terça-feira, 27 de março de 2012

DISSERTAÇÃO ARGUMENTATIVA:

OS ESQUEMAS BÁSICOS DA DISSERTAÇÃO-ARGUMENTATIVA

Basicamente, há duas estruturas ou esquemas dissertativos-argumentativos. Confira abaixo, com exemplos:



TEMA OBJETIVO:

A QUALIDADE DE VIDA NA CIDADE E NO CAMPO

É de conhecimento geral, embora refutada por alguns urbanoides, que a qualidade de vida nas regiões rurais é, em muitos aspectos, superior à da zona urbana. Isso se deve porque no campo inexiste a agitação das grandes metrópoles, há maiores possibilidades de se obterem alimentos adequados e, além do mais, as pessoas dispõem de maior tempo para estabelecer relações humanas mais profundas e duradouras.
Ninguém desconhece que o ritmo de trabalho de uma metrópole é intenso. O espírito de concorrência, a busca de se obter uma melhor colocação profissional, enfim, a conquista de novos espaços lança o habitante urbano em meio a um turbilhão de constantes solicitações. Esse ritmo excessivamente intenso torna a vida bastante agitada, ao contrário do que se poderia dizer sobre a vida dos moradores das pequenas cidades.
Além disso, nas áreas campestres há maior quantidade de alimentos saudáveis, com preços mais reduzidos e sem uso do agrotóxico. Em contrapartida, o homem da cidade costuma receber gêneros alimentícios colhidos antes do tempo de maturação, tratados com química necessária, para garantir maior duração durante o período de transporte e comercialização.
Ainda convém lembrar a maneira como as pessoas se relacionam no interior do Brasil. Ela se difere da convivência habitual estabelecida pelos habitantes metropolitanos. Os moradores das grandes cidades, pelos fatores já expostos, de pouco tempo dispõem para interagir em relacionamentos interpessoais mais profundos.
Em virtude de tudo o que foi mencionado, entende-se que o campo propicia uma maior qualidade de vida e tranquilidade para os seus habitantes. Só resta esperar que as dificuldades que afligem os habitantes metropolitanos não venham a se agravar com o passar do tempo.
 (Adaptado do livro Técnicas Básicas de Redação, de Branca Granatic)

Tema subjetivo:

O texto Aquilo por que vivi, de Bertrand Russel, revela uma estrutura que o vestibulando poderá usar em sua redação. Leia o texto:

Aquilo por que vivi

Três paixões, simples, mas irresistivelmente fortes, governaram-me a vida: o anseio de amor, a busca do conhecimento e a dolorosa piedade pelo sofrimento da humanidade. Tais paixões, como grandes vendavais, impeliram-me para aqui e acolá, em curso, instável, por sobre o profundo oceano de angústia, chegando às raias do desespero.
Busquei, primeiro, o amor, porque ele produz êxtase – um êxtase tão grande que, não raro, eu sacrificava todo o resto da minha vida por umas poucas horas dessa alegria. Ambicionava-o, ainda, porque o amor nos liberta da solidão – essa solidão terrível através da qual nossa trêmula percepção observa, além dos limites do mundo, esse abismo frio e exânime. Busquei-o, finalmente, porque vi na união do amor, numa miniatura mística, algo que prefigurava a visão que os santos e os poetas imaginavam. Eis o que busquei e, embora isso possa parecer demasiado bom para a vida humana, foi isso que – afinal – encontrei.
Com paixão igual, busquei o conhecimento. Eu queria compreender o coração dos homens. Gostaria de saber por que cintilam as estrelas. E procurei apreender a força pitagórica pela qual o número permanece acima do fluxo dos acontecimentos. Um pouco disto, mas não muito, eu o consegui.
Amor e conhecimento, até ao ponto em que são possíveis, conduzem para o alto, rumo ao céu. Mas a piedade sempre me trazia de volta à terra. Ecos de gritos de dor ecoavam em meu coração. Crianças famintas, vítimas torturadas por opressores, velhos desvalidos a construir um fardo para seus filhos, e todo o mundo de solidão, pobreza e sofrimentos, convertem numa irrisão o que deveria ser a vida humana. Anseio por avaliar o mal, mas não posso, e também sofro.
Eis o que tem sido a minha vida. Tenho-a considerado digna de ser vivida e, de bom grado, tornaria a vivê-la, se me fosse dada tal oportunidade.
(Bertrand Russel, Autobiografia. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1967.)
     
O texto, cujo tema está explícito no título – os motivos fundamentais da vida do autor – apresenta cinco parágrafos.

No primeiro parágrafo, o autor revela as suas “três paixões”:

a) amor;
b) conhecimento;
c) piedade.
     
Em seguida, dedica três parágrafos para cada uma dessas paixões. O segundo parágrafo fala sobre a busca do amor; terceiro, sobre a procura do conhecimento; e o quarto, sobre a importância do sentimento piedade diante do sofrimento. O quinto e último parágrafo realiza a conclusão do texto.
     
Eis o esquema:
    
1º§ - a, b, c;
2º§ - a;
3º§ - b;
4º§ - c;
5º§ - a, b, c.
(in: Novas Palavras, de Emília Amaral e outros, editora FTD-1997)

sexta-feira, 16 de março de 2012

A EDUCAÇÃO EM BUSCA DE SENTIDO


Pais reclamam que não têm tempo para os filhos - e nem rédeas. Filhos contrariam com noções equivocadas de modernidade o que seriam bons princípios e moral. Professores recebem a rebarba em salas de aula. Junte-se a tudo isso as facilidades da vida atual e a enorme expansão tecnológica. Resultado: a Escola de alguns anos para cá perdeu absolutamente o sentido de ser o templo sagrado e único do saber.
Dá-se aula ou vira-se confessionário? Senta-se na carteira ou no divã? Ministra-se conteúdo e prepara-se para a vida? Mercado de trabalho e amor ou profissionalismo e sem apego? É colégio ou lar; colegas ou familiares? Giz e cuspe ou pincel para quadro branco e projeções na lousa digital?
Como se não bastassem tais questões, professores entram em campo de batalha armados de conhecimento, leitura e experiência. Pensam que só isso basta para encarar a luta docente: vencer pela competência! Oh, ledo engano.
O mundo dos jovens é tão mais interessante que ele prefere virar para o lado e conversar com o vizinho de fila, e nem está aí para o otário acadêmico. Melhor twittar. Ouvir no Iphone as músicas da moda baixada no 4shared. Jogar playstation. Tudo é mais colorido, mais emocionante, mais condescendente com o que pensa da vida. Tem razão de ser para ele, para sua existência, no contexto em que está imerso.
E quando o professor abre a boca para falar de pterodátilos como Machado de Assis, orações coordenadas ou verbo to be, meu Deus, que destempero! O máximo que o sujeito consegue ir é até As Crônicas de Nárnia, e olhe lá... Sem falar em matrizes, seno e coseno, teoria de Newton, etc. e tal.
Afinal, para que saber que foi herdada a razão e a lógica dos gregos? E Idade Média? E colonização do país há 512 anos? Se no máximo que o aluno pode ir é no google e baixar as imagens e vídeos explicativos no seu smartphone?
A verdade é que a Educação, nos últimos anos, busca um norte, uma bússola, pois não sabe para aonde vai!
Falta uma ligação, um elo, um elemento de coesão, com o que o estudante vive, com o mundo em que ele está conectado, para usar um jargão dos tempos hodiernos. Não se está aqui falando em colocar computadores e datashows em sala. Isso de nada adianta, já foi devidamente provado. A professora que trabalha com um caderninho de tabuada só irá levar ao PowerPoint e dar a mesma aula no slide daquilo que antes era escrito em folha de papel!
E aqui só para os mais íntimos: ficar lá em pé, abrir a boca e falar, falar, falar (coisas geralmente desconexas entre as disciplinas escolares!) não é, tem-se que admitir, uma montanha russa de diversões. A cama, enroladinho no lençol, é, no mínimo, mais gozosa.
Por isso a aparição, vez ou outra, de professores-palhaços ou professores-atores nas escolas da vida. É uma forma de chamar a atenção das criaturas ali em sua frente e, pelo menos, fazê-las prestar atenção ao que se é dito pelos doutos.
Nesses tempos difíceis, em que a educação tateia ao léu, em total escuridão, os profissionais da educação seguem a lida como pregava o bom José Régio do lado de lá do Atlântico: “Não sei por onde vou,/ Não sei para onde vou/ Sei que não vou por aí!”.
Alguém aí sabe para aonde se vai?
Gustavo Atallah Haun - Professor.

sábado, 10 de março de 2012

O MAGISTÉRIO E A PROSTITUIÇÃO


            Muitas vezes eu tenho dito ironicamente em sala de aula que a docência é igual à prostituição, sem que nós, professores, tenhamos (eu acho!) a necessidade de arriar a calça, a saia ou o bermudão.
Remota como o ato de emprestar o corpo em troca de algo, a docência existe desde priscas eras, quando os habitantes das cavernas tinham como obrigação de sobrevivência ensinar e educar a sua prole, seus discípulos, transmitindo as suas tradições. Ambas são profissões antiquíssimas, primeiras na história da humanidade. Eis a semelhança inicial.
Também percebemos que as duas fazem uma permuta com fins lucrativos, dispor-se por alguma coisa. A prostituição faz vender o corpo físico (embora use a mente para fingir em certas ocasiões!). Os professores vendem a mente (embora negociem também o corpo físico para fingir as informações não-verbais!). Todas as duas carreiras são desvalorizadas, salvo algumas exceções: putas(os) de luxo e docentes donos de escolas. Esta aí a segunda semelhança.
Na mesma linha de raciocínio, se o/a promouter do prazer quiser ganhar dinheiro tem que estar disponível 24 horas, com telefone exclusivo e quarto de hotel reservado, além de fazer as “entregas” em domicílio. Se o/a promouter do saber quiser ganhar dinheiro tem que dar aula de manhã, inventar cursos particulares à tarde e se “oferecer” nas portas dos pré-vestibulares pela noite. Qualquer semelhança é mera coincidência.
            Além disso, a pessoa que vende a si mesma não pode ou não deve ter nenhum tipo de sentimento para com o seu cliente. Já pensou uma puta apaixonada? Um michê amando uma freguesa? Ia ser um inferno pessoal. Não é diferente com os educadores. Tudo é passageiro, os alunos vêm e vão, apenas nós ficamos. Se tivermos algum carinho ou afeição iremos sofrer fatalmente. Mais uma semelhança.
            O sexo é uma fonte de renda que faz o sujeito se desgastar, desmoralizar-se por conta do preconceito, mas ele não larga o ofício, não pensa em mudar de vida, muitos não querem. O magistério idem. A sala de aula é traumatizante em alguns momentos, aterrador em outros, porém os mestres não a deixam, é um vício. Dar aula é como fazer sexo ou beber cachaça, depois que se começa não se quer mais parar.
            Há os que têm o dom para a coisa. Fazem com graça, leveza e são bastante disputados: na sacanagem e na educação. São os professores que dão shows, famosos, que arrebentam a boca do balão e todos os alunos os amam; são as putas prato-principal-da-casa, safadas de natureza, gueixas cuja fama arrasta curiosos do quinto dos infernos. Outra coincidência.
Quanto ao ambiente de trabalho, a(o) prostituta(o) pode angariar inimizades, ter desavenças e rivalidades com os colegas e ser explorada(o) pelo cafetão. A escola está eivada das mesmas picuinhas, ou seja, colegas falando mal um dos outros, escrachando as instituições de ensino, agindo de má fé, etc. Só que, nesse caso, os colegas são os outros professores e o cafetão é o diretor. Inflamada igualdade.
... Meus alunos sorriem, acham que estou zoando, brincando mais uma vez. Eles não sabem que falo de coração na mão, sentindo na alma os reflexos de ser educador. Sem querer comparar para fazer juízo de valor entre as duas vocações (até porque não sei dizer qual a mais interessante, a mais nobre, a que serve e a que não presta!), vou seguindo a minha sina: educando ou me prostituindo?
Gustavo Atallah Haun - Professor.

quarta-feira, 7 de março de 2012

A SÍNDROME DO PROFESSOR


A Síndrome do Desgaste Profissional ou Burnout começou a ser estudada no final da década de 1970, por Freudenberg e Maslach, com pessoas que trabalhavam em serviços humanos e cuidados de saúde profissional com características de estresse emocional e interpessoal. O termo Burnout é uma composição de burn = queima e out = exterior, sugerindo assim que a pessoa com esse tipo de estresse se consome fisica e emocionalmente. Burnout também serve para designar em inglês “perda do fogo” ou perda do envolvimento com o trabalho, e é considerado o nível mais alto de estresse, atingindo profissionais que mantêm uma relação constante e direta com outras pessoas, principalmente quando esta atividade é considerada de ajuda (medicina, docência, enfermagem, etc.). O professor, como mostram os estudos sobre o assunto, é o profissional que tem sido apontado como uma das maiores vítimas desse desgaste crônico.
A Síndrome é causada por circunstâncias relativas às atividades profissionais, ocasionando sintomas físicos, comportamentais, afetivos e cognitivos. De acordo com a pesquisadora do Laboratório de Psicologia do Trabalho da UnB, Iône Vasques-Menezes, no caso do professor, a razão para a incidência da síndrome está ligada, sobretudo, à falta de reconhecimento e valorização do educador. “A desvalorização do professor, seja ela por parte do sistema, dos alunos e da própria sociedade, é um dos maiores agentes para a ocorrência do Burnout”, explica.
São três os sintomas principais da doença: exautão emocional (onde a pessoa sente que não pode dar mais nada de si mesma), avaliação negativa de si mesmo (ou sentimentos e atitudes muito negativas, como um certo cinismo na relação com as pessoas do seu trabalho, depressão e insensibilidade com quase tudo e todos, até como defesa emocional) e, finalmente, manifesta sentimentos de falta de realização profissional no trabalho, afetando a eficiência e habilidade para realização de tarefas, além de não se adequar à organização. Além disso, demonstra apatia extrema e desinteresse, causados, geralmente, pela pouca autonomia no desempenho profissional, problemas de relacionamento com as chefias, problemas de relacionamento com colegas ou clientes, conflito entre trabalho e família, sentimento de desqualificação e falta de cooperação da equipe.
Não poderíamos deixar de lado o posicionamento dos que lidam diretamente com o professor, no caso, os alunos. A indisciplina é a grande responsável por uma eventual sensação de frustração e de desmotivação do docente, além da falta de desinteresse dos estudantes, desencandeando sentimentos de culpa e despreparo profissional que podem gerar o Burnout. É normal, por exemplo, os professores sentirem náuseas, gastrite nervosa, dores lombares e na coluna, perda de sono, depressão e ânsia de vômito antes ou depois das aulas, como manifestações físicas da Síndrome. Como se não bastasse no final da vida os catedráticos sofrerem de pressão alta e rouquidão, surge mais esse problema!
Uma vez identificados, entretanto, os sintomas do Burnout, o passo seguinte é tratar e prevenir. No caso do professor, a procura por um profissional estudioso do assunto é também fundamental. Além disso, ele pode transformar a escola em um contexto saudável, desenvolvendo as modificações necessárias no âmbito das relações, das condições e da organização do trabalho; maior interação entre os colegas; valorização pessoal e grupal; controle das situações de conflito; desenvolver redes de apoio social, formando grupos de discussão, oportunizando reflexões entre líderes institucionais e professores, reunindo alunos e pais para apresentação de trabalhos, experiências, chamando os familiares para trocas sobre modelos educativos e forma de lidar com os discentes; estes podem participar de jornadas, criando fóruns permanentes de diálogo e co-responsabilidade educativa; a instituição pode implementar recursos, pessoais e ambientais, que propiciem melhoria na qualidade de vida dos docentes; e, o principal, enfatizar a promoção dos valores humanos no ambiente de trabalho, valores mais orientados para a coletividade, em oposição aos valores mais individualistas.
Gustavo Atallah Haun - Professor. Fontes de pesquisa: sites da UEM, PsiqueWeb e Universia.