segunda-feira, 11 de junho de 2012

RESENHA


Resenhar – fazer uma relação das propriedades de um objeto; enumerar cuidadosamente seus aspectos relevantes; descrever as circunstâncias que o envolvem.

Objeto resenhado – um acontecimento qualquer da realidade:

  • Jogo de futebol;
  • Uma comemoração solene;
  • Uma feira de livros;

                                  ou textos e obras culturais:

  • Um romance;
  • Uma peça de teatro;
  • Um filme.

A resenha pode ser:

A)      puramente Descritiva (sem nenhum julgamento ou apreciação do resenhador);

B)      ou Crítica (pontuada de apreciação, notas e correlações estabelecidas pelo juízo crítico de quem a elaborou)

A RESENHA DESCRITIVA

Consta de:

a)    uma parte descritiva em que se dão informações sobre o texto:

  • nome do autor (ou dos autores);
  • título completo e exato da obra (ou do artigo);
  • nome da editora e, se for o caso, da coleção de que faz parte a obra;
  • lugar e data da publicação;
  • número de volumes e páginas.

b)    uma parte com o resumo do conteúdo da obra:

  • indicação sucinta do assunto global da obra (assunto tratado) e do ponto de vista adotado pelo autor (perspectiva técnica, gênero, método, tom, etc.);
  • resumo que apresenta os pontos essenciais do texto e seu plano geral.

A RESENHA CRÍTICA

Consta dos seguintes requisitos básicos:

  • conhecimento completo da obra;
  • competência na matéria;
  • capacidade de juízo de valor;
  • independência de juízo;
  • correção e urbanidade;
  • fidelidade ao pensamento do autor.
Importância da resenha:

a) facilita o trabalho profissional ao trazer um breve comentário sobre a obra e uma avaliação da mesma;

b) a informação dada ajuda na decisão da leitura ou não do livro.

ESTRUTURA DA RESENHA:

1.    Referência Bibliográfica: autor (es); título (subtítulo); imprensa (local da edição, editora, data); número de páginas; ilustração (tabela, gráficos, fotos, etc.);

2.    Credencias do Autor: informações gerais sobre o autor; autoridade no campo científico; quem fez o estudo; quando? por quê? onde?;

3.    Conhecimento: resumo detalhado das idéias principais; de que trata a obra; o que diz; possui alguma característica especial; como foi abordado o assunto; exige conhecimentos prévios para entendê-lo?;

4.    Conclusão: o autor faz conclusões? (ou não?); onde foram colocadas (final do livro ou dos capítulos?); quais foram?

5.    Quadro de Referência do Autor: modelo teórico; que teoria serviu de embasamento?; qual o método utilizado?;

6.    Apreciação:

a)    Julgamento da Obra:
Como se situa o autor em relação:
- às escolas ou correntes científicas, filosóficas, culturais?
- as circunstâncias culturais, sociais, econômicas, históricas, etc.?

b)    Mérito da Obra:
Qual a contribuição dada?
Idéias verdadeiras, originais, criativas?
Conhecimentos novos, amplos, com abordagens diferentes?

c)    Estilo:
Conciso, objetivo, simples?
Claro, preciso, coerente?
Linguagem correta?
Ou o contrário?

d)    Forma:
Lógica, sistemática?
Há originalidade e equilíbrio na disposição das partes?

e)    Indicação da Obra:
A quem é dirigida: grande público, especialistas, estudantes?

(LAKATOS, E. M. e MARCONI, M. de A. Fundamentos de Metodologia Científica. 3ª ed. São Paulo: Editora Atlas, 1995.)

domingo, 10 de junho de 2012

A CRÔNICA



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(Grego krónos = tempo)
  
O vocábulo «crônica» mudou de sentido ao longo dos séculos. A princípio, designava um "relato cronológico dos fatos", isto é, uma lista ou relação de acontecimentos, organizados conforme a seqüência linear do tempo, ou seja, uma narração de episódios históricos. Em termos práticos a crônica se limitava a registrar os eventos, sem aprofundar-lhes as causas ou dar-lhes qualquer interpretação. Dentro dessa característica a crônica atingiu seu ápice após o século XII. Porém, nessa altura a crônica já exigia uma distinção: as que narravam acontecimentos com abundância de pormenores, com a intenção de esclarecer ou interpretar os acontecimentos numa perspectiva individual, recebiam o tradicional nome de «crônica». Em contrapartida, as “crônicas breves”, isto é, as simples e impessoais notações dos acontecimentos históricos, passaram a denominar-se «cronicões».
A partir do século XIX, com o avanço da imprensa e do jornal, a crônica passa a ostentar estrita personalidade literária. Assim entendida, a crônica teria sido inaugurada pelo francês Jean Lous Geoffroym,  em  1800,  no jornal “Des Débats” na forma de folhetim que, entre nós, apareceu depois de 1836. Não tinha, ainda, as características que tem hoje:

“Era um texto mais longo, publicado geralmente aos domingos no rodapé da primeira página do jornal, e seu primeiro objetivo era comentar e passar em revista os principais fatos da semana, fossem eles alegres ou tristes, sérios ou banais, econômicos ou políticos, sociais ou culturais. O resultado, para dar um exemplo, é que num único folhetim podiam estar, lado a lado, notícias sobre a guerra da Criméia, uma apreciação do espetáculo lírico que acabara de estrear, críticas às especulações na Bolsa e a descrição de um baile no Cassino."
(FARIA, João Roberto no prefácio de Crônicas Escolhidas de José de Alencar)

De lá para cá, o prestígio da crônica não tem deixado de crescer, a ponto de haver os que a identificam com a própria Literatura Brasileira ou a consideram nossa exclusividade.
De assunto livre, mas geralmente voltado para os pequenos fatos do cotidiano, a crônica é o único gênero literário produzido essencialmente para ser vinculado na imprensa, seja nas páginas de uma revista, seja nas de um jornal. De maneira, que ela é feita com uma finalidade pré-estabelecida: agradar aos leitores dentro de um espaço sempre igual e com a mesma localização, criando-se assim, no transcurso dos dias ou das semanas, uma familiaridade entre o escritor e aqueles que o lêem. Pelo seu caráter jornalístico a crônica é efêmera e, não raro, sobrevive ao tempo. Por isso, é que, posteriormente, são reunidas em livro. Assim, seu autor dá-lhe um status mais perpétuo, ou mais nobre.
Regra geral, a crônica é um comentário leve e breve sobre algum fato do cotidiano. Seu motivo, na maioria dos casos, é o pequeno acontecimento, isto é, a notícia que ninguém prestou atenção, o acontecimento insignificante, a cena corriqueira, trivialidades. Mas nem só de uma conversa despretensiosa a respeito do dia-a-dia vive a crônica. Com relativa freqüência, ela se aproxima do conto, devido a um tratamento literário mais apurado, principalmente no que tange a linguagem. Tanto é, que, muitas vezes, é difícil estabelecer as diferenças entre o conto e a crônica, pois, nesse caso, dela também participam personagens; o tempo e o espaço estão claramente definidos e um pequeno enredo é desenvolvido. Essa proximidade é que tem levado vários cronistas à prática mais ou menos disfarçada do conto. No entanto, esta diferenciação só é perceptível àquele com leitura contínua de contos e de crônicas. De qualquer maneira, há certa dificuldade de se estabelecer uma fronteira teórica entre ambos. Contudo, podemos enumerar algumas características da crônica que podem ser confrontadas com as do conto:
• Ligada à vida cotidiana. Depoimento pessoal, com estilo e pontos de vista individuais. Narrativa informal, familiar, intimista.
• Uso da oralidade na escrita = linguagem coloquial, às vezes sentimental, ou emotiva, ou ainda, irônica, crítica.
• Sensibilidade no contato com a realidade. Natureza ensaística. Síntese, brevidade, leveza, dose de lirismo.
• Uso do fato como meio ou pretexto para o artista exercer seu estilo e criatividade.
• Diz coisas sérias por meio de uma aparente conversa fiada.

OS VÁRIOS TIPOS DE CRÔNICA

Crônica Lírica ou Poética
Em uma linguagem poética e metafórica o autor extravasa sua alma lírica diante de episódios sentimentais, nostálgicos ou de simples beleza da vida urbana, significativos para ele. Como, por exemplo, em «Brinquedos Incendiados», de Cecília Meireles. Por vezes, esse tipo de crônica é construído em forma de versos poéticos. Contudo, tem-se observado estar, a crônica lírica ou poética, cada vez mais em desuso, provavelmente devido à violência e a degradação da vida nas grandes cidades brasileiras.

Crônica de Humor
Apresenta uma visão irônica ou cômica dos fatos em forma de um comentário, ou de um relato curto. Como em «Sessão de Hipnotismo», de Fernando Sabino. É uma crônica muito próxima do conto. Procura basicamente o riso, com certo registro irônico dos costumes.

Crônica-Ensaio
Apesar de ser escrita em linguagem literária; ter um espírito humorístico e valer-se, inclusive, da ficção; este tipo de crônica apresenta uma visão abertamente crítica da realidade cultural e ideológica de sua época, servindo para mostrar o que autor quer ou não quer de seu país. Aproxima-se do ensaio, do qual guarda o aspecto argumentativo. Paulo Francis e Arnaldo Jabor são dois grandes representantes desse tipo de crônica. Como exemplo, cito: Reality Show, de Marcelo Coelho.

Crônica Descritiva
Ocorre quando uma crônica explora a caracterização de seres animados e inanimados, num espaço vivo, como numa pintura.

Crônica Narrativa
Tem por base uma história (às vezes, constituída só de diálogos), que pode ser narrada tanto na 1ª quanto na 3ª pessoa do singular. Por essas características, a crônica narrativa se aproxima do conto (por vezes até confundida com ele). É uma crônica comprometida com fatos do cotidiano, isto é, fatos banais, comuns. Não raro, a crônica narrativa explora a caracterização de seres. Quando isso acontece temos a Crônica Narrativo-Descritiva.

Crônica Dissertativa
Opinião explícita, com argumentos mais “sentimentalistas” do que “racionais” (em vez de “segundo o IBGE a mortalidade infantil aumenta no Brasil”, seria “vejo mais uma vez esses pequenos seres não alimentarem sequer o corpo”). Exposto tanto na 1ª pessoa do singular quanto na do plural.

Crônica Reflexiva
Reflexões filosóficas sobre vários assuntos. Apresenta uma reflexão de alcance mais geral a partir de um fato particular.

Crônica Metafísica
Constitui-se de reflexos filosóficos sobre a vida humana.

Cada cronista é singular pelo estilo que apresenta. Portanto, a tentativa de classificar a crônica deve ser vista aqui como uma sugestão para você criar seu próprio texto.
A crônica teve um desenvolvimento específico no Brasil, não faltando historiadores literários que lhe atribuem um caráter exclusivamente nacional. Com efeito, a crônica como a entendemos, não é comum na imprensa de outros países. Por isso, entre nós, o prestígio da crônica não tem deixado de crescer. Machado de Assis, Olavo Bilac, Humberto Campos, Raquel de Queirós ou Rachel de Queiroz, Carlos Drummond de Andrade, Rubens Braga, Paulo Mendes, Paulo Francis, Arnaldo Jabor, Érico Veríssimo e tantos outros, cultivaram-na ou cultivam-na com peculiar engenhosidade, criatividade e assiduidade.®
__________________________________________
Ajudaram na construção deste texto: 
Eduardo Portela - Visão Prospectiva da Literatura Brasileira. 
Assis Brasil - Vocabulário Técnico de Literatura 
Massaud Moisés - A Criação Literária. 

Agradeço a leitura e, antecipadamente, qualquer comentário. Se você encontrar erros (inclusive de português), por favor, me informe. 
Ricardo Sérgio
Publicado no Recanto das Letras em 27/12/2007
Código do texto: T794029

sábado, 9 de junho de 2012

LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO


Luís Fernando Veríssimo nasceu em 26 de setembro de 1936, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Filho do grande escritor Érico Veríssimo, iniciou seus estudos no Instituto Porto Alegre, tendo passado por escolas nos Estados Unidos quando morou lá, em virtude de seu pai ter ido lecionar em uma universidade na Califórnia, por dois anos. Voltou a morar nos EUA quando tinha 16 anos, tendo cursado a Roosevelt High School de Washington, onde também estudou música, sendo até hoje inseparável de seu saxofone.
No jornal Zero Hora, começou a escrever crônicas, narrando de uma forma leve e engraçada, fatos de nosso cotidiano, indo desde assuntos como a política até os namoros do tempo de portão. Foi daí que surgiu seu estilo único, apreciado e comentado em todo o país.
Veja abaixo um dos textos mais conhecidos deste autor:

O povo

Não posso deixar de concordar com tudo que dizem do povo. É uma posição impopular, eu sei, mas o que fazer? É a hora da verdade. O povo que me perdoe, mas ele merece tudo o que se tem dito dele. E muito mais.
As opiniões recentemente emitidas sobre ao povo até agora foram tolerantes. Disseram, por exemplo, que o povo se comporta mal em grenais. Disseram que o povo é corrupto. Por um natural escrúpulo, não quiseram ir mais longe. Pois eu não tenho escrúpulo.
O povo se comporta mal em toda parte, não apenas no futebol. O povo tem péssimas maneiras. O povo se veste mal. Não raro, cheira mal também. O povo faz xixi e cocô em escala industrial. Se não houvesse povo, não teríamos o problema ecológico. O povo não sabe comer. O povo tem um gosto deplorável. O povo é insensível. O povo é vulgar.
A chamada explosão demográfica é culpa exclusivamente do povo. O povo se reproduz numa proporção verdadeiramente suicida. O povo é promíscuo e sem-vergonha. A superpopulação nos grandes centros se deve ao povo. As lamentáveis favelas que tanto prejudicam nossa paisagem urbana foram inventadas pelo povo, que as mantém contra os preceitos da higiene e da estética.
Responda, sem meias palavras: haveria os problemas de trânsito se não fosse pelo povo? O povo é um estorvo.
É notória a incapacidade política do povo. O povo não sabe votar. Quando vota, invariavelmente vota em candidatos populares que, justamente por agradarem ao povo, não podem ser boa coisa.
O povo é pouco saudável. Há, sabidamente, 95 por cento mais cáries dentárias entre o povo. O índice de morte por má nutrição entre o povo é assustador. O povo não se cuida. Estão sempre sendo atropelados. Isto quando não se matam entre si. O banditismo campeia entre o povo. O povo é ladrão. O povo é viciado. O povo é doido. O povo é imprevisível. O povo é um perigo.
O povo não tem a mínima cultura. Muitos nem sabem ler ou escrever. O povo não viaja, não se interessa por boa música ou literatura, não vai a museus. O povo não gosta de trabalho criativo, prefere empregos ignóbeis e aviltantes. Isto quando trabalha, pois há os que preferem o ócio contemplativo, embaixo de pontes. Se não fosse o povo nossa economia funcionaria como uma máquina. Todo mundo seria mais feliz sem o povo. O povo é deprimente. O povo deveria ser eliminado.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

INTERTEXTUALIDADE: PARÁFRASE E PARÓDIA

Intertextualidade acontece quando há uma referência explícita ou implícita de um texto em outro. Também pode ocorrer com outras formas além do texto, música, pintura, filme, novela etc. Toda vez que uma obra fizer alusão à outra ocorre a intertextualidade.
Apresenta-se explicitamente quando o autor informa o objeto de sua citação. Num texto científico, por exemplo, o autor do texto citado é indicado, já na forma implícita, a indicação é oculta. Por isso é importante para o leitor o conhecimento de mundo, um saber prévio, para reconhecer e identificar quando há um diálogo entre os textos. A intertextualidade pode ocorrer afirmando as mesmas ideias da obra citada ou contestando-as. Há duas formas: a Paráfrase e a Paródia.

Paráfrase
Na paráfrase as palavras são mudadas, porém a ideia do texto é confirmada pelo novo texto, a alusão ocorre para atualizar, reafirmar os sentidos ou alguns sentidos do texto citado. É dizer com outras palavras o que já foi dito. Temos um exemplo citado por Affonso Romano Sant’Anna em seu livro “Paródia, paráfrase & Cia” (p. 23):

Texto Original
Minha terra tem palmeiras
Onde canta o sabiá,
As aves que aqui gorjeiam
Não gorjeiam como lá.
(Gonçalves Dias, “Canção do exílio”).


Paráfrase
Meus olhos brasileiros se fecham saudosos
Minha boca procura a ‘Canção do Exílio’.
Como era mesmo a ‘Canção do Exílio’?
Eu tão esquecido de minha terra…
Ai terra que tem palmeiras
Onde canta o sabiá!
(Carlos Drummond de Andrade, “Europa, França e Bahia”).


Este texto de Gonçalves Dias, “Canção do Exílio”, é muito utilizado como exemplo de paráfrase e de paródia, aqui o poeta Carlos Drummond de Andrade retoma o texto primitivo conservando suas ideias, não há mudança do sentido principal do texto que é a saudade da terra natal.

Paródia
A paródia é uma forma de contestar ou ridicularizar outros textos, há uma ruptura com as ideologias impostas e por isso é objeto de interesse para os estudiosos da língua e das artes. Ocorre, aqui, um choque de interpretação, a voz do texto original é retomada para transformar seu sentido, leva o leitor a uma reflexão crítica de suas verdades incontestadas anteriormente, com esse processo há uma indagação sobre os dogmas estabelecidos e uma busca pela verdade real, concebida através do raciocínio e da crítica. Os programas humorísticos fazem uso contínuo dessa arte, frequentemente os discursos de políticos são abordados de maneira cômica e contestadora, provocando risos e também reflexão a respeito da demagogia praticada pela classe dominante. Com o mesmo texto utilizado anteriormente, teremos, agora, uma paródia.

Texto Original
Minha terra tem palmeiras
Onde canta o sabiá,
As aves que aqui gorjeiam
Não gorjeiam como lá.
(Gonçalves Dias, “Canção do exílio”).


Paródia
Minha terra tem palmares 
onde gorjeia o mar
os passarinhos daqui
não cantam como os de lá.
(Oswald de Andrade, “Canto de regresso à pátria”).


O nome Palmares, escrito com letra minúscula, substitui a palavra palmeiras, há um contexto histórico, social e racial neste texto, Palmares é o quilombo liderado por Zumbi, foi dizimado em 1695, há uma inversão do sentido do texto primitivo que foi substituído pela crítica à escravidão existente no Brasil.
Outro exemplo de paródia é a propaganda que faz referência à obra prima de Leonardo Da Vinci, Mona Lisa:


Referências
SANT’ANNA, Affonso Romano de. Paródia, paráfrase & Cia, 7.ed. São Paulo: Ática, 2000.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

MAIOR REDAÇÃO DE TODOS OS TEMPOS



FUVEST 89

Redação

Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.

Discuta as ideias contidas nos versos acima, confrontando-as com o momento que vivemos hoje no Brasil.

COMENTÁRIO SOBRE O TEMA:

Proposta de dissertação a partir de um fragmento do poema (Mar Português) de Fernando Pessoa.
Tema filosófico, de visão sobre o mundo e sobre a vida que se vive. É importante observar que nos versos existe uma proposição condicional, uma condição: A se B. É preciso discutir as duas ideias (Tudo vale a pena, a alma não é pequena) e a relação entre elas (Tudo vale a pena, se a alma não é pequena).
Também é importante ler com atenção o enunciado: ele pede que as ideias contidas nos dois versos sejam confrontadas com o “momento que vivemos hoje no Brasil”.
Torna-se necessário assim, relacionar o tema filosófico universal com a realidade brasileira de nossos dias.

REDAÇÃO: “SONHAR É PRECISO”

Nós somos do tamanho dos nossos sonhos. Há, em cada ser humano, um sebastianista louco, vislumbrando o Quinto Império; um navegador ancorado no cais, a idealizar "mares nunca dantes navegados"; e um obscuro D. Quixote de alma grande que, mesmo amesquinhado pelo atrito da hora áspera do presente, investe contra seus inimigos intemporais: o derrotismo, a indiferença e o tédio.
Sufocado pelo peso de todos os determinismos e pela dura rotina do "pão-nosso-de-cada-dia", há em cada homem um sentido épico da existência, que se recusa a morrer, mesmo banalizado, manipulado pelos veículos de massa e domesticado pela vida moderna.
É preciso agora resgatar esse idealista que ocultamente somos, mesmo que D. Sebastião não volte, ainda que nossos barcos não cheguem a parte alguma, apesar de não existirem sequer moinhos de vento.
Senão teremos matado definitivamente o santo e o louco que são o melhor de nós mesmos; senão teremos abdicado dos sonhos da infância e do fogo da juventude; senão teremos demitido nossas esperanças.
O homem livre num universo sem fronteiras. O nordeste brasileiro verde e pequenos nordestinos, risonhos e saudáveis, soletrando o abecedário.Um passeio a pé pela cidade calma.Pequenos judeus, árabes e cristãos, brincando de roda em Beirute ou na Palestina.
E os vestibulandos, todos, de um país chamado Brasil, convocados a darem o melhor de si no curso superior que escolheram.
Utopias?Talvez sonhos irrealizáveis de algum poeta menor, mas convicto de que nada vale a pena, se a alma é mesquinha e pequena.

COMENTÁRIO DA REDAÇÃO NOTA DEZ:

Esta é uma redação de alta qualidade, muito superior aos textos nota 10 que a FUVEST tradicionalmente divulga depois de cada Vestibular.
Observe que no primeiro parágrafo há a exposição da tese, do ponto de vista, logo na primeira frase: “nós somos do tamanho dos nossos sonhos”, ou seja, a alma é do tamanho dos seus sonhos e luta por eles, ela é grande, e a vida vale a pena. Em seguida, há três referências literárias e filosóficas, três metáforas, três símbolos representando o sonhador: o sebastianista, o navegador e o D. Quixote.
No segundo parágrafo, o texto discute a permanência do sonho, do sentido épico da vida, apesar de tudo.
E, a seguir, no terceiro parágrafo, retoma os três símbolos, as três metáforas.
O quarto e o quinto parágrafos apresentam cinco exemplos de sonhos, de esperanças.
O último parágrafo faz a conclusão, reafirmando a tese “nada vale a pena, se a alma é mesquinha e pequena”.

terça-feira, 5 de junho de 2012

A DISSERTAÇÃO DE LOCALIZAÇÃO ESPACIAL

Pois é...

Já foi dito anteriormente que os temas de vestibular, Enem ou concurso pode pedir uma dissertação direcionada (dissertação-argumentativa) ou geral (dissertação em prosa).
Caso aconteça a segunda opção, o redator está livre para escolher o modelo dissertativo que melhor se encaixar com o tema dado, sem regras fixas e sem dramas.

Definição:

Um dos direcionamentos que podem ocorrer é a redação dissertativa de localização espacial, que serve para fazer uma análise comparativa entre duas regiões.
Levando em conta certos aspectos: condições geográficas, economia, educação, cultura, entre outros, dos dois lugares analisados.  

Dica importante:

Para que o redator faça uma boa confrontação espacial é necessário que ele conheça o assunto, as especificidades de cada localidade, para não fugir da situação real, não cometer erros, não contrariar a lógica.

Estrutura 1


  • 1º parágrafo (Intro.): TEMA;
  • 2º parágrafo (Desenvolvimento): Análise do tema relacionado a área geográfica 1;
  • 3º parágrafo (Des.2): Análise do tema relaciona a área geográfica 2;
  • 4º parágrafo (Concl.): Expressão inicial + retomada do tema procedendo a uma análise comparativa referente a localização espacial.

Exemplo 1:

OS CONTRASTES REGIONAIS NO BRASIL

Comenta-se com frequência a respeito do grande contraste que existe entre algumas das regiões geográficas do Brasil. Muitas delas, aparentemente, são diferentes, mas podem-se encontrar também muitas semelhanças entre elas, como a língua e parte da cultura.
A Região Nordeste caracteriza-se por grandes extensões de terras áridas, sofrendo longos períodos de seca, seguido, às vezes, por inundações que assolam muitos pontos da região. As condições climáticas, associadas à atividade econômica, predominantemente agrícola, criam uma certa instabilidade. De lá saem frequentemente correntes migratórias, em busca de melhores condições de trabalho e de vida.
Por outro lado, a Região Sudeste abriga os maiores polos industriais do país. Sem precisar enfrentar as adversidades criadas pelas condições naturais, que nela ocorrem com menos frequência e intensidade, seus habitantes, que têm acesso a um melhor padrão de vida e de educação, constroem diariamente o progresso, através de sua força de trabalho.
Pela observação dos aspectos analisados, entende-se que existe um nítido contraste entre as regiões Nordeste e Sudeste, apesar de fazerem parte da mesma nação. Este contraste manifesta-se em vários níveis. As condições climáticas, o padrão de vida desfrutado pelas populações e as características socioeconômicas colocam essas duas regiões em planos opostos. Entretanto, o sentimento de unidade nacional, o desejo de transformar essa realidade, poderá, em futuro próximo, desencadear soluções para levar o desenvolvimento às áreas menos favorecidas.

Estrutura 2


  • 1º parágrafo (Intro.): TEMA;
  • 2º parágrafo (Des.1): Análise comparativa entre a região 1 e a 2 (abordagem em determinado aspecto); 
  • 3º parágrafo (Des. 2): Análise comparativa entre a região 1 e 2 (abordagem de um outro aspecto);
  • 4º parágrafo (Concl.): Expressão inicial + retomada do tema agora analisando em relação a localização espacial.  


Exemplo 2:

OS CONTRASTES REGIONAIS NO BRASIL II

Comenta-se com frequência a respeito do grande contraste que existe entre algumas das regiões geográficas do Brasil. Muitas delas, aparentemente, são diferentes, mas podem-se encontrar também muitas semelhanças entre elas, como a língua e parte da cultura.
Observando as condições climáticas, nota-se significativas diferenças. Por um lado, tem-se a Região Nordeste. Ela apresenta grandes extensões de terras áridas, enfrenta periodicamente o problema da seca, seguidas, às vezes, por inundações que assolam muitos pontos do seu território. Isso não se verifica na Região Sudeste, que, por sua vez, apresenta condições favoráveis à permanência e desenvolvimentos do homem na terra.
A análise dos aspectos socioeconômicos também coloca essas duas áreas em pontos extremos. Os habitantes da Região Nordeste vivem, em sua grande maioria, em situação de pobreza absoluta. A estrutura latifundiária, voltada principalmente para a monocultura, taça o perfil desta região essencialmente agrícola. Em contrapartida, é desnecessário lembrar que a Região Sudeste concentra os mais importantes polos comerciais e industriais do Brasil, construídos diariamente por seus habitantes, os quais desfrutam de um melhor padrão de vida.
Enfim, entende-se que existe um nítido contraste entre as duas áreas, apesar de fazerem parte da mesma nação. Este contraste manifesta-se em vários níveis. As condições climáticas, o padrão de vida desfrutado pelas populações e as características socioeconômicas colocam essas duas regiões em planos opostos. Entretanto, o sentimento de unidade nacional, o desejo de transformar essa realidade, poderá, em futuro próximo, desencadear soluções para levar o desenvolvimento às áreas menos favorecidas.


EXERCÍCIO DISSERTAÇÃO LOCALIZAÇÃO ESPACIAL

1 – Não raros são conhecidos, através dos meios de comunicação, o desejo de promover o diálogo Norte-Sul, para tentar buscar uma nova ordem nas relações econômicas entre os países desses dois hemisférios.

ÁREA A:


ÁREA B:



2 – Certa vez, foi dito que a Grande São Paulo é um país europeu cercado por vários países pobres.

ÁREA A:


ÁREA B:



3 – É sabido que as capitais são muito mais desenvolvidas do que as cidades do interior.

ÁREA A:


ÁREA B:



4 – Pode-se afirmar que, em razão da enorme diferença cultural, o planeta Terra divide-se em dois grandes blocos: o mundo Ocidental e o Oriental.

ÁREA A:



ÁREA B:



5 – Israel, predominantemente judeu, e a Palestina, muçulmana, duelam há anos incessantemente pelo domínio de terras no oriente médio.

ÁREA A:



ÁREA B: 



segunda-feira, 4 de junho de 2012

O BRASIL



(Descrição física e política)


O Brasil é um país maior do que os menores e menor que os maiores. É um país grande, porque, medida sua extensão, verifica-se que não é pequeno. Divide-se em três zonas climatéricas absolutamente distintas: a primeira, a segunda e a terceira. Sendo que a segunda fica entre a primeira e a terceira. As montanhas são consideravelmente mais alta que as planícies, estando sempre acima do nível do mar. Há muitas diferenças entre as várias regiões geográficas do país, mas a mais importante é a principal. Na agricultura faz-se exclusivamente o cultivo de produtos vegetais, enquanto a pecuária especializa-se na canção de gado. A população é toda baseada no elemento humano, sendo que as pessoas não nascidas no país são, sem exceção, estrangeiras. Na indústria fabricam-se produtos industriais, sobretudo iguais e semelhantes, sem deixar-se de lado os diferentes. No campo da exploração dos minérios o país tem uma posição só inferior aos que lhe estão acima, sendo, porém, muito maior produtor do que países que não atingiram o seu nível. Pode-se mesmo dizer que, executando-se seus concorrentes, é o único produtor de minérios no mundo inteiro. Tão privilegiada é hoje, enfim, a situação do país, que os cientistas procuram apenas descobrir o que não está descoberto, deixando para a indústria tudo que já foi aprovado como industrializável e para o comércio tudo que é vendável. Na arte também não há ciência, reservando-se essa atividade exclusivamente para os artistas. Quanto aos escritores, são recrutados geralmente entre os intelectuais, é, enfim, o País do Futuro, sendo que este se aproxima a cada dia que passa.
MILLÔR FERNANDES (genialmente, Millôr faz uma crítica com esse texto às provas de redação dos vestibulandos do Brasil)

sábado, 2 de junho de 2012

TEMA X TÍTULO


Muita gente confunde tema e título. Tentaremos, de alguma forma, explicar aqui a diferença entre os dois, fazendo com que você, vestibulando e concurseiro, não venha a se atrapalhar na hora da prova.

Mas fique atento: o concurso ou o vestibular pode dar tanto o tema quanto o título. Cabe ao redator saber manejar as duas formas.

Caso seja dado o título, este se tornará obrigatório no início da prova, centralizado, na primeira linha (se não houver um lugar específico para ele!). Podem daí surgir duas possibilidades, o tema estar inserido nos textos de apoio que acompanham o enunciado da questão ou do título você terá que tirar o tema.

Se for dado o tema em destaque, durante ou após o enunciado da redação, você terá que falar especificamente dele, independente do assunto tratado nos textos de apoio.

Muitas bancas examinadoras não exigem o título. Na maioria das vezes ele é opcional. Porém, quando for obrigatório vai ter sempre na instrução da prova: “Dê um título ao seu texto” ou “Seu texto deve ter título” e similares. Portanto, leia com atenção as instruções da sua prova de produção textual.

PRINCIPAIS DIFERENÇAS ENTRE TEMA X TÍTULO:

TEMA
TÍTULO
É geralmente uma oração com começo, meio e fim, por isso tem sempre um verbo.
Normalmente não tem verbo.
É o assunto de que trata o texto.
É o resumo do que você escreveu.
Está inserido no texto, comentado, discutido, trabalhado dentro do mesmo.
Aparece antes do texto, na primeira linha ou em lugar específico.
Fique atento e não cometa esse erro!

Delimitado ou não
O tema pode vir amplo, genérico, ou já delimitado. Atenção máxima quanto a isso. No primeiro caso, pode-se pedir para escrever sobre “Violência”, por exemplo, e dentro desse tema tão universal, você ter que especificar, delimitá-lo: “A violência doméstica está crescendo no Brasil em pleno século XXI”. Pronto, agora é só começar a escrever.

Tema objetivo ou subjetivo?
Outro aspecto importante que se tem que ficar atento é se o tema é de âmbito objetivo ou subjetivo.

Para entender a diferença entre um tema objetivo e um tema subjetivo, faz-se necessário, antes, relembrar que há mais de uma forma de usar as palavras: no sentido real ou no sentido figurado. Essa diferenciação não se faz apenas no uso da linguagem escrita ou falada, mas também ao se fazer uso de outras linguagens. Explico: quando se assiste a um filme, é possível associar seu enredo a outros significados que não apenas aquele aparente; você assistiu a “Matrix”, por exemplo? Será que aquela história de se viver um mundo falso, que alguém programa para nós, não é uma grande metáfora? Vemos tudo o que existe? O que existe é real ou nossos sentidos nos enganam? O verde que você vê é o verde que eu vejo? Como saber?

Você poderá pensar desta forma também ao admirar uma pintura, uma escultura, um grafite na rua, e se perguntar: o que será que se quis dizer com essa representação? Enfim, consegue perceber a possibilidade de mais de uma leitura nas diferentes linguagens? Os examinadores esperam que você seja analítico, que faça associações, que entenda não ser mundo algo estático sócio-econômico-política e culturalmente. Então, guarde esses conceitos:

Denotação - palavra usada em sentido literal: objetividade:
Ex.: Meu coração está batendo acelerado.

Conotação - palavra usada em sentido figurado: subjetividade.
Ex.: Meu coração galopa quando te vê...


Construindo um Texto a Partir de Um Tema Objetivo e Um Subjetivo
Vimos anteriormente que, o tema é a proposta para a redação. Você irá delimitar o assunto e a partir dessa delimitação irá formular sua tese (a afirmação central sobre o assunto, que será desenvolvida e comprovada no texto). Observe que há uma tendência de os vestibulares apresentarem o tema e uma coletânea de textos, de todos os tipos: fragmentos filosóficos, excertos literários; poemas; reportagens ou notícias de jornais e revistas; cartuns ou pinturas. Normalmente, o avaliador não deseja um texto com visão limitada sobre o assunto. Caso tenha pela frente um tema subjetivo, haverá a necessidade de se interpretar a proposta.

Observe os seguintes modelos:

Modelo com tema subjetivo
1º. Tema subjetivo: “Tudo o que é sólido desmancha no ar.” (Karl Marx )

2º. Delimitação do Assunto:
• a observação de como a história elimina estruturas aparentemente eternas.
• trata-se de uma referência às instituições, comportamentos, modelos
econômicos, que se modificam no tempo.

3º. Tese: Nosso cotidiano parece cercado por estruturas fixas, imutáveis, sejam instituições, relações de poder, formas de vida. Mas, se dermos um passo atrás e olhamos a história, o que encontramos é uma sucessão de transformações, em que estas estruturas, que pareciam eternas, são criadas e destruídas.

Esse foi um exemplo com tema subjetivo. Vejamos um exemplo de tema objetivo. Lê-se o tema e imediatamente se reconhece sobre o que se pode falar no texto.

Modelo com tema objetivo
1º. Tema: Desenvolvimento e Meio Ambiente.

2º. Delimitação do Assunto:
• como conciliar desenvolvimento econômico e preservação do meio ambiente?
• estar o meio ambiente em estado de degradação é sinal de evolução da sociedade capitalista ou “involução”?

3º. Tese: Depois de as grandes potências econômicas passarem pelo período de exploração da maior parte dos recursos naturais existentes, e pelo completo descuido com o meio ambiente, surge a preocupação em se controlar esse processo, antes desordenado, para que se possa falar em gerações futuras.