quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

PEDRAS DE AMOLAR


Sêo Oscar era um dos homens mais ricos da Bahia, com certeza o maior cacauicultor individual do mundo à sua época.
A fama dele corria léguas e mais léguas: homem previdente, astuto e trabalhador. Ninguém lhe passava a perna. Corria a estória de que até seu genro tinha tentado assassiná-lo (de olho na gorda fortuna!), porém não havia logrado êxito, pois Sêo Oscar fora mais esperto...
Havia migrado de Sergipe para o sul da Bahia em busca de terras e riquezas. E as conseguiu, com muito suor e dedicação.
O tempo passava e Sêo Oscar só prosperava ainda mais.
Certa feita ele se dirigiu ao antigo Banco Nacional – era um dos maiores correntistas da instituição – e pediu para reaver sua aplicação. Era muito dinheiro. O Banco consultou o saldo: mais de milhões! Trabalheira danada. Contaram, recontaram. Colocaram em várias maletas o seu valioso vintém. No fim do dia, quando lhe entregaram o montante, ele disse ao gerente:
- Ô, seu menino, sabe de uma, não vou levar o dinheiro, não... Só queria saber se vocês tinham guardado ele bem, aí...
As más línguas criaram inúmeras lendas sobre Sêo Oscar, como a de que ele amarrava um comprimido de melhoral e tomava para passar a dor de cabeça constante. Quando estava bom da dor, puxava de volta o cordão, guardando o remédio para uma próxima vez...
Como disse, muitas, muitas lendas! E o homem era famoso por elas.
Mas um fato real aconteceu que supera a todos os demais, e que de forma alguma vem abonar o seu caráter, senão mostrar o seu espírito capitalista e de visão de mercado aguçadíssimo.
Juntando os dedos dos pés e das mãos não dava para contar a quantidade de fazendas de Sêo Oscar. Eram inúmeras. Todas produtivas, o que o fez colher a incrível soma de 120 mil arrobas de cacau.
Enfim, ele tinha em uma das suas “terrinhas” uma pedreira mui valiosa e que ele não sabia do fato. Depois de aplainar o local para nova cultura agrícola, várias pedras de amolar apareceram quebradas no terreno. De todos os tamanhos e formas.
Seu funcionário o alarmou para o caso, ele não se fez de rogado. Mandou-o se dirigir à maior loja de ferragens e material de construção da cidade e perguntar se o dono, Sêo Nicodemos, tinha a tal pedra para vender.
- Olha, meu filho, tenho três pedrinhas aqui, muito boas...
Sêo Oscar mandou então o trabalhador comprar as três. Seu funcionário, intrigado, ficou de orelha em pé: “Cumé que pode, o homi tem num sei quantas na fazenda dele e manda cumprá?
E durante as duas semanas seguintes, o conhecido cacauicultor mandava alguns dos seus mais de trezentos funcionários irem ao comerciante, um ou dois por dia, para perguntar se tinha pedra de amolar para vender.
- Ô, meu filho, num tem não... Acabou! – Sempre respondia, mas pensando de si para si no faro comercial: “Meu Deus, tou perdendo um dinheiro da disgrama sem essas pedras aqui!”
Passando o tempo supracitado, Sêo Oscar telefona para o amigo, dono da loja, como quem não quer nada:
- Ô Nicó, lá nas minhas “terrinhas” descobri umas pedrinhas de amolar... Você não tem interesse, não, Nicó?
- Mas, Oscar, eu tenho e muito...
Fecharam negócio, e Sêo Oscar mandou tantas carretas de pedras para o amigo Nicó, que este, vindo a morrer trinta anos após, ainda tinha pedras de amolar para vender!
* Gustavo Atallah Haun é professor, formado em Letras, UESC, e ministra aula em Itabuna e região. Escreve para jornais de Itabuna, Ilhéus e edita oblogderedacao.blogspot.com (g_a_haun@hotmail.com). É maçom, da Loja Acácia Grapiúna.

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