera nos temas dissertativo e argumentativo.
12. Se o estudante fugir do tema, mas
tiver um texto considerado “brilhante” pela Banca, ele perde pontos?
Sim. Infelizmente uma redação “brilhante”
mas que fuja totalmente ao tema proposto será anulada. Esses casos de
anulação justificam-se perfeitamente dados os objetivos da prova de redação.
Ela não é apenas um exercício de escrita, mas sim de leitura escrita. O
candidato que fugir totalmente ao tema estará demonstrando, de forma
inequívoca, que não foi capaz de compreender minimamente as instruções dadas
para o desenvolvimento do tema que escolheu.
Vale lembrar, no entanto, que é
praticamente impossível ser um excelente escritor sem possuir habilidades
mínimas para leitura. A Banca de Correção das redações do Vestibular/Unicamp
não tem registros de casos como o mencionado na pergunta, ou seja, de redações
“brilhantes” que não tenham desenvolvido o tema proposto.
13. O recomendável é que se faça
primeiro a redação ou a deixe para depois de já ter resolvido todas as
questões?
Essa escolha é do candidato,
evidentemente. Só ele pode planejar bem o uso das quatro horas de que dispõe
para a realização da prova, em função do investimento que se sinta em condições
de fazer na redação e/ou nas questões. O candidato deve ler cuidadosamente
os enunciados dos temas propostos e das questões. Esse momento de leitura não é
de forma alguma uma perda de tempo. Pelo contrário: a leitura bem feita
e atenta é já um momento de elaboração da redação e das respostas às questões.
As Bancas de Correção de Redação e Questões têm observado, ao longo dos anos,
que por trás de muitos dos erros dos candidatos costuma estar uma leitura
apressada e mal feita dos temas ou enunciados das questões. O conselho mais
valioso que a Comissão de Vestibulares da Unicamp pode dar aos vestibulandos é
o seguinte: leiam com a máxima atenção os enunciados dos temas e das
questões!
14. É admissível citar trechos da
coletânea?
Sim, na medida em que tal citação não
resulte em mera colagem de fragmentos em um texto desarticulado, o que
fatalmente geraria graves problemas de coerência e coesão. Quaisquer citações
deverão estar integradas ao texto do candidato, sem prejuízo para sua
articulação interna, portanto.
15. Se na tentativa de fundamentar sua
argumentação o estudante citar dados incorretos, ainda que pertinentes, ele
perde pontos?
Não necessariamente. Se, por exemplo, ao
desenvolver um tema sobre a situação do menor no Brasil, o candidato fizer
referência incorreta a dados estatísticos ou a outras informações específicas
semelhantes, ele não perderá pontos, se a menção a esses dados for pertinente
no texto. Se, por outro lado, ele partir do pressuposto de que não há um número
significativo de menores abandonados no país, perderá, evidentemente, muitos
pontos no item “coerência”, uma vez que estará demonstrando total
desconhecimento do mundo em que vive.
16. Quanto tempo o candidato deve
reservar para a redação?
Assim como já se mencionou na resposta à
pergunta 13, cabe ao candidato distribuir bem o seu tempo, depois de ter lido a
prova na íntegra, e com atenção. Só após ter escolhido o tema da
redação e avaliado quantas das questões ele tem condições de responder é que o
candidato deverá decidir quanto tempo poderá investir em sua redação sem
prejuízo para as questões. É bom lembrar que a prova da 1ª fase da Unicamp não
é constituída apenas de uma redação, e que um bom trabalho de resolução das
doze questões propostas em muito contribui para que o candidato seja aprovado
para a Segunda fase do vestibular.
17. A Redação correspondia a
62,5% da prova e as questões valiam 37,5%. A Unicamp concluiu que era exagerado
o peso da Redação?
Depois de alguns anos reavaliamos esse
peso, concluímos que o recado sobre a importância da Redação estava dado, não
havendo risco de as pessoas voltarem atrás, e tomamos a decisão de alterá-lo,
de forma a criar mais equilíbrio na 1ª fase. Ficamos com 50 e 50. Hoje, é como
se tivéssemos na 1ª fase do vestibular duas provas no mesmo dia, como ocorre
nos quatro dias de prova da 2ª fase. A partir daí é possível imaginar que o
candidato distribui melhor o seu tempo para fazer os dois componentes da prova.
Essa decisão foi amadurecida na Câmara Deliberativa e tomada no momento em que
se achou que ela deveria e poderia ser tomada. E o que observamos é que o
trabalho com Redação continua nas escolas que haviam entendido a mensagem.
Porque estou dando este exemplo? Por que
qualquer outra modificação que venha a ser proposta, que tenha por base maior
flexibilidade para as universidades pensarem seus exames, deverá também ser
fruto de discussão na Câmara Deliberativa – e não poderá ser uma discussão
irresponsável. É algo que precisa ser feito com responsabilidade. Decisões
devem ser tomadas no momento em que efetivamente os membros da Câmara se sintam
suficientemente informados para fazer alguma mudança. E mais: sintam que
qualquer mudança de fato se justifique do ponto de vista de instituição. O tipo
de seleção que se faz tem de corresponder às características de cada
universidade, às exigências e ao nível de demanda dos cursos.
(Respostas fornecidas pela Banca
Elaboradora da prova de redação do vestibular Unicamp e as perguntas foram elaboradas
pelo jornal Folha de S. Paulo. Jornal Análise & Informação - Tendências do
Vestibular n.º 80 Ed. Agosto 1998)
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