segunda-feira, 3 de setembro de 2012

O “NÓ” EM QUESTÃO


O mundo está sofrendo enormes convulsões em todas as áreas. A todo instante são noticiados levantes, intifadas, revoltas, catástrofes.
Filhos matando os pais e pais matando os filhos já passaram para a ala do bestial cotidiano.
Drogadição, ser humano vivendo em lixões, abortos, penas de morte sumárias (sem julgamentos!), lavagens de dinheiro, falta de fé no próximo e em algo superior. Enfim, essa parece ser a trajetória atual do homem pós-ultra-moderno mergulhado em longa crise identitária.
Como se não bastasse, há ainda aqueles que desprezam a História, o outro, desdenham da condição alheia, invejam os que estão em postos de comando e, assim, fazem de tudo para derribá-lo, mesmo que com isso custe a vida de milhões.
É nessa perspectiva que se deve assistir ao incrível documentário O Nó, dirigido, produzido e roteirizado por Dilson Araújo.

Capa do documentário O Nó, de Dilson Araújo.

O documentário trata da inserção da praga moniliophtora perniciosa, vulgarmente apelidada de vassoura-de-bruxa ou VB, no ano de 1989, em toda a região cacaueira do sul da Bahia.
Através dos meios de comunicação fica-se sabendo que as verbas para a realização do documentário foram conseguidas entre os cacauicultores, entidades e empresas do ramo agropecuário - para denunciar e também servir de prova em peça jurídica -, e, à primeira vista, pode-se ter uma ideia preconcebida de unilateralidade, parcialidade, coorporativismo, ou seja, um filme para defender o lado dos antigos sinhozinhos e coronéis.
Mas não se trata disso. Pensar assim é pensar tacanho em frente aos fatos.
O documentário O Nó desvela uma realidade amplamente comprovada, vivida, sentida. Documentos oficiais perpassam por todo o enredo do filme, aliados aos depoimentos técnicos elucidadores e narrações (embora lentas, baixas e insípidas) que nos fazem ter uma visão mais global, percebendo a hecatombe biológica que aconteceu no sul do estado.
Ficam evidentes em O Nó o despreparo da Ceplac com a praga (mesmo a VB sendo conhecida nas regiões amazônicas e pela Ceplac deter uma verba superior ao do estado de Alagoas), o descaso dos governos com os produtores e a falta de representação política da região para levar o assunto em nível nacional.
Um fato interessante e perturbador na película é o depoimento do senhor Timóteo, um dos mentores do terrorismo biológico. Ele aponta todos os que faziam parte do núcleo político interno da Ceplac responsável pelo ato, deliberado para que essa Instituição não cerrasse as portas e também para destruir os cacauicultores ricos, que na maioria das cidades grapiúnas dominavam a política local.
E é ainda mais estranho e desconcertante saber que todos os apontados estão por aí, à solta, alguns até eleitos em sufrágio popular, pois segundo as investigações há um precedente de prescrição, o crime não pode ser julgado, não há indiciados.
É filme obrigatório para que todos aqueles que têm ligação umbilical com a região possa entender o que por aqui se passou. É assistir e se estarrecer. Sem pipocas e sem guloseimas para não engasgar: apenas desfrutando do choque brutal jogado na cara pela telinha.

Nenhum comentário:

Postar um comentário