Atualizado:
05/11/2012 02:02 | Por estadao.com.br
'Fator surpresa' pode baixar as
notas da redação, afirmam especialistas
O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2012 terminou
ontem com incidentes pontuais e uma surpresa - no último dia, os 4,17 milhões
de candidatos que participaram dos dois dias de exame tiveram de escrever uma
redação sobre movimentos de imigração no Brasil no século 21. O tema foi
considerado inesperado e difícil e professores consultados pelo Estado
afirmaram que a complexidade pode resultar em queda média do desempenho dos
alunos.
Os candidatos enfrentaram ontem, além da redação, as provas
de português e matemática. No sábado, foi a vez de Ciências Humanas e da
Natureza. Segundo balanço divulgado ontem pelo ministro da Educação, Aloizio
Mercadante, a taxa de abstenção, de 27,9%, foi praticamente a mesma do ano
passado (27,6%). Os problemas maiores se concentraram na internet (mais
informações na página A17).
Ontem, na porta da maior parte dos locais de prova, o tema
da redação era o principal assunto. "Eu me preparei para temas como
violência, política, Código Florestal e não esperava isso. Fiquei limitado ao
que tinha na proposta", diz o estudante Marcus Santos, de 19 anos.
A proposta para a redação trazia uma coletânea com
informações sobre imigrantes do Haiti, que chegam ao País pelo Acre, e da
questão dos bolivianos no Brasil. Também havia menção ao movimento de migração
dos séculos 19 e 20.
Para o professor Rogério Chociay, aposentado do departamento
de Letras da Unesp e especialista em redação de vestibular, é possível que haja
queda no desempenho dos estudantes com relação ao ano anterior - em que o tema
era internet. "Há uma quebra de expectativa com relação ao ano passado. O
tema está um tanto fora do eixo da maioria dos estudantes e além disso não há
informações precisas se há de fato um movimento migratório", diz ele.
"A proposta é perigosa pelo número de dúvidas. Ele ficou dependente dos
textos de apoio e isso complica."
Nilson José Machado, professor da faculdade de Educação da
USP, diz que os textos de apoio do Enem têm se mostrado limitadores e
repetitivos. "Talvez fosse mais razoável se fossem colocados textos com
claras referências teóricas à tolerância, por exemplo, que textos que reiteram
casos particulares."
O diretor pedagógico da Oficina do Estudante, Célio
Tasinafo, elogiou a escolha do tema. "É um assunto atual e relevante, que
obriga o aluno a refletir sobre questões sociais e políticas", diz.
No entanto, ele reconhece que a proposta pode ter ficado distante
da realidade da maioria dos vestibulandos. "Pela lógica, a nota média da
redação tende a ser um pouco menor que a do ano passado. Mas outro fator que
pode alterar esse quadro é o fato de que a correção neste ano será mais
criteriosa."
Para Caroline Andrade, do Cursinho da Poli, a proposta
trouxe um tema que surpreendeu. Ela afirma que o "fator surpresa", no
entanto, pode atrapalhar o rendimento. "O inesperado pode causar
insegurança e fazer com que a pessoa não consiga construir uma argumentação consistente",
diz.
Simone Motta, professora de redação do Etapa, argumenta que
o tema segue a proposta do exame, de trazer um assunto atual à tona. "Pode
ter sido uma escolha menos trivial, mas não foge à regra." Para ela, a
coletânea apresentada foi muito eficaz ao apontar os principais movimentos
migratórios.
O coordenador-geral do Anglo, Luís Ricardo Arruda, diz que
essa problemática é conhecida por quem se informa. Mas ele também afirma que a
nota média deve cair. "O Enem vai se aproximando de um vestibular. E para
isso tem de ser seletivo mesmo."
O que ainda precisa de amadurecimento, diz Tasinafo, da
Oficina do Estudante, é a prova de Linguagens. "Os textos continuam muito
longos. O candidato chega à metade da prova cansado".
Já a de matemática recebeu elogios. "Os enunciados eram
curtos e muito bem elaborados", disse Marcelo Dias Carvalho, do Etapa. /
DAVI LIRA, CARLOS LORDELO, CRISTIANE NASCIMENTO, OCIMARA BALMANT e PAULO
SALDAÑA.
Vou dar meus palpites sem ler a prova.
ResponderExcluirFiquei surpresa com o tema proposto para a redação e um tanto difícil.
Textos longos não são sinônimos de questões bem elaboradas. São cansativos, até mesmo quem tem o hábito de ler.
Os estudantes devem ter se sentido muito pressionados e frustados depois da prova.
E isto tem o lado bom e ruim. Forçam os alunos estudarem mais o ano que vem, ao mesmo tempo em que ficam mais desmotivados com os estudos.