Enem 2014: leia exemplos
redação nota 1000
Pelo menos
dois estudantes cariocas estão entre as 250 notas máximas sobre o tema
'Publicidade infantil em questão no Brasil'
POR LAURO NETO
14/01/2015 13:23 / ATUALIZADO 15/01/2015 10:49
Reprodução
RIO - Entre 5,9 milhões de redações corrigidas no Enem 2014, apenas 250
tiraram nota 1000. Nesse seleto grupo, pelo menos dois estudantes são cariocas:
Carlos Eduardo Lopes Marciano, de 19 anos, e Maria Eduarda de Aquino Correa
Ilha, de 18. Ambos fizeram o exame pela segunda vez, apesar de já terem sidos
aprovados para a UFRJ com as notas do Enem 2013. Os dois enviaram ao GLOBO os
comprovantes de suas notas e os rascunhos de seus textos, transcritos ao fim
desta reportagem.
Aluno do 2º período de Engenharia Elétrica na UFRJ, Carlos Eduardo fez o
Enem no ano passado para o caso de querer trocar sua habilitação para
Engenharia Química ou da Computação. Em 2013, ele havia tirado 960 na redação.
Na edição de 2014, tirou a nota máxima, sem estudar.
- Sempre tive o dom de escrever. Escrevia poemas e outros textos e
gostava de redação argumentativa. Só estudei no Notre-Dame de Ipanema e tive
uma professora muito boa de redação, chamada Marilene Tinoco, que me ajudou
muito - conta o estudante, que chegou a cursar o primeiro semestre de Direito
na Uerj no ano passado, mas não gostou do curso.
Maria Eduarda, que já havia passado pelo Enem 2013 para o curso de
Direito na UFRJ, no turno da noite, fez o exame de novo para garantir uma vaga
no período integral (matutino e vespertino).
- Em 2013, tirei 840 na redação. Passei para o noturno da UFRJ e na UFF,
mas resolvi tentar de novo. Tenho várias amigas que passaram para esse turno e
é muito complicado mudar. Conversei com meus pais, resolvi tentar de novo e deu
certo. Estudei no Liceu Franco-Brasileiro, mas fiz cursinho _A_Z, a cujos
professores e monitores devo 80% da minha nota. Brinco que aprendia a escrever
lá.
Redação de Carlos Eduardo Lopes
Marciano
O verdadeiro preço de um brinquedo
É comum vermos comerciais direcionados ao público infantil. Com a
existência de personagens famosos, músicas para crianças e parques temáticos, a
indústria de produtos destinados a essa faixa etária cresce de forma nunca
vista antes. No entanto, tendo em vista a idade desse público, surge a
pergunta: as crianças estariam preparadas para o bombardeio de consumo que as
propagandas veiculam?
Há quem duvide da capacidade de convencimento dos meios de comunicação.
No entanto, tais artifícios já foram responsáveis por mudar o curso da
História. A imprensa, no século XVIII, disseminou as ideias iluministas e foi
uma das causas da queda do absolutismo. Mas não é preciso ir tão longe: no
Brasil redemocratizado, as propagandas políticas e os debates eleitorais são
capazes de definir o resultado de eleições. É impossível negar o impacto
provocado por um anúncio ou uma retórica bem estruturada.
O problema surge quando tal discurso é direcionado ao público infantil.
Comerciais para essa faixa etária seguem um certo padrão: enfeitados por músicas
temáticas, as cenas mostram crianças, em grupo, utilizando o produto em
questão.Tal manobra de “marketing” acaba transmitindo a mensagem de que a
aceitação em seu grupo de amigos está condicionada ao fato dela possuir ou não
os mesmos brinquedos que seus colegas. Uma estratégia como essa gera um ciclo
interminável de consumo que abusa da pouca capacidade de discernimento
infantil.
Fica clara, portanto, a necessidade de uma ampliação da legislação atual
a fim de limitar, como já acontece em países como Canadá e Noruega, a
propaganda para esse público, visando à proibição de técnicas abusivas e
inadequadas. Além disso, é preciso focar na conscientização dessa faixa etária
em escolas, com professores que abordem esse assunto de forma compreensível e
responsável. Só assim construiremos um sistema que, ao mesmo tempo, consiga
vender seus produtos sem obter vantagem abusiva da ingenuidade infantil.
Redação de Maria Eduarda de Aquino
Correa Ilha
Consumidores do futuro
De acordo com o movimento romântico literário do século XIX, a criança
era um ser puro. As tendências do Romantismo influenciavam a temática poética
brasileira através da idealização da infância. Indo de encontro a essa visão, a
sociedade contemporânea, cada vez mais, erradica a pureza dos infantes através
da influência cultural consumista presente no cotidiano. Nesse contexto, é
preciso admitir que a alegação de uma sociedade conscientizada se tornou uma
maneira hipócrita de esconder os descaso em relação aos efeitos da publicidade
infantil no país.
Em primeiro plano, deve-se notar que o contexto brasileiro contemporâneo
é baseado na lógica capitalista de busca por lucros e de incentivo ao consumo.
Esse comportamento ganancioso da iniciativa privada é incentivado pelos meios
de comunicação, que buscam influenciar as crianças de maneira apelativa no seu
dia-a-dia. Além disso, a ausência de leis nacionais acerca dos anúncios
infantis acaba por proporcionar um âmbito descontrolado e propício para o
consumo. Desse modo, a má atuação do governo em relação à publicidade infantil
resulta em um domínio das influências consumistas sobre a geração de infantes
no Brasil.
Por trás dessa lógica existe algo mais grave: a postura passiva dos
principais formadores de consciência da população. O contexto brasileiro se
caracteriza pela falta de preocupação moral nas instituições de ensino, que
focam sua atuação no conteúdo escolar em vez de preparar a geração infantil com
um método conscientizador e engajado. Ademais, a família brasileira pouco se
preocupa em controlar o fluxo de informações consumistas disponíveis na
televisão e internet. Nesse sentido, o despreparo das crianças em relação ao
consumo consciente e às suas responsabilidades as tornam alvos fáceis para as
aquisições necessárias impostas pelos anúncios publicitários.
Torna-se evidente, portanto, que a questão da publicidade infantil exige
medidas concretas, e não um belo discurso. É imperioso, nesse sentido, uma
postura ativa do governo em relação à regulamentação da propaganda infantil,
através da criação de leis de combate aos comerciais apelativos para as
crianças. Além disso, o Estado deve estimular campanhas de alerta para o
consumo moderado. Porém, uma transformação completa deve passar pelo sistema
educacional, que em conjunto com o âmbito familiar pode realizar campanhas de
conscientização por meio de aulas sobre ética e moral. Quem sabe, dessa forma,
a sociedade possa tornar a geração infantil uma consumidora consciente do
futuro, sem perder a pureza proposta pelo Movimento Romântico.
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das notas
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