sábado, 17 de janeiro de 2015

REDAÇÕES 1000 DO ENEM 2014!

Enem 2014: leia exemplos redação nota 1000
Pelo menos dois estudantes cariocas estão entre as 250 notas máximas sobre o tema 'Publicidade infantil em questão no Brasil'
POR LAURO NETO
14/01/2015 13:23 / ATUALIZADO 15/01/2015 10:49

Reprodução
RIO - Entre 5,9 milhões de redações corrigidas no Enem 2014, apenas 250 tiraram nota 1000. Nesse seleto grupo, pelo menos dois estudantes são cariocas: Carlos Eduardo Lopes Marciano, de 19 anos, e Maria Eduarda de Aquino Correa Ilha, de 18. Ambos fizeram o exame pela segunda vez, apesar de já terem sidos aprovados para a UFRJ com as notas do Enem 2013. Os dois enviaram ao GLOBO os comprovantes de suas notas e os rascunhos de seus textos, transcritos ao fim desta reportagem.
Aluno do 2º período de Engenharia Elétrica na UFRJ, Carlos Eduardo fez o Enem no ano passado para o caso de querer trocar sua habilitação para Engenharia Química ou da Computação. Em 2013, ele havia tirado 960 na redação. Na edição de 2014, tirou a nota máxima, sem estudar.
- Sempre tive o dom de escrever. Escrevia poemas e outros textos e gostava de redação argumentativa. Só estudei no Notre-Dame de Ipanema e tive uma professora muito boa de redação, chamada Marilene Tinoco, que me ajudou muito - conta o estudante, que chegou a cursar o primeiro semestre de Direito na Uerj no ano passado, mas não gostou do curso.
Maria Eduarda, que já havia passado pelo Enem 2013 para o curso de Direito na UFRJ, no turno da noite, fez o exame de novo para garantir uma vaga no período integral (matutino e vespertino).
- Em 2013, tirei 840 na redação. Passei para o noturno da UFRJ e na UFF, mas resolvi tentar de novo. Tenho várias amigas que passaram para esse turno e é muito complicado mudar. Conversei com meus pais, resolvi tentar de novo e deu certo. Estudei no Liceu Franco-Brasileiro, mas fiz cursinho _A_Z, a cujos professores e monitores devo 80% da minha nota. Brinco que aprendia a escrever lá.

Redação de Carlos Eduardo Lopes Marciano

O verdadeiro preço de um brinquedo
É comum vermos comerciais direcionados ao público infantil. Com a existência de personagens famosos, músicas para crianças e parques temáticos, a indústria de produtos destinados a essa faixa etária cresce de forma nunca vista antes. No entanto, tendo em vista a idade desse público, surge a pergunta: as crianças estariam preparadas para o bombardeio de consumo que as propagandas veiculam?
Há quem duvide da capacidade de convencimento dos meios de comunicação. No entanto, tais artifícios já foram responsáveis por mudar o curso da História. A imprensa, no século XVIII, disseminou as ideias iluministas e foi uma das causas da queda do absolutismo. Mas não é preciso ir tão longe: no Brasil redemocratizado, as propagandas políticas e os debates eleitorais são capazes de definir o resultado de eleições. É impossível negar o impacto provocado por um anúncio ou uma retórica bem estruturada.
O problema surge quando tal discurso é direcionado ao público infantil. Comerciais para essa faixa etária seguem um certo padrão: enfeitados por músicas temáticas, as cenas mostram crianças, em grupo, utilizando o produto em questão.Tal manobra de “marketing” acaba transmitindo a mensagem de que a aceitação em seu grupo de amigos está condicionada ao fato dela possuir ou não os mesmos brinquedos que seus colegas. Uma estratégia como essa gera um ciclo interminável de consumo que abusa da pouca capacidade de discernimento infantil.
Fica clara, portanto, a necessidade de uma ampliação da legislação atual a fim de limitar, como já acontece em países como Canadá e Noruega, a propaganda para esse público, visando à proibição de técnicas abusivas e inadequadas. Além disso, é preciso focar na conscientização dessa faixa etária em escolas, com professores que abordem esse assunto de forma compreensível e responsável. Só assim construiremos um sistema que, ao mesmo tempo, consiga vender seus produtos sem obter vantagem abusiva da ingenuidade infantil.
Redação de Maria Eduarda de Aquino Correa Ilha
Consumidores do futuro
De acordo com o movimento romântico literário do século XIX, a criança era um ser puro. As tendências do Romantismo influenciavam a temática poética brasileira através da idealização da infância. Indo de encontro a essa visão, a sociedade contemporânea, cada vez mais, erradica a pureza dos infantes através da influência cultural consumista presente no cotidiano. Nesse contexto, é preciso admitir que a alegação de uma sociedade conscientizada se tornou uma maneira hipócrita de esconder os descaso em relação aos efeitos da publicidade infantil no país.
Em primeiro plano, deve-se notar que o contexto brasileiro contemporâneo é baseado na lógica capitalista de busca por lucros e de incentivo ao consumo. Esse comportamento ganancioso da iniciativa privada é incentivado pelos meios de comunicação, que buscam influenciar as crianças de maneira apelativa no seu dia-a-dia. Além disso, a ausência de leis nacionais acerca dos anúncios infantis acaba por proporcionar um âmbito descontrolado e propício para o consumo. Desse modo, a má atuação do governo em relação à publicidade infantil resulta em um domínio das influências consumistas sobre a geração de infantes no Brasil.
Por trás dessa lógica existe algo mais grave: a postura passiva dos principais formadores de consciência da população. O contexto brasileiro se caracteriza pela falta de preocupação moral nas instituições de ensino, que focam sua atuação no conteúdo escolar em vez de preparar a geração infantil com um método conscientizador e engajado. Ademais, a família brasileira pouco se preocupa em controlar o fluxo de informações consumistas disponíveis na televisão e internet. Nesse sentido, o despreparo das crianças em relação ao consumo consciente e às suas responsabilidades as tornam alvos fáceis para as aquisições necessárias impostas pelos anúncios publicitários.
Torna-se evidente, portanto, que a questão da publicidade infantil exige medidas concretas, e não um belo discurso. É imperioso, nesse sentido, uma postura ativa do governo em relação à regulamentação da propaganda infantil, através da criação de leis de combate aos comerciais apelativos para as crianças. Além disso, o Estado deve estimular campanhas de alerta para o consumo moderado. Porém, uma transformação completa deve passar pelo sistema educacional, que em conjunto com o âmbito familiar pode realizar campanhas de conscientização por meio de aulas sobre ética e moral. Quem sabe, dessa forma, a sociedade possa tornar a geração infantil uma consumidora consciente do futuro, sem perder a pureza proposta pelo Movimento Romântico.
Também tirou nota 1000 na redação e tem o rascunho dela? Envie seu texto para sociedade@oglobo.com.br com o comprovante das notas


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2 comentários:

  1. Mais o máximo de linhas no enem não são 30? a redação deles foi bem maior quando passada para a folha escrita a caneta, levando em conta que minha letra é pequena.

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