'Queria testar a correção
do Enem', diz jovem que pôs receita na redação
Candidato
ganhou nota 560 após escrever um parágrafo sobre o Miojo.
MEC diz que ele foi penalizado
por fugir ao tema, mas não anula o texto.
Paulo Guilherme
Do G1, em São Paulo
Um candidato inseriu uma
receita de macarrão instantâneo no meio da redação do Exame Nacional do Ensino
Médio (Enem) e obteve 560 pontos na prova (a nota máxima é 1.000 pontos). O
estudante postou a prova no seu perfil do Facebook junto com as justificativas
dos corretores do exame com o comentário “Bela avaliação”. O caso foi destacado
na edição desta terça-feira (19) do jornal "O Globo".
Em entrevista ao G1, o estudante mineiro Carlos Guilherme Ferreira,
de 19 anos, disse que escreveu um parágrafo com a receita “para testar o novo
sistema de avaliação do Enem”.
A redação foi considerada
"adequada" pelos corretores do Enem. Segundo o MEC, o texto não
apresentou discrepância de nota acima de 200 pontos entre os dois corretores e
não precisou ir para um terceiro corretor.
"Acho que vendo essa redação, esse ano a correção vai ser ainda mais
rigorosa e isso é bom né"
Carlos
Guilherme Ferreira, autor da redação
A redação tem os dois primeiros
parágrafos dissertando sobre o tema "Movimento imigratório para o
Brasil no século 21".. Em seguida, o texto diz: "Para não ficar muito
cansativo vou agora ensinar a fazer um belo miojo, ferva trezentos mls de água
em uma panela, quando estiver fervendo coloque o miojo, espere cozinhar por
três minutos, retire o miojo do fogão, misture bem e sirva." O texto
termina com mais um parágrafo sobre o tema da imigração.
"Escrevi a receita para
testar o novo método de avaliação dos corretores, já que falaram que em 2012
seria diferente, a prova passaria por três corretores diferentes", afirma
Ferreira. Ele explica que se inscreveu no Enem quando estava sem estudar, mas
no meio do ano entrou no curso de engenharia civil do Centro Universitário
Lavras (Unilavras), e resolveu fazer o exame do MEC sem muito compromisso.
Redação com receita do macarrão instantâneo recebeu nota 560 no Enem (Foto: Reprodução/Facebook) |
O jovem espera que com a
repercussão de sua redação inusitada, os critérios para o próximo Enem sejam
mais rigorosos. "Acho que vendo essa redação, esse ano a correção vai ser
ainda mais rigorosa e isso é bom né?"
A redação do Enem deve
obedecer cinco competências previstas no edital. A realização da prova de
redação deveria cumprir as exigências de cinco competências determinadas no
edital do MEC:
1ª competência: Demonstrar domínio da norma
padrão da língua escrita.
2ª competência: Compreender a proposta de
redação e aplicar conceitos das várias áreas de conhecimento para desenvolver o
tema dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo.
3ª competência: Selecionar, relacionar,
organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de
um ponto de vista.
4ª competência: Demonstrar conhecimento dos
mecanismos linguísticos necessários à construção da argumentação.
5ª competência: Elaborar proposta de
intervenção para o problema abordado, respeitando
Na correção, o estudante
recebeu 40 pontos de um total de 200 na competência V: “Elaborar proposta de
intervenção para o problema abordado, respeitando os direitos humanos”. Segundo
a correção da prova, o candidato atingiu 20% da Competência 5, atendendo aos
critérios definidos a seguir. O participante elabora proposta de intervenção
tangencial ao tema ou subentendida no desenvolvimento da argumentação.
“Não cabe dizer que o participante teve a intenção de anular sua
redação, uma vez que dissertou sobre o tema e não usou palavras ofensivas.”
Nota do
Ministério da Educação
Em nota, o Ministério da
Educação alegou que "o texto, em sua totalidade, não fugiu ao tema, e não
feriu os direitos humanos. Tampouco cabe dizer que o participante teve a
intenção de anular sua redação, uma vez que dissertou sobre o tema e não usou
palavras ofensivas".
Ainda segundo a nota, "o
participante dissertou sobre o tema sugerido, obtendo nota final (560 pontos).
No processo de avaliação das redações, a presença de uma receita no texto do
participante foi detectada pelos corretores e considerada inoportuna e
inadequada, provocando forte penalização especialmente nas competências III
(selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e
argumentos em defesa de um ponto de vista) e V (elaborar proposta de
intervenção para o problema abordado, respeitando os direitos humanos e
considerando a diversidade sociocultural)".
Ainda de acordo com o MEC, a
redação em questão possui 24 linhas, sendo vinte referentes ao tema, atendendo
às competências, e quatro referentes à receita, com o que sofreu severa
penalização.
Erros de português
Redações que obtiveram nota
máxima no Enem apresentaram graves erros de português, segundo reportagem
publicada nesta segunda-feira (18) no jornal "O Globo".
Palavras escritas com erros de grafia como "rasoável",
"enchergar" e "trousse" apareceram em alguns textos que
ganharam nota 1.000. Também foram percebidos erros de concordância em algumas redações.
O Ministério da
Educação explicou que o texto é analisado como um todo, e o
que importa mesmo é que candidato tenha um excelente domínio do português,
mesmo que ele cometa pequenos desvios gramaticais.
De acordo com o guia elaborado
pelo MEC para explicar a correção da prova de redação, a nota máxima na
primeira competência significa que apresentou nenhum ou "pouquíssimos
desvios gramaticais leves e de convenções da escrita". O erro de grafia em
palavras simples e o fato de que ele não ocorre em várias partes do texto,
segundo o ministério, "revela que as exigências da norma padrão foram
incorporadas aos seus hábitos linguísticos e os desvios foram eventuais".
Cálculo da nota
A nota final da redação
corresponde à média aritmética simples das notas atribuídas por dois
corretores. Caso houvesse discrepância de 200 pontos ou mais na nota final
atribuída pelos corretores (em uma escala de 0 a 1.000), ou de 80 pontos ou
mais em pelo menos uma das competências, a redação passaria por um terceiro
corretor, em um mecanismo que o Inep chama de "recurso de oficio".
Se a discrepância persistisse,
uma banca certificadora composta por três avaliadores examinaria a prova. Os
candidatos poderiam solicitar vistas da correção, porém não puderam pedir a
revisão da nota.
Dados divulgados pelo MEC em
janeiro mostraram que 4.113.558 redações foram corrigidas no exame deste ano, e
826.798 entraram no sistema de terceira correção.
Ainda de acordo com o MEC, 1,82%
das redações foi entregue em branco e 1,76% teve nota zero, o que acontece caso
o estudante quebre uma das regras da prova (como escrever com caneta preta, com
um número mínimo de linhas ou copiar os textos usados como base). Das mais de
826 mil redações com discrepância, 100.087 redações, após a terceira correção,
foram encaminhadas ainda para uma banca examinadora, caso previsto para as
provas que mantêm uma discrepância mesmo após a terceira correção.
(Fonte: http://g1.globo.com/educacao/noticia/2013/03/queria-testar-correcao-do-enem-diz-jovem-que-pos-receita-na-redacao.html)
Palhaçada total...fiz uma redação que não fugiu ao tema e tive nota menor que a deste cidadão. Baixaria mesmo.
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