domingo, 12 de maio de 2013

A QUESTÃO DA INDISCIPLINA

Quando tive o privilégio de entrevistar a professora e filósofa Tânia Zagury, em Salvador, quando do lançamento do seu livro Professor Refém, ela nos indicou que a indisciplina em sala de aula era responsável pela maior queixa dos docentes pesquisados para o opúsculo, mais de 40% afirmaram ter problemas com a disciplina dos alunos.
Realmente ela está coberta de razão. Esse é o pior motivo de os futuros universitários não optarem por licenciaturas ao longo da sua formação acadêmica, ganha disparado contra o baixo salário da categoria, além de outros problemas inerentes à profissão.
Pesquisas feitas pelo Datafolha e USP demonstraram que os bons estudantes do Brasil optam em cursar bacharelados, o que faz com que apenas os maus procurassem as licenciaturas, por serem de baixa concorrência no vestibular ou Enem, ficando relegadas, portanto, à ínfima qualidade. É óbvio que o sujeito pode fazer uma licenciatura e se melhorar na faculdade, ser um excelente profissional, no entanto, isso não é uma praxe, nem garantia que vá atuar na área.
A fórmula de tudo isso é muito simples: professores despreparados mais alunos sem educação, respeito, limite, é igual à indisciplina - que não deixa de ser uma violência ao outro.
Infelizmente, não há como dissociar a família desse processo. E como o núcleo familiar está cada dia mais esfacelado, confuso, desestruturado, é normal que se reflita na prole, logo, no mundo!
O lar na pós-modernidade está um pouco sem direção, perdido. Pais precisam trabalhar turnos dobrados para ter condições de sobrevivência, enquanto que a educação dos filhos vai sendo relegada aos parentes, empregados, à mídia, às drogas... A sociedade como um todo ainda não conseguiu um equilíbrio entre as inúmeras variáveis dessa equação.
O resultado tem sido difícil e complicado. Aluno espancando, física e moralmente, professor em sala de aula e vice-versa é “normal”, os noticiários abundam nesse quesito. Brigas, gritarias e conversas durante a aula, atos violentos contra o educador, além da famosa “pesca”, perguntas capciosas dirigidas aos docentes e interesse unicamente por nota são outros fatores gerados pela indisciplina.
Para não ficar só nos discentes, mestres roucos, com pressão-alta, esgotados e estressados, sofrendo com a síndrome de burnout, são o comum visto. É claro que aí reflete também o desestímulo, o descompromisso e a mecanicidade da aula dada por nós, profissionais da educação, que já sofremos pressão enorme de coordenadores e diretores insensíveis.
É necessário que se faça uma revolução nos métodos e na prática de ensino em nossos dias. O que, especificamente, não tenho muita certeza, mas talvez aproximar a família da escola (a exemplo da Escola de Pais, experiência realizada na região sudeste que tem por objetivo educar os genitores!) e investir em capacitação do magistério, poderão minimizar o problema.
Enfim, tudo o que for pensado e dito sobre o assunto vai parecer que é no âmbito da utopia, porém, é imprescindível que todos saibam distinguir que a verdadeira função da ESCOLA é a de instruir, a da aprendizagem; já a da FAMÍLIA é a de educar, a de dar limites! Cada uma no seu devido papel, no seu devido quadrado!
* Gustavo Atallah Haun é professor, formado em Letras, UESC, ministra aula em Itabuna e região sul da Bahia, edita o premiado oblogderedacao.blogspot.com.br. É maçom, da Loja Acácia Grapiúna.

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