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sábado, 1 de junho de 2013

BOM FINAL DE SEMANA!

Grande Vinícius de Moraes!

Receita de mulher

As muito feias que me perdoem
Mas beleza é fundamental. É preciso
Que haja qualquer coisa de dança, qualquer coisa de haute couture
Em tudo isso (ou então
Que a mulher se socialize elegantemente em azul, como na República Popular Chinesa).
Não há meio-termo possível. É preciso
Que tudo isso seja belo. É preciso que súbito
Tenha-se a impressão de ver uma garça apenas pousada e que um rosto
Adquira de vez em quando essa cor só encontrável no terceiro minuto da aurora.
É preciso que tudo isso seja sem ser, mas que se reflita e desabroche
No olhar dos homens. É preciso, é absolutamente preciso
Que tudo seja belo e inesperado. É preciso que umas pálpebras cerradas
Lembrem um verso de Eluard e que se acaricie nuns braços
Alguma coisa além da carne: que se os toque
Como ao âmbar de uma tarde. Ah, deixai-me dizer-vos
Que é preciso que a mulher que ali está como a corola ante o pássaro
Seja bela ou tenha pelo menos um rosto que lembre um templo e
Seja leve como um resto de nuvem: mas que seja uma nuvem
Com olhos e nádegas. Nádegas é importantíssimo. Olhos, então
Nem se fala, que olhem com certa maldade inocente. Uma boca
Fresca (nunca úmida!) e também de extrema pertinência.
É preciso que as extremidades sejam magras; que uns ossos
Despontem, sobretudo a rótula no cruzar das pernas, e as pontas pélvicas
No enlaçar de uma cintura semovente.
Gravíssimo é, porém, o problema das saboneteiras: uma mulher sem saboneteiras
É como um rio sem pontes. Indispensável
Que haja uma hipótese de barriguinha, e em seguida
A mulher se alteie em cálice, e que seus seios
Sejam uma expressão greco-romana, mais que gótica ou barroca
E possam iluminar o escuro com uma capacidade mínima de 5 velas.
Sobremodo pertinaz é estarem a caveira e a coluna vertebral
Levemente à mostra; e que exista um grande latifúndio dorsal!
Os membros que terminem como hastes, mas bem haja um certo volume de coxas
E que elas sejam lisas, lisas como a pétala e cobertas de suavíssima penugem
No entanto, sensível à carícia em sentido contrário.
É aconselhável na axila uma doce relva com aroma próprio
Apenas sensível (um mínimo de produtos farmacêuticos!)
Preferíveis sem dúvida os pescoços longos
De forma que a cabeça dê por vezes a impressão
De nada ter a ver com o corpo, e a mulher não lembre
Flores sem mistério. Pés e mãos devem conter elementos góticos
Discretos. A pele deve ser fresca nas mãos, nos braços, no dorso e na face
Mas que as concavidades e reentrâncias tenham uma temperatura nunca inferior
A 37° centígrados podendo eventualmente provocar queimaduras
Do 1° grau. Os olhos, que sejam de preferência grandes
E de rotação pelo menos tão lenta quanto a da Terra; e
Que se coloquem sempre para lá de um invisível muro da paixão
Que é preciso ultrapassar. Que a mulher seja em princípio alta
Ou, caso baixa, que tenha a atitude mental dos altos píncaros.
Ah, que a mulher dê sempre a impressão de que, se fechar os olhos
Ao abri-los ela não mais estará presente
Com seu sorriso e suas tramas. Que ela surja, não venha; parta, não vá
E que possua uma certa capacidade de emudecer subitamente e nos fazer beber
O fel da dúvida. Oh, sobretudo
Que ele não perca nunca, não importa em que mundo
Não importa em que circunstâncias, a sua infinita volubilidade
De pássaro; e que acariciada no fundo de si mesma
Transforme-se em fera sem perder sua graça de ave; e que exale sempre
O impossível perfume; e destile sempre
O embriagante mel; e cante sempre o inaudível canto
Da sua combustão; e não deixe de ser nunca a eterna dançarina
Do efêmero; e em sua incalculável imperfeição
Constitua a coisa mais bela e mais perfeita de toda a criação inumerável.

terça-feira, 26 de março de 2013

SALVE: O AMOR EM SOL MAIOR RAIOU!

Capa do livro.

Muitas coisas já foram ditas sobre poesia. Dos formalistas russos à Escola de Frankfurt, passando pelo estruturalismo e teóricos uspianos, aqueles que não são abençoados com o estro poético tentam, a todo instante, categorizar, armazenar, enquadrar, estereotipar a poiesis em páginas enfadonhas de teoria literária.
Outros, no entanto, privilegiados, têm a oportunidade – ou a bênção – de virem ao mundo com as mentes iluminadas e as mãos criativas, vigorosas. Sem se importarem com a crítica, com os padrões, com os modelos que vigoram no orbe, imaginam, labutam e criam, reluzindo páginas de boa literatura à mancheia.
E o que dizer de um livro que foi escrito de forma mediúnica? É possível? Para aqueles que são leigos, ou que acham que é coisa do Mefistófeles, isso é possível através da mediunidade psicográfica. O maior médium de psicografia planetário foi o brasileiro, eleito o maior de todos os tempos por uma rede de televisão, Francisco Cândido Xavier, o nosso Chico Xavier (1910-2002).
E o mineirinho de Pedro Leopoldo publicou dessa forma 415 livros, de todos os gêneros e gostos. Embora sempre tivesse dito que era como um carteiro, que recebia a mensagem e passava adiante (nunca tendo recebido um real da venda dos mesmos, doando a instituições de caridade os direitos autorais!), notabilizou-se e angariou respeito até mesmo dos adversários da Doutrina Espírita, que ele professava.
Sim, mas por que esse introito todo? Ah, lembrei. Para falar do último lançamento lítero-mediúnico que ocorreu em nossa cidade. Um livro editado pela Editora do Conhecimento, magnífico, escrito única e particularmente com as penas do coração: Amor em Sol Maior! Poesia pura, lirismo consolador, delícia da alma redigida pelo espírito de Antônio de Deus, além de outros por este convidado, através do médium grapiúna Ary Quadros Teixeira.
São trovas belíssimas, livres, sem apegos a formalismos, mas com ritmo e cadência típico dos repentistas nordestinos. O livro nos traz lições como: “É o amor que liberta/Das algemas da dor/E ajuda em festa/A voltar ao Criador”, em Chuva de Luz, página 20. Além disso, mensagens, haikais e poemas em homenagem à Zumbi, à Revolução Francesa e a vários companheiros de jornada embelezam e humanizam ainda mais a obra.
Mas isso não é o mais importante. Vale ressaltar que toda renda do livro será revestida para a construção do Recanto de Potira, Núcleo de Promoção Social, no Bairro Nova Ferradas, em Itabuna, no entorno do lixão. O recanto, em fase de construção, terá atendimento médico, odontológico, fisioterápico e psicológico totalmente gratuitos para a população local. Ainda mais, continuarão a distribuição de enxovais e feiras por seis meses a gestantes carentes, como já vem acontecendo há anos.
É um trabalho digno e honesto, qual de formiguinhas incansáveis, porém que vale a pena a participação da sociedade.
Através da compra de um simples livro, todos estarão salvando vidas! Vidas destroçadas pelo establishment, relegadas à própria sorte, esquecidas pelo capitalismo predador, e que dependem somente da compaixão alheia.
* Gustavo Atallah Haun é professor, formado em Letras, UESC, e ministra aula em Itabuna e região. Escreve para jornais de Itabuna, Ilhéus e edita oblogderedacao.blogspot.com (g_a_haun@hotmail.com). É maçom, da Loja Acácia Grapiúna.

PENSAMENTO DO DIA: