sexta-feira, 18 de maio de 2012

NARRAÇÃO PARA O VESTIBULAR II


ELEMENTOS DA NARRAÇÃO:

NARRADOR: pode ser em 1ª pessoa, sendo chamado de narrador-personagem ou narrador-participante; pode ser também em 3ª pessoa, sendo assim chamado de narrador-observador ou narrador-onisciente.

PERSONAGENS: são os seres de que trata a história: pessoa, animal, sentimento, elemento da natureza, etc. Podem ser estudados quanto à importância [dividindo-se em principais (protagonistas e antagonistas)e secundários] e quanto à caracterização [esféricos/cíclicos ou planos/lineares.]

3. TEMPO: quando aconteceu a narração. Existe o tempo da história, o tempo cronológico e o tempo psicológico.

4. ESPAÇO: o(s) lugar(es) onde se passa a história, ou o(s) ambiente(s). Muitas vezes reflete o interior dos personagens.

5. ENREDO: é o fato ou o acontecimento em si. O enredo, o esqueleto do texto, divide-se em 04 (quatro) partes:
5.1. Apresentação (início, onde se introduz os personagens, o tempo e o espaço)
5.2. Complicação (o surgimento do conflito, do problema, na história)
5.3. Clímax (a tensão, a expectativa maior do texto)
5.4. Desfecho (o final, como tudo se resolve, ou não)


EXEMPLO:

(UNICAMP 2010)

PROPOSTA B:

Leia a coletânea e elabore sua narrativa a partir do seguinte recorte temático: O convívio entre gerações tem lugar privilegiado no ambiente familiar.

INSTRUÇÕES:
·       Imagine uma personagem jovem que vai estudar em outra cidade e passa a morar com os avós.
·       Narre o(s) conflito(s) da personagem, dividida entre os sentimentos em relação aos avós e as dificuldades de convívio com essa outra geração.
·       Sua história pode ser narrada em primeira ou terceira pessoa.

REDAÇÃO SEM TÍTULO:

A percussão rígida da máquina de escrever contrastava com a suavidade daquela mão suave (sic), enrugadinha, típica de doce matriarca. A neta observava atenta, curiosa, nostálgica da infância marcada pelos carinhos da avó. A atmosfera que pairava sob a luz das velas permeava de alento, finalmente, aquelas duas gerações.
A jovem havia se mudado para Piracicaba para morar com os avós há alguns meses atrás (sic). Seus pais estavam enfrentando dificuldades financeiras, principalmente para pagar as mensalidades do colégio. Então, estudante esmerada que era, e por nutrir sentimentos de muito amor e respeito pelos avós, aceitou o convite de ir morar com eles.
As primeiras semanas foram maravilhosas. A jovem matou a saudade dos mimos dos velhinhos e passou a frequentar uma ótima escola. Ela sentia admiração por eles, pela experiência de vida que haviam adquirido ao longo dos anos e achava graça nos seus hábitos e manias tão diferentes dos dela, menina da capital, de vida agitada e completamente imersa na Era Digital.
Todavia, conforme o tempo foi passando, a convivência entre os avós e a neta permitiu transparecer os choques e conflitos típicos devido às diferenças entre duas gerações. O casal, que apreciava fazer passeios ao ar livre e bater papo com os amigos na praça da igreja, não podia compreender o motivo da neta gostar tanto de passar tardes inteiras trancada no quarto, navegando na internet.
Na juventude deles, época de que tinham tantas lembranças boas, sequer existia computador! O bom mesmo era ir pro baile, pra (sic) matinê. Mesmo agora, diante do advento da informática e dos argumentos da neta, achavam toda aquela parafernália tecnológica perfeitamente dispensável para seu estilo de vida.
A neta atormentava-se. Ela não imaginava o mundo sem internet, até porque havia nascido num (sic) mundo já digitalizado. Não compreendia como seus avós, pessoas que ela admirava tanto por sua sabedoria e vivência(sic), desprezavam as facilidades que a tecnologia poderia oferecer.
Sentia-se dividida. Todo o afeto, o respeito e o bem-querer que tinha por eles agora confundia-se com intolerância e com a sensação de que eles eram mesmo obsoletos, alienados, incompatíveis com o vigente modo de vida da sociedade.
Todos os dias o casal adentrava o quarto dela e dissertava persistentemente contra os hábitos da neta e a favor de que ela passasse mais tempo com eles. Entretanto, a jovem chateada com o desapreço deles pelos interesses dela e, tendo perdido gradualmente a admiração por eles, já não os ouvia.
A atmosfera da casa foi ficando cada vez mais pesada e a jovem, dividida. Certa vez, tentou ensinar a avó a mandar e-mails, mas ela frustrou-se logo com as primeiras dificuldades (sic). A inflexibilidade tão característica da adolescência e da velhice ainda agravava o convívio com as inúmeras diferenças que separam duas gerações e coroam-se com os anos.
Naquele domingo chuvoso a situação mudou. Como consequência da tempestade, Piracicaba ficou sem eletricidade. A jovem estava digitando um trabalho escolar que seria entregue na manhã seguinte quando houve o “blackout”. Vulneráveis devido à escuridão, acabaram por se reaproximarem. Os avós se comoveram com o problema da neta e se propuseram a ajudá-la. Ela permitiu que o amor que sentia por eles se sobrepusesse à intolerância e às suas diferenças. Reunidos em torno da máquina de escrever, as chamas das velas revelavam nuances de olhares apaziguados, acalentados pelos conhecimentos do avô, o dedilhar cuidadoso da avó e a paz no coração da neta.
(Redação divulgada pela UNICAMP considerada acima da média para a proposta B – narração)


quarta-feira, 16 de maio de 2012

NARRAÇÃO PARA O VESTIBULAR I



De forma genérica, pode-se dizer que narração é a apresentação, por meio de um narrador, de fatos ou acontecimentos, vividos por personagens, em determinado tempo e espaço.
Mas, qual a diferença da narração comum e da narração cobrada em vestibulares?
A diferença é o teor crítico. A narração é uma estória, informa indiretamente, através de personagens, ações destes, enredo, etc. Já a dissertação informa diretamente: vai direto ao ponto.
Mesmo assim, no vestibular, a narração deve ser crítica, uma estória mais profunda do que a que costumeiramente se lê em livros, jornais, revistas e sites.

LINGUAGEM NA NARRAÇÃO:

OBJETIVA –  é uma linguagem denotativa, dicionaresca, autoexplicativa e predomina o uso da 3ª pessoa.

SUBJETIVA – é uma linguagem conotativa, figurativa, metafórica, poética e predomina o uso da 1ª pessoa.

EXEMPLO DE LINGUAGEM OBJETIVA:

O incêndio

Ocorreu um pequeno incêndio na noite de ontem, em um apartamento de propriedade do Sr. Marcos da Fonseca.
No local habitavam o proprietário, sua esposa e seus filhos. Todos eles, na hora em que o fogo começou, tinham saído de casa e estavam jantando em um restaurante situado em frente ao edifício. A causa do incêndio foi um curto-circuito ocorrido no precário sistema elétrico do velho apartamento.
O fogo despontou em um dos quartos que, por sorte, ficava na frente do prédio. O porteiro do restaurante, conhecido da família, avistou-o  e imediatamente foi chamar o Sr. Marcos. Ele, mais que depressa, ligou para o Corpo de Bombeiros.
Embora não tivesse demorado a chegar, os bombeiros não conseguiram impedir que o quarto e sala ao lado fossem inteiramente destruídos pelas chamas. Não obstante o prejuízo, a família consolou-se com o fato de que aquele incidente não ter tomado maiores proporções, atingindo os apartamentos vizinhos. (Do livro Técnicas Básicas de Redação, ed. Scipione, p.21)

EXEMPLO DE LINGUAGEM SUBJETIVA:

Com a fúria de um vendaval

 Em uma certa manhã acordei entediada. Estava em minhas férias escolares do mês de julho. Não pudera viajar. Fui ao portão e avistei, três quarteirões ao longe, a movimentação de uma feira livre.
Não tinha nada para fazer, e isto estava me matando de aborrecimento. Embora soubesse que uma feira livre não constitui exatamente o melhor divertimento do qual um ser humano pode dispor, fui andando, a passos lentos, em direção àquelas barracas. Não esperava ver nada de original, ou mesmo interessante. Como é triste o tédio! Logo que me aproximei, vi uma senhora alta, extremamente gorda, discutindo com um feirante.
O dono da barraca tentava em vão acalmar a nervosa senhora. Não sei por que brigavam, mas sei o que vi: a mulher, imensamente gorda (...) erguia seus enormes braços e, com os punhos cerrados, gritava contra o feirante. Comecei a me assustar, com medo de que ela destruísse a barraca (e talvez o próprio homem) devido a sua fúria incontrolável. Ela ia gritando e se empolgando com sua raiva crescente e ficando cada vez mais vermelha, assim como os tomates, ou até mais.
De repente, no auge da ira, avançou contra o homem já atemorizado e, tropeçando em alguns tomates podres que estavam no chão, caiu (...) no asfalto, para o divertimento do pequeno público que,assim como eu, assistiu àquela cena incomum. (idem, p. 22 e 23)

DISCURSOS NA NARRAÇÃO:

DIRETO: é quando o narrador da voz aos personagens, há diálogos. Predomina o tempo presente, a presença de verbos discendi (perguntar, responder, dizer, etc.) e pontuação característica;

INDIRETO: é quando o narrador fala pelos personagens, não da voz, não há diálogos diretos. Predomina o tempo passado.

INDIRETO LIVRE: é a mistura dos outros dois tipos de discurso: ações dos personagens misturadas com a voz do narrador, assim como o tempo passado e o tempo presente.

EXEMPLO DE DISCURSO DIRETO:

O primeiro dia no cursinho

Maria Helena acabava de se matricular em um famoso cursinho, desses que preparam os alunos para os vestibulares. Logo no primeiro dia de aula, depois de subir os seis lances de escada que a conduziam à sua sala de duzentos e quarenta alunos, entrou na sala espantada com a quantidade de colegas. Assistiu às três primeiras aulas (ou conferências) que os professores deram com o auxílio de microfones.
Quando bateu o sinal do intervalo, ela perguntou a um colega de classe:
- Você, por acaso, sabe onde fica a lanchonete?
- Fica no térreo - respondeu-lhe o colega gentilmente.
Ela então começou a descer (...) escadas, acompanhada por uma quantidade incontável de pessoas, ou seja, os colegas das outras quinze salas de aula existentes em cada andar. Sentia-se como uma torcedora saindo do Morumbi depois de um clássico.
Após algum tempo chegou ao térreo e lá avistou uma aglomeração comparável ao público que comparecia aos comícios das “Diretas”.
- Por favor, você sabe onde fica a lanchonete? Disseram que estava no térreo - perguntou Maria Helena para uma moça que estava ao seu lado.
- Mas você já está na lanchonete!
Descobriu então que estava no lugar procurado, mas não dava para ver a caixa registradora, situada a alguns metros dela, de tanta gente que havia. Ela já estava na fila do caixa e não sabia. (idem, p. 30 e 31)

EXEMPLO DE DISCURSO INDIRETO:

O primeiro dia no cursinho

Maria Helena acabava de matricular-se em um famoso cursinho, desses que preparam os alunos para os vestibulares. Logo no primeiro dia de aula, depois de subir os seis lances de escada que a conduziam à sua sala de duzentos e quarenta alunos, entrou na sala espantada com a quantidade de colegas. Assistiu às três primeiras aulas (ou conferências) que os professores deram com o auxílio de microfones.
Quando bateu o sinal do intervalo, tentou encontrar a lanchonete que ficava no térreo. Maria Helena então começou a descer os seis lances de escadas, acompanhada por uma quantidade incontável de pessoas, ou seja, os colegas das outras quinze salas de aula existentes em cada andar. Sentia-se como uma torcedora saindo do Morumbi depois de um clássico.
Após algum tempo chegou ao térreo e lá avistou uma aglomeração comparável ao público que comparecia aos comícios das “Diretas”. Olhou para todos os lados e não viu lanchonete alguma.
Pouco tempo depois, descobriu que a lanchonete era lá mesmo, mas não dava para ver a caixa registradora, situada a alguns metros dela, de tanta gente que havia. Ela já estava na fila do caixa e não sabia. (idem, p. 30)

EXEMPLO DE DISCURSO INDIRETO LIVRE:

“Que vontade de voar lhe veio agora! Correu outra vez com a respiração presa. Já nem podia mais. Estava desanimado. Que pena! Houve um momento em que esteve quase... quase!
 Retirou as asas e estraçalhou-a. Só tinham beleza. Entretanto, qualquer urubu... que raiva...” (Ana Maria Machado)

 “D. Aurora sacudiu a cabeça e afastou o juízo temerário. Para que estar catando defeitos no próximo? Eram todos irmãos. Irmãos.” (Graciliano Ramos)

 “O matuto sentiu uma frialdade mortuária percorrendo-o ao longo da espinha.
 Era uma urutu, a terrível urutu do sertão, para a qual a mezinha doméstica nem a dos campos possuíam salvação.
Perdido... completamente perdido...” (H. de C. Ramos)

domingo, 13 de maio de 2012

MOMENTO DE DESCONTRAÇÃO II



Nota do autor:

Quando escrevi a dita cuja, eu estava cursando o 2o ano do ensino médio. De fato, nunca fui bom em Redação, sempre tirava notas entre 6,0 e 8,0... porém, a redação que ficou "famosa" não foi corrigida por nenhum professor do colégio. Quem deu a nota à redação fui eu mesmo, apenas para dar um toque de realismo.. Apesar de não parecer, eu sou um excelente aluno e, em toda a minha vida escolar fui muito elogiado por vários professores. Tanto é que eu estudo no referido colégio com uma bolsa de 40% na mensalidade. Ano passado, eu prestei vestibular na UFPR apenas para treinar, fiz a prova sem estudar, e passei, sem mesmo ter completado o ensino médio. ...apesar de existirem muitas pérolas nas escolas, nenhum aluno faria isso sem um motivo intencional. ...eu não sou o aluno que aparento ser... ehhe obrigado pela compreensão... Rodrigo Longo

quinta-feira, 10 de maio de 2012

A EDUCAÇÃO

Dar o exemplo não é a melhor maneira de influenciar os outros. É a única.”
Albert Schweitzer


Um dia desses lemos em um adesivo colado no vidro traseiro de um veículo a seguinte advertência: “minha educação depende da tua!”.
Ficamos a imaginar qual seria o conceito de educação para quem pensa dessa forma.
Ora, se nossa educação dependesse dos outros, certamente seria tão instável quanto a quantidade de pessoas com as quais nos relacionamos.
Ademais, se assim fosse, não formaríamos jamais o nosso caráter. Seríamos apenas o resultado do comportamento de terceiros. Refletiríamos como se fôssemos um espelho.
A educação é a arte de formar caracteres e, por conseguinte, é o conjunto de hábitos adquiridos. Assim sendo, como fica a nossa educação se refletir tão somente o comportamento dos outros, como uma reação apenas?
O verdadeiro caráter é forjado na luta. Na luta por dominar as más tendências, por não revidar uma ofensa, por retribuir o mal com o bem.
Um amigo tinha o costume de dizer: “bateu, levou”. Um dia perguntamos se ele admirava os mal-educados que tanto criticava. Imediatamente ele se posicionou em contrário:
- É claro que não aprovo pessoas mal-educadas! Então questionamos outra vez:
- Se não os admira, por que você os imita?
Ele ficou um tanto confuso, pensou um pouco e respondeu:
- É, de fato deveríamos imitar somente o que achamos bonito.
Dessa forma, a nossa educação não deve jamais depender da educação dos outros, menos ainda da falta de educação dos outros.
Todos os ensinamentos do Cristo, a quem a maioria de nós diz seguir, nos recomendam apresentar a outra face.
Imaginemos se Jesus, o mestre, tivesse nos ensinado: “se alguém te bater numa face, esmurra-lhe a outra”. Ou então, “faz aos outros tudo aquilo que não desejas que te façam”. Nós certamente não O aceitaríamos como modelo e guia.
Assim sendo, lutemos por nos educar segundo os preceitos do Mestre de Nazaré, que diante dos momentos mais dolorosos de Sua vida, manteve a calma e tolerou com grandeza todas as agressões sofridas.
Não nos espelhemos nos que não são modelos nem de si mesmos. Construamos o nosso caráter com os exemplos nobres.
Quando tivermos que prestar contas às leis que regem a vida, não encontraremos desculpas para a nossa falta de educação, nem poderemos jogar a culpa nos outros, já que Deus nunca deixou a terra sem bons exemplos de educação e dignidade. 
***
Não adotemos os costumes comuns que nada têm de normais.
O normal é cada um buscar a melhoria íntima com os recursos internos e externos que Deus oferece.
As rosas, mesmo com as raízes mergulhadas no estrume, se abrem para oferecer ao mundo o seu inconfundível perfume.
O sândalo, por ser uma árvore nobre, deixa suave fragrância impregnada no machado que lhe dilacera as fibras.
Assim, nós também podemos dar exemplos dignos de serem imitados.
 
(Equipe do site www.momento.com.br, com base em texto de autoria ignorada e no cap. 54 do livro Depois da Morte, de autoria de Leon Denis, ed. FEB)

quarta-feira, 9 de maio de 2012

REDAÇÕES NOTA ZERO!


Fique atento a algumas recomendações para evitar um ZERÃO na prova de Produção de Texto. Veja abaixo alguns exemplos do que não deve fazer:

NÃO DEIXE RECADOS:


Não se dirija ao seu interlocutor, principalmente se for uma dissertação, cujo interlocutor é universal, genérico. Também não tente inovar na criatividade, achando que fazendo uma gracinha vai passar! Ledo engano.

NÃO PERSONALIZE A PROVA:

Além disso, não deixe marcas, desenhos, gráficos, etc., na parte em que você deve escrever. Qualquer forma de personalização fará com que a nota seja anulada.

EXCESSO DE ERROS:



Já ouviu aquele ditado: Errar é humano, porém permanecer no erro é burrice! É exatamente isso. Não faça a prova se não tem condição mínima de expressar suas opiniões e ideias em linguagem razoavelmente inteligível e correta. O que se exige é o domínio culto da língua. Algumas bancas corretoras põem o máximo de erros que a pessoa pode atingir; as outras descontam pontos e mais pontos de cada erro cometido!

OS TEXTOS CÔMICOS:


Fantásticos do ponto de vista cômico, mas lembre-se: o corretor da prova é um especialista e não tem compromisso com ninguém, aliás, ele nem sabe de quem é a prova! Portanto, nada de comédia ou tentar levar no lero-lero. 

BOA SORTE!

terça-feira, 8 de maio de 2012

APRENDER GRAMÁTICA É UMA "MERDA" BOA!



A palavra mais rica da língua portuguesa é a palavra MERDA. Essa versátil palavra pode mesmo ser considerada um coringa da língua portuguesa.

Vejam os exemplos a seguir:

1) Como indicação geográfica 1:
Onde fica essa MERDA?

2) Como indicação geográfica 2:
Vá a MERDA!

3) Como indicação geográfica 3:
17:00h - vou embora dessa MERDA.

4) Como substantivo qualificativo:
Você é um MERDA!

5) Como auxiliar quantitativo:
Trabalho pra caramba e não ganho MERDA nenhuma!

6) Como indicador de especialização profissional:
Ele só faz MERDA.

7) Como indicativo de MBA:
Ele faz muita MERDA.

8) Como sinônimo de covarde:
Seu MERDA!

9) Como questionamento dirigido:
Fez MERDA, né?

10) Como indicador visual:
Não se enxerga MERDA nenhuma!

11) Como elemento de indicação do caminho a ser percorrido:
Por que você não vai a MERDA?

12) Como especulação de conhecimento e surpresa:
Que MERDA é essa?

13) Como constatação da situação financeira de um indivíduo:
Ele está na MERDA...

14) Como indicador de ressentimento natalino:
Não ganhei MERDA nenhuma de presente!

15) Como indicador de admiração:
Puta MERDA!

16) Como indicador de rejeição:
Puta MERDA!

17) Como indicador de espécie:
O que esse MERDA pensa que é?

18) Como indicador de continuidade:
Tô na mesma MERDA de sempre.

19) Como indicador de desordem:
Tá tudo uma MERDA!

20) Como constatação científica dos resultados da alquimia:
Tudo o que ele toca vira MERDA!

21) Como resultado aplicativo:
Deu MERDA.

22) Como indicador de performance esportiva:
O time não está jogando MERDA nenhuma!!!

23) Como constatação negativa:
Que MERDA!

24) Como classificação literária:
Êita textinho de MERDA!!!

25) Como qualificação de governo:
O Presidente Lula só faz MERDA!

26) Como situação de 'orgulho/metidez' :
Ela se acha e não tem 'MERDA no c... pra cagar!'

27) Como indicativo de ocupação:
Para ter lido até aqui, é sinal que não está fazendo MERDA alguma!!!

segunda-feira, 7 de maio de 2012

RAÍZES SOCIAS DA VIOLÊNCIA


Dráuzio Varella*

Violência é uma doença epidêmica, contagiosa e de múltiplas causas. A análise que a sociedade costuma fazer dela se baseia em fatores emocionais, quase sempre gerados por crime chocante, falta de segurança nas ruas, preconceito social ou discriminação. Os estudos científicos pouco pesam na definição da política de combate à criminalidade, apesar de terem desenvolvido métodos mais precisos para avaliar a influência de certos fatores associados às raízes sociais da violência urbana.
Atribuí-la à superpopulação dos grandes centros pode ser precipitado. Nada indica que a agressividade aumenta quando os espaços reservados a cada indivíduo diminuem. Em Tóquio, apesar da alta densidade demográfica, uma senhora pode andar pelas ruas à noite sem ser molestada. Pode parecer estranho, mas experiências realizadas nos Estados Unidos com macacos japoneses e, na Holanda, com chimpanzés apontaram que, mantidos em cativeiro em espaços diminutos, esses animais continham os impulsos agressivos. Postos em liberdade, a agressividade aflorava mais intensa. No pavilhão Cinco do Carandiru, em São Paulo, o mais lotado da cadeia, o número de assassinatos era infinitamente menor que os ocorridos em outros pavilhões menos povoados.
A desigualdade social, geralmente, é o argumento mais aceito para justificar a violência. De fato, a má distribuição de renda pode favorecer a disseminação da criminalidade. Ninguém discute: sociedades desiguais tendem a ser mais violentas. Não só a pobreza, mas também a falta de perspectivas podem induzir a comportamentos agressivos. No entanto, as diferenças sociais não explicam por que em lugares como a Suécia, em que as desigualdades são pequenas, a violência cresceu na mesma proporção com que diminuiu nos grandes centros dos Estados Unidos, onde a concentração de renda se agravou ultimamente. Não explicam por que, numa mesma família pobre, só alguns desrespeitam as regras de convivência social, nem por que filhos de gente abastada adotam comportamentos antissociais.
Outro aspecto importante é a atual desestruturação das famílias. No mundo todo, crescem filhos criados sem apoio paterno. Muitas mães, especialmente no Brasil, são adolescentes. Estudos mostram que os filhos dessas jovens apresentam probabilidade maior de abandono, maus-tratos e espancamento doméstico. Sobrecarregadas, as mães abandonam os estudos, não arranjam emprego e, obrigadas a arcar com as despesas, veem reduzido o poder aquisitivo de suas famílias. Além disso, crianças nascidas com maior vulnerabilidade para desenvolver comportamentos agressivos e criadas por mães despreparadas para educá-las com coerência estão mais sujeitas a se tornar emocionalmente reativas e impulsivas, condições que embutem alto risco de violência.
Muitos defendem que a certeza da impunidade torna os indivíduos mais agressivos. Imaginando que não serão presos nem castigados porque a Justiça é morosa e os policiais, corruptos, marginais sentem-se à vontade para transgredir as leis. Embora programas de repressão do tipo “tolerância zero” tenham surtido resultados em algumas cidades do exterior, eles só se tornaram viáveis depois da aplicação de reformas estruturais das polícias e da adoção de medidas severas de combate à corrupção.
Mesmo assim, há quem atribua a redução do número de crimes violentos nos Estados Unidos à menor taxa de desemprego resultante do desempenho favorável da economia do país nos últimos anos. A respeito do assunto, dois pesquisadores da Universidade de Stanford chegaram a uma conclusão surpreendente: a redução dos crimes violentos que ocorreu em todas as cidades americanas, a partir de 1992, não se deve à prosperidade econômica nem ao trabalho policial. Segundo eles, analisando os dados demográficos, a única explicação encontrada foi a liberação do aborto, em 1972, que de forma arrevesada e controversa valorizou a paternidade responsável.
No entanto, as ideias de impunidade e encarceramento são indissociáveis. Prender não garante obrigatoriamente reabilitação. Na maioria dos casos, o criminoso acaba estabelecendo na prisão conexões sólidas com o mundo do crime e volta a delinquir quando posto em liberdade. E o que dizer dos criminosos de colarinho branco que raramente são condenados, ou dos dignitários públicos que deslizam pela trama esgarçada das leis?
Outro fator importante no quadro da violência é a alta concentração de armamentos em determinadas áreas. A maior parte deles, obtida ilegalmente, transmite a seus portadores a ilusão de segurança, proteção e respeito. Para os que dependem dessas armas para enfrentar a polícia ou quadrilhas rivais, elas são símbolo de força e poder. Em ambos os casos, porém, podem intensificar as reações violentas e os ferimentos letais.
Ninguém discute que as drogas – o tráfico e o consumo – influem nos comportamentos violentos, mas é fundamental analisar a revolução que o crack representou nesse universo. Antes dele, a cocaína era comercializada em pó, custava caro e era distribuída por pequeno número de traficantes mais velhos. O crack democratizou o mercado. Os mais velhos, experientes solucionadores de conflitos, foram substituídos por jovens com tendência a resolver contendas com mais agressividade e impaciência.
Não se pode, ainda, esquecer o papel da mídia na divulgação de comportamentos violentos – de inocentes desenhos animados a programas de mundo-cão, cenas de caça a bandidos, arbitrariedades cometidas por policiais e revoltas nos presídios. Numa rebelião de presos, uma das primeiras exigências é a presença da televisão. Demonstração de poder, garantia de proteção ou direito a alguns minutos de fama? Difícil dizer. Relatório publicado por associações médicas americanas concluiu que existe “uma conexão causal entre a violência na mídia e o comportamento agressivo de certas crianças”.
Violência, de fato, é uma doença com múltiplos fatores de risco. Estudos científicos permitem identificar três deles na formação de personalidades com maior inclinação ao comportamento agressivo: experiências de abuso sexual, espancamento, humilhação e desprezo nos primeiros anos de vida; distanciamento de valores sociais altruísticos, de formação moral ou limites de disciplina; associação com grupos portadores de comportamento antissocial.
Combater essa doença pressupõe a aplicação de estratégias efetivas de prevenção e tratamento. Não é fácil construir uma sociedade igualitária que evite a ruptura dos laços familiares, eduque de forma adequada as crianças, diga não às drogas, encontre alternativas às cadeias, acabe com as armas e aplique justiça com isenção. Não existem soluções mágicas. Elas dependem do envolvimento de cada um de nós na educação das crianças nascidas na periferia do tecido social. Enquanto não aprendermos a orientar os pais e a oferecer-lhes medidas preventivas para que evitem ter filhos que não serão capazes de criar, cabe a nós a responsabilidade de integrar essas crianças na sociedade por meio de educação formal de bom nível, práticas esportivas e oportunidade de desenvolvimento artístico.
* Dr. Dráuzio Varella é médico cancerologista formado pela USP. Além da atividade clínica, foi médico voluntário na Casa de Detenção e conduz, no rio Negro, na Amazônia, estudos sobre a atividade farmacológica de várias espécies de plantas brasileiras. (Revista TV Escola, pág. 42 e 43)

COMENTÁRIOS:

O médico Dráuzio Varella tinha o pleno domínio do texto dissertativo ao elaborar seu texto Raízes Sociais da Violência.
Perceba que a tese no primeiro parágrafo é feita através de uma analogia: “violência é uma doença”. A partir daí ele vai tratar a violência como tal. Logo em seguida, no mesmo parágrafo, ele apresenta duas ideias: a análise que a sociedade faz e a análise feita por conta dos estudos científicos, ou seja, o senso comum e a ciência.
Nos parágrafos seguintes, ele vai jogar uma avalanche de argumentos, por ordem: superpopulação, desigualdade social, desestruturação familiar, impunidade, concentração de armamentos, drogas e influência da mídia.
É preciso ficar atento, pois nos dois primeiros argumentos Dráuzio utiliza contra-argumentos para rebater as ideias secundárias: 1) superpopulação com Tóquio, experiência com macacos e Carandiru; e 2) desigualdade social com Suécia/EUA e famílias ricas e pobres.
Nos dois últimos parágrafos, Varella reafirma a sua tese “Violência, de fato, é uma doença”, destrinchando o que dizem os estudos científicos. No último apresenta a observação final, com críticas e soluções para o problema enfocado.
A coesão e a coerência do artigo são perfeitas. Os parágrafos sempre feitos de forma dedutiva, levam a uma amarração das ideias com os conectivos usados no início de cada parágrafo e entre frases, orações e períodos.
A despeito do tamanho – é um artigo de revista em duas páginas, com sete argumentos –, é uma estrutura que o vestibulando ou concurseiro deve utilizar como exemplo, principalmente no que tange aos contra-argumentos (feitos nos mesmos parágrafos dos argumentos) e também com as citações elaboradas (vide parágrafos 4, 6 e 10).
Texto nota mil.

sábado, 5 de maio de 2012

ARGUMENTO & CONTRA-ARGUMENTO



A FORÇA DOS ARGUMENTOS

TEXTO 01:

CRÔNICA SOBRE AS CANÇÕES DE NINAR
(Autoria desconhecida)

Eu, uma brasileira morando nos Estados Unidos da América, para ajudar no orçamento, estou fazendo "bico" de babá e estudante. Ao cuidar de uma das meninas de quem eu "teoricamente" tomo conta, uma vez cantei "Boi da cara preta" para ela, antes dela dormir. Ela adorou e essa passou a ser a música que ela sempre pede para eu cantar ao colocá-la para dormir. Antes de adotarmos o "boi, boi, boi" como canção de ninar, a canção que cantávamos (em Inglês) dizia algo como:

Boa noite, linda menina, durma bem.
Sonhos doces venham para você,
Sonhos doces por toda noite"...

(Que lindo, não é mesmo!?)
Eis que um dia Mary Helen me pergunta o que as palavras, em português, da música "Boi da cara preta" queriam dizer em Inglês:

Boi, boi, boi,
Boi da cara preta,
Pega essa menina
Que tem medo de careta...

(???)
Como eu ia explicar para ela e dizer que, na verdade, a música "Boi da cara preta" era uma ameaça, era algo como "dorme logo, senão o boi vem te comer"?
Como explicar que eu estava tentando fazer com que ela dormisse com uma música que incita um bovino de cor negra a pegar uma cândida menina?
Claro que menti para ela, mas comecei a pensar em outras canções infantis, pois não me sentiria bem ameaçando aquela menina com um temível boi toda noite...
Que tal...

Nana neném
Que a cuca vai pegar...

Caramba... outra ameaça! Agora com um ser ainda mais maligno que um boi preto!
Depois de uma frustrante busca por uma canção infantil do folclore brasileiro, que fosse positiva e de uma longa reflexão, descobri toda a origem dos problemas do Brasil. O problema do Brasil é que a sua população em geral tem uma autoestima muito baixa. Isso faz com que os brasileiros se sintam sempre inferiores e ameaçados, passivos o suficiente para aceitar qualquer tipo de extorsão e exploração, seja interna ou externa. Por que isso acontece? Trauma de infância! Trauma causado pelas canções da infância!
Vou explicar: nós somos ameaçados, amedrontados e encaramos tragédias desde o berço! Por isso levamos tanta porrada da vida e ficamos quietos.
Exemplificarei minha tese:

Atirei o pau no gato-to-to
Mas o gato-to-to não morreu-reu-reu
Dona Chica-ca-ca
Admirou-se-se
Do berrô, do berrô que o gato deu
Miaaau!

Para começar, esse clássico do cancioneiro infantil é uma demonstração clara de falta de respeito aos animais (pobre gato) e crueldade. Por que atirar o pau no gato, essa criatura tão indefesa? E para acentuar a gravidade, ainda relata o sadismo dessa mulher sob a alcunha de "D. Chica". Uma vergonha!

Eu sou pobre, pobre, pobre,
De marré, marré, marré.
Eu sou pobre, pobre, pobre,
De marré de si.
Eu sou rica, rica, rica,
De marré, marré, marré.
Eu sou rica, rica, rica,
De marré de si.

Colocar a realidade tão vergonhosa da desigualdade social em versos tão doces!!! É impossível não se lembrar do seu amiguinho rico da infância com um carrinho fabuloso, de controle remoto, e você brincando com seu carrinho de plástico... Fala sério!

Vem cá, Bitu! vem cá, Bitu!
Vem cá, meu bem, vem cá!
Não vou lá! Não vou lá, Não vou lá!
Tenho medo de apanhar.

Quem foi o adulto sádico que criou essa rima? No mínimo ele espancava o pobre Bitú...

Marcha soldado,
Cabeça de papel!
Quem não marchar direito,
Vai preso pro quartel.

De novo, ameaça! Ou obedece ou você vai se f... Não é à toa que o brasileiro admite tudo de cabeça baixa...

A canoa virou,
Quem deixou ela virar,
Foi por causa de (nome de pessoa)
Que não soube remar.

Ao invés de incentivar o trabalho de equipe e o apoio mútuo, as crianças brasileiras são ensinadas a dedurar e a condenar um semelhante. Bate nele, mãe!

Samba-lelê tá doente,
Tá com a cabeça quebrada.
Samba-lelê precisava
É de umas boas palmadas.

A pessoa, conhecida como Samba-lelê, encontra-se com a saúde debilitada e necessita de cuidados médicos. Mas, ao invés de compaixão e apoio, a música diz que ela precisa de palmadas! Acho que o Samba-lelê deve ser irmão do Bitú...

O anel que tu me deste
Era vidro e se quebrou.
O amor que tu me tinhas
Era pouco e se acabou...

Como crescer e acreditar no amor e no casamento depois de ouvir essa passagem anos a fio?

O cravo brigou com a rosa
Debaixo de uma sacada;
O cravo saiu ferido
E a rosa despedaçada.
O cravo ficou doente,
A rosa foi visitar;
O cravo teve um desmaio,
A rosa pôs-se a chorar.

Desgraça, desgraça, desgraça! E ainda incita a violência conjugal (releia a primeira estrofe). Precisamos lutar contra essas lembranças, meus amigos! Nossos filhos merecem um futuro melhor!


A FORÇA DOS CONTRA-ARGUMENTOS

TEXTO 02:

INOCÊNCIA PERDIDA DAS CANÇÕES DE NINAR
(Hélio Consolaro)

Recebi de Manuel Raimundo de Souza Jr., o Nezito, que mora em São Paulo, o texto de uma notícia interessante veiculada pela rádio CBN. Outro e-mail atribui a autoria do texto à poetisa de Araçatuba Vilmara Bello, que mora em Londres.
(...)
Internautas não valorizam a autoria dos textos, por isso não se sabe quem é o verdadeiro autor dele. A crônica mostrava a linguagem politicamente incorreta das canções de ninar do Brasil e como suas letras formam a baixa autoestima das crianças.
A autora (ou autor) do texto, que trabalha como babá em Londres, ficou com vergonha de traduzir as letras para a criança de quem cuidara, pois as canções de ninar inglesas são suaves e falam de coisas bonitas, enquanto as nossas ameaçam a criança que não quer dormir com boi da cara preta, cuca e caretas.
Na verdade, a autora (ou autor) confundiu a classificação de algumas canções, classificando-as como de ninar. “Atirei o pau no gato”, por exemplo, é cantiga de roda. Outro erro da autora, mais grave, foi ignorar a cultura brasileira e que as histórias das canções de ninar brasileiras eram cantadas por escravas (mucamas) aos filhos da sinhá.
A bem da verdade, ela não amava aquela criança. O seu trabalho era forçado, feito sem amor. E se escravos eram espancados, perseguidos, numa sociedade repressora ao extremo, as canções de ninar não podiam ser muito diferentes. Cada pessoa doa o que recebe.
Se as canções de ninar eram cantadas aos filhos dos senhores, não causaram efeitos maléficos, pois não considero que a elite econômica do Brasil tenha baixa autoestima. Aliás, ela tem mesmo é o nariz bem empinado.
Essa discussão é semelhante àquela da influência dos filmes de violência exibidos pela tevê, se deixa ou não a criança violenta. Na verdade, quem deixa a criança violenta é a própria sociedade que o circunda, da qual ela é testemunha.
Apesar de a análise apresentada pelo texto ser bem feita, com inteligência, seu autor sofisma quando não considera os aspectos históricos, ignorando os componentes da nossa cultura e da alma dos brasileiros.
Há na autora (ou autor) o deslumbramento de brasileiro por aquilo que é estrangeiro. Não podia ser diferente, pois ela foi tentar a vida lá fora, não teve as oportunidades aqui. Embora a tendência do brasileiro que more por algum tempo exterior, seja valorizar o Brasil.
E, por último, quero dizer que apesar da linguagem politicamente incorreta de nossas canções de ninar e de roda, às vezes, com incentivo à violência, ensinando a maltratar os animais, não se educaram aqui George W. Bush nem Tony Blair.


COMENTÁRIOS IMPORTANTES:

Os textos apresentados são dissertações argumentativas livres, isto é, textos que defendem ideias por meio de argumentos, mas seguem estruturas livres, diferentes das redações de concursos e vestibulares, justamente por não terem sido feitas com esse propósito.
O texto I defende a tese de que “o brasileiro tem uma autoestima muito baixa devido a traumas causados por canções da infância”. A tese não é apresentada na introdução.
O texto é iniciado com uma longa sequência narrativa: a autora narra um acontecimento em Londres que a motivou a escrever o texto, a dissertar sobre as canções infantis do folclore brasileiro e defender sua tese de que elas são nocivas às crianças. O que há de melhor nesse texto é o sistema de argumentação-exemplificação. A autora defende que as canções infantis são negativas e cita diversos exemplos dessas canções.
O texto II está mais de acordo com um texto dissertativo, é mais bem estruturado e embasado. O texto II levanta alguns argumentos para derrubar a tese defendida pela autora do texto I:
a) Argumento por evidência: as cantigas de ninar não causam baixa autoestima nas crianças. Evidência: nossa elite econômica não tem baixa autoestima, tem, na verdade, o nariz bem empinado.
b) Argumento por analogia: as canções de ninar não deixam nossas crianças com baixa autoestima, da mesma forma que filmes violentos não deixam as crianças violentas.
c) Argumento por evidência: é preciso analisar os aspectos históricos. As canções de ninar não foram criadas por mentes de mães doentias, mas por mucamas que não amavam as crianças de quem cuidavam.
d) Argumento ad hominem: a autora é deslumbrada como todo brasileiro que vai tentar a vida no exterior. Esse tipo de argumento consiste em atacar o autor da ideia em vez de atacar a ideia. Em debates formais, tal tipo de atitude é desencorajada, e tal argumento é classificado na verdade como uma falácia, isto é, um erro de argumentação.
e) Argumento por evidência: o fato de nossas canções serem violentas e as estrangeiras serem cândidas não significam que brasileiros se tornarão violentos e estrangeiros serão cândidos e pacíficos. Evidência: George W. Bush e Tony Blair não foram educados com canções violentas como as nossas, mas com canções puras e pacíficas dos folclores inglês e americano. O texto foi escrito na época da guerra contra o Afeganistão.
Como visto, há diversas formas de argumentar: por analogia, por evidência, e outras não apresentadas no texto, mas simples, como o uso de dados estatísticos, pesquisas científicas, etc. O ideal, em um texto dissertativo-argumentativo, é que a redação não seja um amontoado de achismos, de opiniões infundadas. O autor deve embasar suas opiniões com argumentos, sejam eles quais forem.
(Fonte: Guia Prático de Concursos Públicos, editora OnLine, pág. 24 a 26)