O professor é um sujeito que vive entre o paraíso e o inferno. Podendo navegar no mar das contradições, voar no meio de turbulências e rodopiar na fúria de ciclones que, muitas vezes, não têm calmarias e está longe de um consenso: a educação do ser humano.
Ele, o magister, era visto antigamente como o repositório de sabedoria e autoridade, além de ser a única voz altissonante em sala de aula. Na sua gaveta, instrumentos de tortura como a caderneta, milhos e a palmatória. Naquele tempo, a figura do professor era um estereótipo de sujeito gordo, de óculos, suarento e antipático. As professoras vestiam a carapuça de macérrimas, infelizes e ostentavam uma verruga horripilante no nariz.
Atualmente há professores para todos os gostos e para todos os mercados: palhaços, teatrais, introspectivos, dominadores ou gentis. Na aparência física a coisa mudou, de certo. Com adereços típicos da moda ou não, pode-se encontrar magros, altos, baixos, gordos, brancos, índios ou negros. Jovens, quarentões ou senis. Nacionais ou importados. Gente. Tão gente quanto qualquer outra pessoa ou exótico como nenhuma outra.
É bem verdade que a cartilha, a tabuada e coisas do gênero não existem mais. Entretanto, muitas idéias arcaicas ainda pairam sobre a cátedra. Uma delas é a forma de dar aula: o cuspe e giz ainda são os únicos recursos pedagógicos disponíveis aos profissionais da área, salvo raras exceções. As salas de aula não mudaram muito, desde Comênius, na Idade Média.
Outra idéia negativa recai sobre a figura “diabólica” do aluno, que é visto como um número (um índice de aprovação em vestibulares), um sujeito que não quer nada com a voz do Brasil, um desajustado, um conversador ou um ser imaturo! Isso parte do próprio erro dos educadores que generalizam os seus ensinamentos, não levam em consideração o contexto social em que vivem os discentes e uma visão conteudística do educador, sem falar que muitos não têm simpatia ou afeto para com os educandos.
O magistério não é algo acabado, finito e objetivo. Pelo contrário, desperta-se no outro o interesse para as coisas da vida. E a existência está sempre em mutação, por isso não é algo definitivo. Ora, todos estão aprendendo desde quando nasceram e até quando morrerem, sabe-se lá se antes e depois também não se aprende! Então, não se pode tratar como instituição padronizada. Da mesma forma, o educar é o encontro com outros saberes, outras mentes e outros corações. Mãos dadas com visões de filosofias, ciências e artes que foram precedidas (e das vanguardas que estão por vir!) por quem aprende. Altamente íntimo e emblemático, logo, imagético e subjetivo.
É uma certeza matemática que o partilhar da existência com o aluno torna o professor um auto-mestre, pois o encontro com o outro é a visita a si mesmo. Portanto, se quiser formar leitores, faça-se leitor, apaixonado e viciado, feliz e sôfrego, como gostaria que os seus alunos fossem; se quiser formar pessoas de caráter, ensine-os como, seja digno, honesto, pregue e pratique a compaixão e a caridade; se quiser formar vencedores, seja um vencedor, ajude-os a superar obstáculos, superando os seus próprios. O exemplo é e será sempre o melhor remédio, a maior educação.
Gustavo Atallah Haun - Professor.