sábado, 12 de outubro de 2013

SOMENTE A LÍNGUA PORTUGUESA...

Redação feita por uma aluna do curso de Letras, da UFPE Universidade Federal de Pernambuco (Recife), que venceu um concurso interno promovido pelo professor titular da cadeira de Gramática portuguesa.

Eis o texto:

Era a terceira vez que aquele substantivo e aquele artigo se encontravam no elevador. Um substantivo masculino, com um aspecto plural, com alguns anos bem vividos pelas preposições da vida. E o artigo era bem definido, feminino, singular: era ainda novinha, mas com um maravilhoso predicado nominal.
Era ingênua, silábica, um pouco átona, até ao contrário dele: um sujeito oculto, com todos os vícios de linguagem, fanáticos por leituras e filmes ortográficos. O substantivo gostou dessa situação: os dois sozinhos, num lugar sem ninguém ver e ouvir. E sem perder essa oportunidade, começou a se insinuar, a perguntar, a conversar.
O artigo feminino deixou as reticências de lado, e permitiu esse pequeno índice. De repente, o elevador pára, só com os dois lá dentro: ótimo, pensou o substantivo, mais um bom motivo para provocar alguns sinônimos. Pouco tempo depois, já estavam bem entre parênteses, quando o elevador recomeça a se movimentar: só que em vez de descer, sobe e pára justamente no andar do substantivo. Ele usou de toda a sua flexão verbal, e entrou com ela em seu aposto.
Ligou o fonema, e ficaram alguns instantes em silêncio, ouvindo uma fonética clássica, bem suave e gostosa. Prepararam uma sintaxe dupla para ele e um hiato com gelo para ela. Ficaram conversando, sentados num vocativo, quando ele começou outra vez a se insinuar.
Ela foi deixando, ele foi usando seu forte adjunto adverbial, e rapidamente chegaram a um imperativo, todos os vocábulos diziam que iriam terminar num transitivo direto.
Começaram a se aproximar, ela tremendo de vocabulário, e ele sentindo seu ditongo crescente: se abraçaram, numa pontuação tão minúscula, que nem um período simples passaria entre os dois. Estavam nessa ênclise quando ela confessou que ainda era vírgula; ele não perdeu o ritmo e sugeriu uma ou outra soletrada em seu apóstrofo. É claro que ela se deixou levar por essas palavras, estava totalmente oxítona às vontades dele, e foram para o comum de dois gêneros.
Ela totalmente voz passiva, ele voz ativa. Entre beijos, carícias, parônimos e substantivos, ele foi avançando cada vez mais: ficaram uns minutos nessa próclise, e ele, com todo o seu predicativo do objeto, ia tomando conta.
Estavam na posição de primeira e segunda pessoa do singular, ela era um perfeito agente da passiva, ele todo paroxítono, sentindo o pronome do seu grande travessão forçando aquele hífen ainda singular. Nisso a porta abriu repentinamente. Era o verbo auxiliar do edifício. Ele tinha percebido tudo, e entrou dando conjunções e adjetivos nos dois, que se encolheram gramaticalmente, cheios de preposições, locuções e exclamativas. Mas ao ver aquele corpo jovem, numa acentuação tônica, ou melhor, subtônica, o verbo auxiliar diminuiu seus advérbios e declarou o seu particípio na história.
Os dois se olharam, e viram que isso era melhor do que uma metáfora por todo o edifício. O verbo auxiliar se entusiasmou e mostrou o seu adjunto adnominal. Que loucura, minha gente. Aquilo não era nem comparativo: era um superlativo absoluto. Foi se aproximando dos dois, com aquela coisa maiúscula, com aquele predicativo do sujeito apontado para seus objetos. Foi chegando cada vez mais perto, comparando o ditongo do substantivo ao seu tritongo, propondo claramente uma mesóclise-a-trois. Só que as condições eram estas: enquanto abusava de um ditongo nasal, penetraria ao gerúndio do substantivo, e culminaria com um complemento verbal no artigo feminino.

O substantivo, vendo que poderia se transformar num artigo indefinido depois dessa, pensando em seu infinitivo, resolveu colocar um ponto final na história: agarrou o verbo auxiliar pelo seu conectivo, jogou-o pela janela e voltou ao seu trema, cada vez mais fiel à língua portuguesa, com o artigo feminino colocado em conjunção coordenativa conclusiva.

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

O "CHIC" AGORA É SER SIMPLES!

Entro numa loja e vejo um cartaz dizendo: Seja chic! Seja simples!
Perguntei ao comerciante de onde ele tinha tirado aquela ideia e ele me disse que depois que o Papa andou de carro simples, tomou chimarrão do povo e andou com o vidro aberto o tempo todo abraçando crianças e velhos, a simplicidade virou chic.
Cafona agora é querer privilégios e fazer ostentação, me disse ele.
Fiquei pensando no que falou o dono daquela loja e conversei com muitas pessoas a respeito. Todas me disseram ter a mesma sensação. Ostentar, usar coisas caras, exigir privilégios, ter carrões, etc. virou coisa de novo rico e, portanto, fora de moda, fora do tempo. A moda agora é ser simples.
E ser simples não significa não querer coisas de boa qualidade, nem viver na penúria. 
Ser simples é dar valor às pequenas coisas e aos pequenos gestos que o mundo de hoje esqueceu. É respeitar as pessoas pelo que elas são e não pelo possuem de bens materiais. É acabar com a arrogância, com a presunção. 
Ser simples é ser normal, sem afetação, sem se deixar dominar por desejos de aparecer, de ser aplaudido, de estar sempre nos holofotes.
Ser simples é reaprender a curtir a natureza em toda a sua exuberância. É reaprender a olhar nos olhos das pessoas quando falar com elas; ser educado com pessoas simples, balconistas, garçons, motoristas de ônibus, etc.
Ser simples é não perder a calma quando se é contrariado; falar baixo em lugares públicos; não falar mal dos outros. 
Enfim, ser simples é reaprender a ser gente.
E como seria bom se o mundo voltasse a ser povoado por gente normal e não por neuróticos cheios de vontade. Como seria bom se as pessoas voltassem a falar com licença, por favor, obrigado, me desculpe... Como seria bom se as pessoas reaprendessem a respeitar os mais velhos; ter mais afeto com as crianças. 
Como seria bom se as pessoas reaprendessem a amar o próximo e a lembrar que somos todos iguais.
Lembre-se: o chic agora é ser simples! Pense nisso. Sucesso!

Luiz Marins

terça-feira, 8 de outubro de 2013

TEMAS PARA TREINAR A REDAÇÃO NO ENEM

Vestibular

Enem 2013: temas para treinar para a redação

Problemas no sistema público de saúde estão entre os assuntos escolhidos — confira todos. Especialistas dão orientações sobre como desenvolver tópicos e se exercitar na dissertação

Raquel Carneiro
Parte essencial do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), a redação costuma ser temida pelos candidatos que entendem que a boa avaliação de seus textos pode fazer a diferença na hora de conquistar uma das disputadas vagas no ensino superior. Para superar o famoso "medo da folha em branco", a combinação de treino contínuo e muita leitura é fundamental para, no dia da prova, executar a tarefa com confiança e tranquilidade.
"Os temas propostos para redação no Enem sempre têm caráter social, ou seja, são relacionados a questões coletivas da atualidade", diz a professora de redação Vivian D’Angelo Carrera, do Cursinho do XI. Por isso, a leitura de notícias em jornais, revistas e sites é indispensável para formar um repertório de conhecimento e, assim, alimentar ideias e argumentos.
Já a prática faz com que o candidato reconheça a diferença entre os tipos de textos e encontre sua forma de expressão. "É bom escrever o tempo todo, para lapidar o próprio estilo e o senso crítico, que são coisas que não se formam na sala de aula", diz Eclícia Pereira, professora de redação do Cursinho da Poli. A recomendação é válida, já que o texto cobrado anualmente pelo Enem é do tipo dissertativo, ou seja, deve desenvolver um debate crítico sobre o tema proposto com argumentos do aluno para justificar e defender um ponto de vista.
A pedido do site de VEJA, professores especialistas em Enem selecionaram temas a partir dos quais os estudantes podem se exercitar — o que inclui leitura e reflexão sobre os assuntos e, por fim, redação. São temas que, à luz das últimas edições do Enem, poderiam perfeitamente motivar a redação do exame de outubro. Por isso, vale a pena conferir quais são os temas e como, segundo os professores, é possível desenvolvê-los em uma boa dissertação. Aos tópicos agora exibidos, serão acrescentados outros até outubro. Boa preparação! 

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL COMO TEMA DE REDAÇÃO DO ENEM

Redução da maioridade penal


O aumento de crimes cometidos por jovens com menos de 18 anos reacendeu a discussão sobre a redução da maioridade penal para 16 anos. A mudança alteraria o código do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) — que prevê que um jovem seja considerado culpado por suas ações apenas depois dos 18 anos. Isso faz com que a privação de liberdade para menores de idade infratores não supere os três anos.
Os examinadores do Enem poderiam questionar, por exemplo, qual a opinião do candidato sobre a eficácia da redução da maioridade penal.
Desenvolvimento: Para começar a refletir sobre o tema, levante questionamentos como: o que leva pessoas jovens ao crime? Por que elas trilham esse caminho? É um problema social ou de caráter? Questões como essas ajudam a desenvolver um ponto de vista; a partir de então, fica mais fácil defender uma posição ou outra.
Tenha cuidado: As regras do Enem exigem "respeito aos direitos humanos". Sendo assim, qualquer tipo de incitação à violência pode levar à desclassificação do candidato.

domingo, 6 de outubro de 2013

LEI DE COTAS COMO TEMA DE REDAÇÃO DO ENEM

A lei de cotas nas universidades


Contexto: A presidente Dilma Rousseff sancionou, em agosto de 2012, a lei das cotas, que reserva 50% das vagas de universidades federais a alunos oriundos de escolas públicas. A distribuição das 120.000 vagas a serem ocupadas dessa forma deverá observar ainda a cor da pele dos candidatos – sempre haverá, portanto, vagas reservadas a negros, pardos e índios na proporção dessas populações em cada estado. Metade dessas cotas é voltada a estudantes de famílias de baixa renda. As federais terão quatro anos para se adaptar às regras, sendo que, já em 2013, deverão reservar ao menos 25% das vagas.
Um tema como cotas poderia motivar diversas questões como as seguintes: as cotas universitárias podem minimizar desigualdades sociais no Brasil? Quais as prováveis consequências da adoção das cotas para as universidades brasileiras?
Desenvolvimento: A discussão sobre o sistema de cotas universitárias no Enem dificilmente discutirá se a adoção do mecanismo é certa ou errada, do ponto de vista do candidato. Isso porque as cotas já são uma realidade. Por isso, reflexões produtivas sobre o assunto devem se deter sobre as razões histórica da desigualdade entre os brasileiros e as ações possíveis para minimizá-la.

sábado, 5 de outubro de 2013

PETRÓLEO E PRÉ-SAL COMO TEMAS DE REDAÇÃO DO ENEM

O petróleo do pré-sal brasileiro


Contexto: Em 2007, a Petrobras anunciou a extração de petróleo a 180 quilômetros da costa e a 7.000 metros de profundidade, logo abaixo de uma espessa camada de sal. A estimativa inicial é que existam no chamado pré-sal brasileiro — área que se estende por 800 quilômetros do litoral, de Santa Catarina ao Espírito Santo — reservas de até 80 bilhões de barris. Apesar disso, a produção só começará dentro de alguns anos, pois são necessários grandes investimentos para realizar a extração submarina.
Em seus últimos dias de governo, o ex-presidente Lula sancionou a lei que estabelece o regime da partilha da exploração do pré-sal, definindo que estado e empresas dividirão a produção de óleo e gás — à União cabera capturar a maior parte da riqueza gerada com a atividade. A primeira licitação, que dará a um grupo privado o direito de explorar a área de Libra, na Bacia de Santos, será decidida através de leilão marcado para outubro.
O assunto pode motivar indagações como quais as vantagens e desvantagens de um país como o Brasil se tornar um grande produtor de petróleo ou ainda o destino que tal riqueza deve tomar. Governo e Congresso discutem a ideia de reverter parte dos royalties do pré-sal exclusivamente para a educação.
DesenvolvimentoUm encaminhamento possível para a dissertação é observar a questão do ponto de vista econômico. Ser um grande produtor de petróleo certamente terá efeitos positivos para o Brasil. Um caminho complementar é olhar o assunto pela óptica do meio ambiente. Aqui, emerge um detalhe importante: como combustível fóssil, o petróleo não gera energia limpa — caso da eólica e da hidrelétrica, por exemplo. Além disso, é uma energia não-renovável, ou seja, um dia vai se esgotar.
"Temas ambientais são comuns no Enem. Esta pode ser a oportunidade de o aluno apresentar conhecimentos de geografia, por exemplo, e conceitos sobre sustentabilidade", diz o professor de redação do Anglo Eduardo Calbucci.
Tenha cuidado: É importante entender que não existe uma postura certa ou errada no assunto. É possível apresentar visões diferentes de mundo, contanto que o ponto de vista seja defendido com bons argumentos. Deve-se redobrar a atenção para não ficar "em cima do muro" ou se contradizer durante a argumentação.

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

CASAMENTO GAY COMO TEMA DE REDAÇÃO DO ENEM

Casamento gay


Contexto: Algumas nações vêm reconhecendo o casamento entre pessoas do mesmo sexo, caso de ArgentinaFrança Uruguai — o assunto está ainda na pauta de Grã-Bretanha e de vários estados americanos. O tema também avançou no Brasil. Em 2011, o Supremo Tribunal Federal reconheceu a união estável homossexual. Em maio de 2013, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) aprovou uma resolução que obriga os cartórios a realizar o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo —  a medida ainda pode ser contestada no STF. Até então, os cartórios podiam se recusar a reconhecer tais uniões, e os casais precisavam recorrer à Justiça.
O assunto pode motivar abordagens como a igualdade de todos perante a lei ou ainda os novos arranjos familiares.
DesenvolvimentoA questão da igualdade de direitos é de fato o primeiro ponto a ser avaliado, diz Eclícia Pereira, professora de redação do Cursinho da Poli. No caso, casais homossexuais passam a ter as mesmas garantias e obrigações dos demais perante a lei.
Outra questão a ser observada é a mudança da estrutura familiar em curso. Além do núcleo tradicional — formado por pai, mãe e filhos —, estabelecem-se outros arranjos, a partir dos casais formados por parceiros do mesmo sexo. Até mesmo a adoção de crianças por esses casais pode ser um tema abordado.
Tenha cuidado: Para a redação do Enem, não importa sua opção sexual. Essa é, aos olhos dos examinadores, uma questão privada. O imporante é reconhecer no assunto um fenômeno social, que tem consequências e desdobramentos na vida de muitos cidadãos.

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

ÁLCOOL X TRÂNSITO COMO TEMA DE REDAÇÃO DO ENEM

Álcool e direção: combinação fatal


Contexto: Promulgada em 2008, a lei seca tem como objetivo reduzir os acidentes provocados por motoristas embriagados, endurecendo as punições contra quem bebe antes de dirigir. Assim, um condutor abordado pela polícia passou a ser considerado legalmente bêbado através de um exame, de sangue ou de bafômetro, se é constatada uma concentração mínima de 0,10 grama de álcool por litro em seu sangue.
Em dezembro de 2012, a presidente Dilma Rousseff sancionou a lei que torna mais rígidas as punições para motoristas flagrados dirigindo alcoolizados. Além do bafômetro e do exame de sangue, outros meios — como teste clínico, depoimento policial, testemunho, fotos e vídeos — passaram a valer como prova. A multa para quem for pego dirigindo bêbado é de 1.915,40 reais. E pode chegar a 3.830,60 reais se o indivíduo reincidir na infração no prazo de um ano.
endurecimento da aplicação da lei seca também passou por mudanças em janeiro de 2013, quando o Conselho Nacional de Trânsito (Contran) publicou uma medida que acabava com a margem de tolerância da quantidade de álcool por litro de sangue. Ou seja, o condutor pode ser autuado se for constatada qualquer concentração alcoólica no sangue. Porém, mesmo com a lei, o volume de acidentes de trânsito decorrentes do consumo de álcool ainda é preocupante.
Uma recente pesquisa do Ministério da Saúde, divulgada em fevereiro de 2013, apontou que 21% dos acidentes estão relacionados ao efeito do álcool. E uma em cada cinco vítimas atendidas nos prontos-socorros estava embriagada.
Na redação do Enem, o assunto pode motivar abordagens como: imprudência no trânsito e medidas para reduzir a quantidade de acidentes ligados ao álcool.
Desenvolvimento: É importante saber que desde 2008, quando a lei seca foi promulgada, não houve alteração significativa na quantidade de acidentes com motoristas embriagados. Segundo o Ministério da Saúde, em 2010, mais de 42.000 pessoas morreram em acidentes. Isso tem também um custo alto para o país. Em 2011, 200 milhões de reais foram gastos no Sistema Único de Saúde (SUS) com vítimas da violência no trânsito, valor que não considera os custos com o Serviço de Atendimento Móvel de Urgências (Samu), as Unidades de Pronto Socorro e Pronto Atendimento e o processo de reabilitação do paciente, entre outros.
Um caso recente, que teve repercussão nacional, foi o do motorista alcoolizado que atropelou um ciclista em São Paulo: o impacto da batida foi tão forte que o braço da vítima foi arrancado. O motorista fugiu sem prestar socorro. O acidente pode ser citado nos textos da proposta de redação, motivando discussões sobre impunidade: no caso, o jovem condutor obteve um habeas corpus na Justiça e continua solto.
Após a apresentação do problema, o candidato pode apresentar seu ponto de vista. Alguns possíveis caminhos são relatar as causas e consequências do uso indiscriminado do álcool, assim como avaliar as campanhas educativas feitas até agora pelo governo e sua real eficácia. Também é possível propor o aumento da fiscalização, assim como o enrijecimento das leis na hora de punir motoristas pegos sob o efeito de álcool.
Tenha cuidado: “Se o candidato ficar preocupado apenas com o problema do consumo de álcool e voltar à sua argumentação para a questão do vício nessa e em outras substâncias, pode ficar configurado um desvio do tema”, explica Vivian d’Angelo Carrera, professora de redação do Cursinho do XI.

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

O TRANSPORTE URBANO COMO TEMA DE REDAÇÃO DO ENEM

A questão do transporte urbano no Brasil


Contexto: Em alta desde a recente explosão de protestos pelo Brasil, iniciados com o intuito de reivindicar a revogação do aumento da tarifas de ônibus e metrô em São Paulo, o tema do transporte público urbano é pauta em qualquer roda de conversas e também na imprensa. Não se trata, contudo, de um problema recente. Por isso, a questão da mobilidade urbana, ligada à má qualidade de serviços e aos preços relativamente altos, é um bom assunto para a preparação para a redação. Pode até mesmo figurar na redação do Enem.
É importante entender que o sistema de transporte urbano está longe de atender com qualidade a população, principalmente nas metrópoles. A principal causa disso, apontam os especialistas, é a falta de planejamento urbano e a insuficiência de investimentos. Em reportagem de VEJA.com publicada em março de 2012, especialistas já apontavam que os aportes ao setor no Brasil estavam atrasados cinco décadas. O número levou em conta dois aspectos: descaso público na expansão dos sistemas de trens e metrô (principal alternativa para grandes deslocamentos em área urbanas e meio menos poluente) e falta de vontade política para a elaboração de um plano de mobilidade urbana.
Segundo Vivian d’Angelo Carrera, professora de redação do Cursinho do XI que sugeriu o tema, outro problema relacionado é o aumento dos congestionamentos nas grandes cidades. Esse fenômeno, é claro, é decorrência das questões citadas acima — que levaram à explosão do número de veículos particulares nas ruas, em detrimento de corredores exclusivos para ônibus, por exemplo.
Desenvolvimento: Um caminho possível para iniciar o desenvolvimento do tema é elencar os problemas enfrentados pela população. Além dos já citados, é possível trazer à luz as dificuldades técnicas enfrentadas pelas linhas de trens existentes (no Rio e em São Paulo há registros recentes de paralisações), a questão da mão de obra que trabalha no setor (a ocorrência de greves, por exemplo), e a superlotação de ônibus e trens.
Após esse levantamento, o candidato pode avaliar propostas de solução para o problema. Uma boa alternativa é listar exemplos de sistemas utilizados em outros países que conseguiram unir eficiência e qualidade. É o caso do transporte de Londres, que mantém uma das redes mais complexas – e funcionais – de integração urbana do planeta. O ponto de partida para a rede da capital inglesa é o metrô, que foi projetado para interligar todos os locais da cidade; em caso de problema nas linhas, uma eficiente rede de transporte alternativo serve de plano B à população. É o caso do sistema de ônibus — os famosos carros vermelhos de dois andares que trafegam em corredores exclusivos, o que garante uma boa velocidade durante a viagem.
Londres também é uma das cidades europeias que aprendeu a conviver pacificamente com bicicletas no trânsito. O exemplo poderia ser seguido pelos governantes brasileiros, criando mais ciclovias e sinalização para os ciclistas.
Tenha cuidado: Todas as providências necessárias para atacar o problema exigem investimentos por parte do governo. E gastos públicos, no Brasil, muitas vezes podem levar o candidato a discutir a questão da corrupção e desvios. Contudo, voltar a redação para esses assuntos pode caracterizar um desvio de tema, aumentando a dificuldade de conclusão do texto e apresentação de soluções, alerta a professora Vivian.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

A MULHER COMO TEMA DE REDAÇÃO DO ENEM

A transformação do papel da mulher na sociedade contemporânea


Contexto: A questão da transformação do papel da mulher na sociedade é um bom treino para a redação do Enem porque engloba, entre outros, tópicos relativos a mercado de trabalho e igualdade de direitos — abordagens de exames anteriores. “As redações do Enem em geral optam por temas de caráter social. A mudança do papel da mulher ainda não apareceu e, por isso, pode ser uma aposta”, diz a professora Vivian D’Angelo Carrera, do Cursinho do XI.
O primeiro passo para desenvolver esse tipo de assunto em um texto argumentativo é analisar, por exemplo, o contexto histórico da mulher na sociedade brasileira. “A história aponta para uma modificação grande e acelerada na atuação da mulher no último século. Isso fica claro quando lembramos que elas conquistaram direito ao voto em 1932 e que hoje há uma mulher à frente da Presidência da República”, diz a professora de redação do Curso Etapa Simone Ferreira Gonçalves Motta.
Apesar das conquistas, a mulher ainda não possui as mesmas oportunidades que os homens em muitas áreas e situações. Elas costumam, por exemplo, ganhar menos no mercado de trabalho para exercer a mesma função. Isso pode motivar abordagens sobre o que deve ser feito para garantir a elas direitos e oportunidades já conferidos a eles.
Desenvolvimento: Um bom ponto de partida para o tema é relembrar passagens importantes da história e, a partir disso, elaborar uma comparação entre os direitos que a mulher possuía no passado e os que possui atualmente. É o caso do já citado direito de voto. Hoje, elas são maioria no universo de eleitores do Brasil, segundo informações do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
As mudanças, é claro, não se restringem a essa. As mulheres obtiveram conquistas legais, mas não só. Do ponto de vista do comportamento derrubaram, especialmente após a II Guerra Mundial, antigas tradições e preconceitos. As vitórias incluem o direito de estudar, de trabalhar e de ter ou não filhos (e em que número). Nesse ponto, a transformação está intimamente ligada à revolução feminista, na década de 1960, impulsionada pela popularização da pílula anticoncepcional.
Os avanços não podem ignorar os problemas que perduram. É o caso das desigualdades no mercado de trabalho, o acúmulo de deveres dentro e fora de casa e também a violência doméstica.
Por norma, a redação do Enem cobra respeito aos direitos humanos. Ainda que a regra seja imprecisa, para dizer o mínimo, ignorá-la pode levar à anulação da dissertação. Na avaliação da professora Simone, a aplicação da norma ao tema do papel da mulher na sociedade contemporânea conduz obrigatoriamente à defesa da igualdade de direitos — inclusive entre gêneros. “Se todos são iguais, não há motivos para a mulher ser tratada de forma diferente, ganhar menos, por exemplo”, diz.
Tenha cuidado: Fuja de clichês como “sexo frágil”, que não servem mais como elogio; se mal utilizados, podem soar como preconceituoso. Não esqueça também que falar sobre abusos sofridos pelas mulheres, por exemplo, pode ser parte da dissertação, mas não o tema principal.
 

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

SAÚDE PÚBLICA COMO TEMA DE REDAÇÃO DO ENEM

                   A saúde pública brasileira na UTI



Contexto: Os problemas da saúde pública no Brasil são antigos e bem conhecidos, mas voltaram a ser foco de discussão após os protestos desencadeados em junho. Apesar da alta carga tributária em vigor no país, os brasileiros sofrem com um atendimento de saúde precário, que acumula reclamações como demora no atendimento, infraestrutura insuficiente, médicos mal distribuídos pelo território nacional e profissionais despreparados e até negligentes.
Sob o pretexto de atender as exigências da população, o governo apresentou o controverso programaMais Médicos. Anunciado pela presidente Dilma Rousseff e pelos ministros Aloizio Mercadante (Educação) e Alexandre Padilha (Saúde) no dia 8 de julho, o pacote previa, inicialmente, soluções como o incentivo para médicos atuarem longe dos grandes centros (onde são escassos), aimportação de profissionais estrangeiros, dois anos extras na formação dos alunos de medicina com atendimento obrigatório no Sistema Único de Saúde (SUS) e a expansão de vagas nas faculdades de medicina. Por causa da resistência do meio acadêmico, o programa ainda está em discussão. Mas uma proposta do governo já caiu: os dois anos a mais na formação dos médicos foramtransformados em parte da residência médica.
Desenvolvimento: “A redação do Enem apresenta um problema a ser solucionado. Então, a melhor maneira de começar o texto é elencar as questões adversas e pensar em maneiras de resolvê-las”, diz a professora de redação Daniela Aizenstein, do CPV Vestibulares.
Segundo ela, o aluno pode debater sobre o programa proposto pelo governo e analisar os pontos favoráveis e desfavoráveis. Por exemplo: quais os problemas decorrentes da “importação” de médicos estrangeiros e o que fazer para superar essas dificuldades? O mesmo vale para a iniciativa de levarfaculdades de medicina para regiões mais afastadas das grandes capitais e assim por diante.
Ao analisar os pontos listados, o aluno deve propor soluções que exponham seu ponto de vista. Algumas respostas possíveis são investimentos em infraestrutura de hospitais, principalmente em locais afastados, como meio para atrair médicos. A valorização do profissional da saúde e a melhoria da sua qualificação também são bons argumentos.
Tenha cuidado: Mesmo sendo um tema controverso, não existe um posicionamento certo ou errado. Por isso, não é necessário ficar com receio de apresentar uma proposta “errada”. “A ideia é incentivar o aluno a pensar e buscar respostas, mostrar maturidade”, diz Daniela.

(Fonte: http://veja.abril.com.br/noticia/educacao/enem-2013)

sábado, 28 de setembro de 2013

TEXTO MARAVILHOSO DE MARCOS BISPO!

MINHA FILHA, JOVENS NO SHOPPING, AMIG@S E VAIDADES Q TODOS TEMOS  
Por: Marcos Bispo Santos
Começou a Primavera! E o mês de outubro na Igreja Católica sempre foi dedicado à Juventude. Isso e mais o que tenho visto e vivido, aliado à angústia de ficar sem escrever (só lendo e lendo muito!), me fez voltar ao teclado e proclamar este texto. Dia desses fui ao Shopping “garimpar” filmes clássicos no saldão da Americanas (estou à procura de ‘Os Miseráveis’). E tomei UM SUSTO com uma multidão de jovens que estavam por lá numa noite de sábado. O que Frei Betto já correlacionou em um dos seus livros (“... que o Shopping Center é a ‘Catedral’ do mundo moderno”), eu confirmei de modo estarrecedor: meninos e meninas, de 17, 16, 15, 14 e até 13 anos, SOZINHOS, maquead@s, cabelos fashion e roupas pós-modernas idolatravam o único deus que lhes foi dado a conhecer: O HEDONISMO. A grande maioria não fazia, literalmente, nada. Apenas demonstravam um imenso prazer de estar ali, com vitrines, marcas, vendo exibições e exibindo-se.
Eu eduquei minhas filhas e o meu filho com valores idênticos aos das comunidades dos Atos dos Apóstolos, de Canudos, das CEBs e dos primeiros Franciscanos que chegaram ao Convento dos Capuchinhos de Itabuna, em fins dos anos 80. Sei que a maioria dos jovens e muitos dos adultos, dirão que são valores ultrapassados, sem espaço no mundo pós-moderno, dos IPhones, IPads, Tablets e fast-foods multinacionais. Será mesmo que duas décadas de novas manifestações culturais podem apagar séculos e milênios de modos de vida que produziram felicidade para muito mais gente e por muito mais tempo??? Sei também que muit@s d@s minhas/meus antig@s companheir@s se perderam em outras idolatrias, como a políticos, partidos, facções ideológicas e a marcas de cerveja, cada vez mais hegemônicas, nos comerciais de TV e no tempo que toma de cada um/a delas/es. E por isso, produtos (como livros) e valores (como todas as primeiras religiões) que duraram séculos, foram e estão sendo devastados pelo mercado, que precisa urgentemente, contar com os hormônios e a gula consumista das gerações “Y” e “Z”, marcadas por uma dificuldade imensa de ler, analisar, debater e espiritualizar a sua existência.
Mesmo minhas filhas e o meu filho (que receberam de mim todo o ideário do Cristo, de Francisco de Assis, de Gandhi, de Antônio Conselheiro, de Chico Mendes e Marina Silva), percebo que são tragad@s paulatinamente pela sociedade de consumo. Eu mesmo, dia desses precisei trocar os óculos. Fiz orçamentos em 3 óticas, como me acostumei a fazer nas compras da Escola. Pesquisei nas que considero as 3 maiores, por ser pioneiras ou ter melhores preços e estrutura. Resultado: a que oferecia a melhor armação para o novo tratamento indicado para meus olhos, tinha a armação “nike”. E aí? Não compraria óculos por ter esta marca. Não, não pude rejeitar o melhor orçamento porque seria em armações desta marca multinacional. Até porque o segundo melhor orçamento, em armações de uma marca menos “vilã”, me custaria R$ 100 a mais. Parece então que não temos saída. O que então é possível fazer para viver num mundo globalizado (outra vez parafraseando Frei Betto, “globo-colonizado”) e altamente bombardeado por apelos consumistas e dominado pelas grandes marcas, sem perder o essencial de nossa identidade?
Talvez o caminho escolhido por alguns de meus melhores amigos, de não ter “facebook” seja uma alternativa de resistência. Alguns especialistas recomendam distância das drogas para não viciar-se nelas. Nas redes sociais, vê-se um desfile interminável de vaidades, que vai desde a lista de amig@s (???), passando por fotos e mais fotos de lugares supostamente irresistíveis, chegando até à troca de informações do que se julga ser objeto de cobiça ou admiração alheia. Vou usar os meus óculos com a marquinha da Nike com certa angústia, mas compensarei tal sentimento com o prazer de continuar usando sapatilhas e sandálias de couro cru, compradas em Euclides da Cunha. Mesmo sabendo que tenho “N’s” filmes nos canais por assinatura, vou teimar em desligar a TV por uma ou duas horas à noite e vou ler novos livros (todos os de Laurentino Gomes) e reler os clássicos e Poesia, como Neruda, Graciliano, Cora Coralina, Rachel de Queiróz, Thiago de Mello, Jorge Amado, Fernando Pessoa e José Saramago.
Minha filha de 19 anos decidiu partir para Salvador e tentar trabalhar e viver por lá. Tomou essa decisão em total desalinho com o que a ensinei e demonstrei a vida inteira: sem formação completa (apenas com o Ensino Médio) e sem uma base segura de apoio, não mude para longe de sua primeira família. Num mundo globalizado, que expliquei e exemplifiquei até aqui, ninguém quer dividir preocupações, nem responsabilidades (por menores que seja) com ninguém. Tod@s vivem em função de conquistar espaços e títulos, pagar as contas e alimentar o “facebook”. Tenho tentado, com meus exemplos e com todo o meu amor, direcioná-la para “portos seguros”, mas sinto que à distância e sem apoios consistentes na capital, ela tem trilhado caminhos diferentes dos que um bom pai gostaria e isso tem sido causa de muita insônia e sensação de que estou perdendo esta importante batalha para o “deus hedonista”. Quem tem filh@s e ama @s filh@s, sabe: não @s geramos e criamos para serem submetidos às mesmas explorações e pressões capitalistas pelas quais passamos. Sei que nenhum ser humano é uma ilha, mas gostaria de criar minha própria Ilha, com a capelinha e o pregador que existiu em Canudos, todos os meus familiares QUE AGEM COMO FAMÍLIA, amig@s e colegas das CEB’s, dos primeiros grupos de Crisma, do Grupo Temático Pedro Casaldáliga, do C.A. de Letras e gente das Aldeias Indígenas. E lá, todos os dias, no início da noite, teríamos celebrações, e logo em seguida, uma cantoria e arrastapé, com todos os cantores pernambucanos, paraibanos, alguns cearenses e tantos outros do norte e sul da Bahia.
* Marcos Bispo Santos é professor de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira da Rede Municipal de Itabuna; diretor do Colégio Estadual da Aldeia Indígena Caramuru Paraguaçu, Pau Brasil – BA. Colaborador da Revista Viração:     www.revistaviracao.com.br/ Fones: 73) 8177-1734 / 8805-9893/ 9141-8713.       educadorpolitico@hotmail.com

domingo, 22 de setembro de 2013

ENTREVISTA COM UBIRATAN D'AMBROSIO

A Paz Nas Escolas
Conheça as ideias do mestre Ubiratan D'Ambrosio, um homem com o olhar sempre apaixonado para o futuro

 Texto • Kátia Stringueto

Transdisciplinaridade é uma palavra esquisita e guarda um conceito ainda novo para nossos ouvidos leigos, mas vem recebendo a atenção da academia há tempos. O professor Ubiratan D’Ambrosio é um dos primeiros a falar disso no Brasil. “Trans” é mais que “multi”. É para “além de”. É um universo em que as disciplinas – matemática, literatura, geografia etc. – não só se complementam, mas principalmente incluem o indivíduo, o que sente e pensa. Nessa abordagem, a escola tem um papel fundamental na educação para a paz.

Professor emérito de matemática da Universidade Estadual de Campinas e, atualmente, da pós-graduação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e da Universidade de São Paulo, este paulistano do bairro do Brás é um resgatador de esperança. “Só quem pode surgir com o novo é o novo. E o novo são as crianças. Com elas, poderão vir as respostas que não encontramos”, declara.

Em sua biblioteca, com mais de 10 mil livros, D’Ambrosio recebeu a reportagem de BONS FLUIDOS para esta entrevista.

BF –“Violência vem de medo. Medo, de incompreensão, que vem de ignorância. E ignorância se combate com educação.” O senhor costuma citar essa frase da professora americana Leah Weels. Como a sala de aula pode contribuir para a paz?
UD –Educação é preparar para o futuro. Os governantes pensam que isso é instrumentalizar mão-de-obra para uma indústria que está se desenvolvendo, instruir para a cidadania de modo que o sujeito seja cumpridor de leis. Mas, se só pensarem desse jeito, nós não teremos muito futuro. Corremos o risco de formar uma geração, duas, três para viver como nós, e esse é um mundo inviável. Um bom engenheiro, um bom agricultor, o que eles vão fazer? Abrir mais terreno para plantar mais. E isso sabemos que tem impacto no meio ambiente. Você tem que produzir mais alimento, claro, mas não deve sacrificar uma fonte vital, como a água e as árvores. O que cabe a nós, educadores, engenheiros, cientistas? Encontrar alternativas.

BF – Por onde se começa?
UD – Incluindo os aspectos emocional e espiritual. Na hora em que você faz uma usina hidrelétrica e cobre um lugar onde estavam as raízes de muitas pessoas, nem percebe a angústia que gerou. A transposição do rio São Francisco é o caso mais recente. O rio se passasse por outra região, beneficiaria mais gente. Há méritos nisso. Por outro lado, as pessoas que hoje estão perto dele sentirão um vazio quando ele mudar de lugar. E não estamos pensando no impacto desse vazio a médio e longo prazo. É mais ou menos o que acontece com uma árvore sem raiz. Se bater um vento forte, ela tomba. Assim se dá com o indivíduo que imigrou para fugir da seca, para fugir da violência, para buscar novas oportunidades. O que acontece com ele? Como fica seu passado e sua tradição?

BF – Ele carrega tudo consigo, não?
UD – Isso desaparece. Mesmo na cozinha. Os filhos começam a comer mais fast food do que a comida tradicional dos pais. Então, a escola básica tem como responsabilidade valorizar a cultura dos pais. Estimular a curiosidade da criança, pedindo para ela perguntar, por exemplo, como era a vida deles ou com o que o pai brincava quando tinha a idade dela. Dificilmente uma criança vai para casa perguntar uma coisa que só os pais sabem.

BF – Em qualquer extrato social?
UD – Os filhos dos engenheiros, dos professores, dos jornalistas enfrentam o seguinte problema: a falta de tempo dos pais. O pai paga o professor particular, dá um computador melhor, mas não estuda com o filho. A comunicação continua interrompida entre as gerações. Ao trabalhar com isso, a escola devolve a dignidade. Quando os pais se tornam detentores de um conhecimento que interessa ao filho, ambos se beneficiam. Isso valoriza a geração mais velha e dá às crianças legitimidade para admirar os pais. “Poxa, até que essa geração mais velha tem algo a oferecer”, pensam. E é nisso que se inserem as tradições. A escola pode ajudar? Mas é claro. Só a escola.

BF – Como o senhor relaciona a tradição e o combate à violência?
UD – Aí entra a crítica. Nessa lembrança do passado, os pais imigrantes, por exemplo, vão contar a violência social que os fez deixarem a casa, e os filhos, sentir que não é esse o caminho a repetir.

BF – O senhor está falando em recuperar a dignidade.
UD – Essa é a maior violência que pode haver. E a sala de aula pode interferir. Se você quer manter a vida, reconheça a essencialidade do outro. Simplesmente porque, sem ele, não há você nem nada mais será gerado. E não adianta só ser outro igual a você. Tem que ser diferente. Só posso dar continuidade à vida se encontro uma mulher e tenho um filho.

BF – Por que estamos tão longe desse raciocínio macro?
UD – Cada um se pensa como indivíduo, mas esquece que é uma criatura extinta se não tiver o outro. O que aconteceria com o Palmeiras se o Corinthians desaparecesse? Nos esportes, essa interdependência fica evidente: como os times podem jogar se forem iguais e não houver adversário? O conflito é importante. Agora, o conflito não significa o confronto, que tem por objetivo subordinar e mesmo eliminar uma das partes. A paz e a sobrevivência têm que ser baseadas na convivência entre os diferentes. Eu não vou transformar minha mulher em um homem para poder viver com ela. Ela vai poder ser mulher, completamente diferente. Isso, aliás, é o que há de mais criativo e agradável.

BF – A matemática, a gramática e a história ajudam o aluno da escola básica a entender a necessidade da diferença?
UD –Nossa conversa toda é mais de natureza filosófica, mas o modelo escolar nunca está separado. Vamos pensar na matemática. O professor diz: eu tenho tantos mil reais e o outro não tem nada. Para ter uma vida boa, precisaria de tanto. E o resto? Coloco no banco e ele vai aumentando. O outro tem quase nada. Mas ele precisa de coisas para sobreviver, assim como eu. Como vai fazer? Vai procurar no banco. O banco tem porque eu deixei o dinheiro que não uso lá. Aí o banco empresta para ele e cobra uma fortuna de juros. A minha vida fica cada vez mais perfeita porque eu ganho juros do outro. E a vida dele fica cada vez pior. Alguns dizem que esse tipo de reflexão não é para criança. Discordo.

BF – Qual seria, então, um sistema alternativo?
UD –Eu não sei. Os que estão aí na política também não. Quem pode saber um novo sistema? A criançada de hoje, que pode surgir com algumas idéias que a nós não ocorrem. Essa é uma grande falha da escola hoje. Estimula-se um sentimento de que alguém é melhor, o professor, e merece a medalha de ouro. Esquece-se de que, sem adversário, não haveria medalha alguma. Aí pode estar a raiz do conflito. Pois embute o conceito de que, se alguém é superior, o outro pode ser subjugado. Toda vez que o outro – seja uma criança, seja um povo – não é respeitado como ser pensante, há a possibilidade de o conflito virar um confronto. No fundo, é preciso aprender a lidar com o encontro de culturas. Evidentemente que há conflitos, mas precisam ser resolvidos sem o cala-boca. Assim se constrói uma criança livre, capaz de pensar por si. Se ela fizer isso, nós teremos uma chance de que pense o novo.

BF – Esse pensamento é bastante transdisciplinar, não?
UD –É. Todas essas coisas estão subordinadas a algo maior, no qual, penso eu, as crianças são como pássaros. Se vivem presas, com medo, sem poder falar muito porque falam errado, sem poder se mexer muito porque são estabanadas, acabam com um comportamento que não ajuda na formação do novo. A grande responsabilidade de nós, educadores, não é dizer que o mundo deve ser assim ou assado porque, se soubéssemos o que é melhor, já teríamos feito. Precisamos dar espaço à criança durante seu processo de aprendizado. Lá na frente, não basta abrir a porta da gaiola. Se ela não praticou, não saberá voar.

(FONTE: REVISTA BONS FLUIDOS)

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

15 TEMAS POSSÍVEIS DE REDAÇÃO PARA O CONCURSO DO TRT


TEMAS DE REDAÇÃO PARA O CONCURSO DO TRT:

- O trabalho na construção da dignidade humana;
- O trabalho infantil;
- O trabalho escravo em pleno século XXI;
- A humanização no ambiente de trabalho;
- A mais valia;
- O desemprego na sociedade de consumo;
- O papel do Estado na criação de novos postos de trabalho;
- A celeridade/morosidade da Justiça do Trabalho;
- As relações interpessoais no ambiente profissional;
- Ética e respeito no trabalho e na sociedade;
- Cotas para trabalhadores deficientes;
- A inclusão social e o trabalho;
- A PLR e o lucro das instituições;
- A meritocracia como incentivo;
- Violência ou assédio moral/sexual no trabalho.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

HISTÓRIA DE UM FDP

Meu nome é Afonso Soares, e resolvi contar algo que se passou comigo:
Estava sentado no meu escritório quando me lembrei de uma chamada telefônica que tinha que fazer. Encontrei o número e disquei. Atendeu-me um cara mal humorado dizendo:
- Fale!!!
- Bom dia. Poderia falar com Andréa? O cara do outro lado resmungou algo que não entendi e desligou na minha cara. Não podia acreditar que existia alguém tão grosso.
Depois disso, procurei na minha agenda o número correto da Andréa e liguei.
O problema era que eu tinha invertido os dois últimos dígitos do seu número. Depois de falar com a Andréa, observei o número errado ainda anotado sobre a minha mesa. Decidi ligar de novo. Quando a mesma pessoa atendeu, falei:
- Você é um Filho da puta!!! Desliguei imediatamente e anotei ao lado do número a expressão "Filho da puta" e deixei o papel sobre a minha agenda.
Assim, quando estava nervoso com alguém, ou em um mau momento do dia, ligava para ele, e quando atendia, lhe dizia "Você é um Filho da puta" e desligava sem esperar resposta. Isto me fazia sentir realmente muito melhor. Ocorre que a Telepar introduziu o novo serviço "bina" de identificação de chamadas, que me deixou preocupado e triste porque teria que deixar de ligar para o "Filho da puta". Então, tive uma ideia: disquei o seu número de telefone, ouvi a sua voz dizendo "Alô" e mudei de identidade:
- Boa tarde, estou ligando da área de vendas da Telepar, para saber se o senhor conhece o nosso serviço de identificador de chamadas "bina".
- Não estou interessado! - disse ele, e desligou na minha cara. O cara era mesmo mal-educado. Rapidamente, disquei novamente:
- Alô?
- É por isso que você é um Filho da puta!!! e desliguei. Aqui vale até uma sugestão: se existe algo que realmente está lhe incomodando, você sempre pode fazer alguma coisa para se sentir melhor: simplesmente disque 0xx41-xx43.6732 ou o número de algum outro Filho da puta a que você conheça (pode ser o Eurico Miranda), e diga para ele o que ele realmente é.
Acontece que eu fui até o shopping, no centro da cidade, comprar umas camisas. Uma senhora estava demorando muito tempo para tirar o carro de uma vaga no estacionamento. Cheguei a pensar que nunca fosse sair.
Finalmente seu carro começou a mover-se e a sair lentamente do seu espaço. Dadas às circunstâncias, decidi retroceder meu carro um pouco para dar à senhora todo o espaço que fosse necessário: "Grande!" pensei, "finalmente vai embora".
Imediatamente, apareceu um Vectra preto vindo do outro lado do estacionamento e entrou de frente na vaga da senhora que eu estava esperando. Comecei a tocar a buzina e a gritar:
- Ei, amigo. Não pode fazer isso! Eu estava aqui primeiro!
- O cara do Vectra simplesmente desceu do carro, fechou a porta, ativou o alarme e caminhou no sentido do shopping, ignorando a minha presença, como se não estivesse ouvindo.
Diante da sua atitude, pensei: "Esse cara é um grande Filho da puta! Com toda certeza tem uma grande quantidade de Filhos da puta neste mundo!". Foi aí que percebi que o cara tinha um aviso de "VENDE-SE" no vidro do Vectra.
Então, anotei o seu número telefônico e procurei outra vaga para estacionar.
Depois de alguns dias, estava sentado no meu escritório e acabara de desligar o telefone - após ter discado o 0xx41-xx43.6732 do meu velho amigo e dizer "Você é um Filho da puta" (agora já é muito fácil discar pois tenho o seu número na memória do telefone), quando vi o número que havia anotado do cara do Vectra preto e pensei: "Deveria ligar para esse cara também". E foi o que fiz. Depois de um par de toques alguém atendeu:
- Alô.
- Falo com o senhor que está vendendo um Vectra preto?
- Sim, é ele.
- Poderia me dizer onde posso ver o carro?
- Sim, eu moro na Rua XV, n° 27. É uma casa amarela e o Vectra está estacionado na frente.
- Qual e o seu nome?
- Meu nome e Eduardo C. Marques - diz o cara.
- Que hora é mais apropriada para encontrar com você, Eduardo?
- Pode me encontrar em casa à noite e nos finais de semana.
- É o seguinte Eduardo, posso te dizer uma coisa?
- Sim.
- Eduardo, você é um tremendo Filho da puta!! - e desliguei o telefone.
Depois de desligar, coloquei o número do telefone do Eduardo (que parecia não ter "bina", pois não fui importunado depois que falei com ele) na memória do meu telefone. Agora eu tinha um problema:
Eram dois "Filhos da puta" para ligar. Após algumas ligações ao par de "Filhos da puta" e desligar-lhes, a coisa não era tão divertida como antes. Este problema me parecia muito sério e pensei em uma solução: em primeiro lugar, liguei para o "Filho da puta 1". O cara, mal-educado como sempre, atendeu:
- Alô - e então falei:
- Você é um Filho da puta - mas desta vez não desliguei.
O "Filho da puta 1" diz:
Ainda está aí, desgraçado?
- Siiimmmmmmmm, amorrrrrr!!! - respondi rindo.
- Pare de me ligar, seu filho da mãe - disse ele, irritadíssimo.
- Não paro nããão, Filho da putinha querido!!!
- Qual é o teu nome, lazarento? - berrou ele, descontrolado!
Eu, com voz séria de quem também está bravo, respondi:
- Meu nome é Eduardo Cerqueira Marques, seu Filho da Puta. Por quê???
- Onde você mora, que eu vou aí te pegar, desgraçado? - gritou ele.
- Você acha que eu tenho medo de um Filho da puta? Eu moro na Rua XV, n°27, em uma casa amarela, e o meu Vectra preto está estacionado na frente, seu palhaço filho da puta. E agora, vai fazer o quê???? ? gritei eu.
- Eu vou até aí agora mesmo, cara. É bom que comece a rezar, porque você já era. - rosnou ele.
- Uuiii! É mesmo? Que medo me dá, Filho da puta. Você é um bosta! E eu estou na porta da minha casa te esperando!!! Desliguei o telefone na cara dele. Imediatamente liguei para o "Filho da puta 2".
- Alô - diz ele.
- Fala, grande Filho da puta!!!
- Cara, se eu te encontrar vou...
- Vai o quê? O que você vai fazer??? Seu Filho da puta!
- Vou chutar a sua boca até não ficar nenhum dente, cara!!!
- Acha que eu tenho medo de você, Filho da puta?
- Vou te dar uma grande oportunidade de tentar chutar minha boca, pois estou indo para tua casa, seu Filho da puta!!! E depois de arrebentar sua cara, vou quebrar todos os vidros desta ***** de Vectra que você tem. E reze para eu não botar fogo nessa casa amarelinha de *****. Se for homem, me espera na porta em 5 minutos, seu Filho da puta! - e bati o telefone no gancho. Logo, fiz outra ligação, desta vez para a polícia.
Usando uma voz afetada e chorosa, falei que estava na Rua XV, n° 57, e que ia matar o meu namorado homossexual assim que ele chegasse em casa.
Finalmente, peguei o telefone e liguei o programa da CNT "Cadeia", do Alborguetti, para reportar que ia começar uma briga de um marido que ia voltando mais cedo para casa para pegar o amante da mulher que morava na Rua XV, n° 27. Depois de fazer isto, peguei o meu carro e fui para Rua XV, n° 27, para ver o espetáculo.
Foi demais, observar um par de "Filhos da puta" chutando-se na frente de duas equipes de reportagem, até a chegada de 03 viaturas e um helicóptero da polícia, levando os dois algemados e arrebentados para a delegacia.
Moral da história? - Não tem moral nenhuma! Foi sacanagem mesmo...

E vê se atende ao telefone educadamente, pois pode ser eu ligando para você por engano...