RedaçÕES DO Enem nota 1000 – AnoS VARIADOS
1 – Candidata Isadora Peter Furtado (17
anos, Pelotas – RS. Ela estudou no grupo de alunos do professor Luís Fernando
Gallo). O tema da Redação Enem 2015 foi ‘A persistência da violência contra a
mulher na sociedade brasileira’. Veja o texto dissertativo argumentativo
que ganhou a nota máxima:
A
persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira é um problema
muito presente. Isso deve ser enfrentado, uma vez que, diariamente, mulheres
são vítimas desta questão. Neste sentido, dois aspectos fazem-se relevantes: o
legado histórico-cultural e o desrespeito às leis. Segundo a História, a
mulher sempre foi vista como inferior e submissa ao homem. Comprova-se isso
pelo fato de elas poderem exercer direitos, ingressarem no mercado de trabalho
e escolherem suas próprias roupas muito tempo depois do gênero oposto.
Esse
cenário, juntamente aos inúmeros casos de violência contra as mulheres
corroboram a ideia de que elas são vítimas de um histórico-cultural. Nesse
ínterim, a cultura machista prevaleceu ao longo dos anos a ponto de enraizar-se
na sociedade contemporânea, mesmo que de forma implícita, à primeira vista.
Conforme
previsto pela Constituição Brasileira, todos são iguais perante à lei, independente
de cor, raça ou gênero, sendo a isonomia salarial, aquela que prevê mesmo
salário para mesma função, também garantidas por lei. No entanto, o que se
observa em diversas partes do país, é a gritante diferença entre os
salários de homens e mulheres, principalmente se estas forem negras. Esse fato
causa extrema decepção e constrangimento a elas, as quais sentem-se inseguras e
sem ter a quem recorrer. Desse modo, medidas fazem-se necessárias para corrigir
a problemática.
Diante
dos argumentos supracitados, é dever do Estado proteger as mulheres da
violência, tanto física quanto moral, criando campanhas de combate à violência,
além de impor leis mais rígidas e punições mais severas para aqueles que não as
cumprem. Some-se a isso investimentos em educação, valorizando e
capacitando os professores, no intuito de formar cidadãos comprometidos em
garantir o bem-estar da sociedade como um todo.
2 – Candidata Mariana Moura Goes (17 anos, Fortaleza (CE), aluna do
colégio Ari de Sá). O tema da Redação Enem 2015 foi ‘A persistência da
violência contra a mulher na sociedade brasileira’. Veja o texto
dissertativo argumentativo que ganhou a nota máxima:
A mulher vem, ao longo dos
séculos XX e XXI, adquirindo valiosas conquistas, como o direito de votar e ser
votada. Entretanto, a violência contra este gênero parece não findar, mesmo com
a existência de dispositivos legais que protegem a mulher. A diminuição dos
índices deste tipo de violência ocorrerá no momento em que os dispositivos
legais citados passarem a ser realmente eficazes e o machismo for efetivamente
combatido, desafios esses que precisam ser encarados tanto pelo Estado quanto
pela sociedade civil.
A Lei Maria da Penha e a Leio
do Feminicídio, por exemplo, são dispositivos legais que protegem a mulher.
Entretanto, estes costumam ser ineficazes, visto que a população não possui
esclarecimentos sobre eles. Dessa forma, muitas mulheres são violentadas
diariamente e não denunciam por não terem conhecimento sobre as ditas leis e os
agressores, por sua vez, persistem provocando violências físicas, psicológicas,
morais, etc., por, às vezes, não saberem que podem ser seriamente punidos por
suas ações.
Somado a isso, o machismo
existente na sociedade brasileira contribui decisivamente para essa
persistência. Na sociedade de caráter patriarcal em que vivemos é passado, ao
longo das gerações, valores que propagam a ideia de que a mulher deve ser
submissa ao homem. Essa ideia é reforçada pela mídia ao apresentar, por
exemplo, a mulher com enorme necessidade de casar, e, quando consegue, ela deve
ser grata ao homem, submetendo-se, dessa forma, às suas vontades. Com isso,
muitos homens crescem com essa mentalidade, submetendo assim, suas esposas aos
mais diversos tipos de violência.
Visto isso, faz-se necessária a
reversão de tal contexto. Para isso, é preciso que o Poder Público promova
palestras em locais públicos nas cidades brasileiras a fim de esclarecer a
população sobre os dispositivos legais existentes que protegem a mulher,
aumentando, desse modo, o número de denúncias. Aliado a isso, é preciso que as
escolas, junto com a equipe de psicólogos, promovam campanhas, palestras, peças
teatrais, etc. , que desestimulem o machismo entre crianças e adolescentes para
que, a longo prazo, o machismo na sociedade brasileira seja findado. Somado a
isso, a população pode pressionar a mídia através das redes sociais, por
exemplo, para que ela passe a propagar a equidade entre gêneros e pare de
disseminar o machismo na sociedade.
3 –
Aluna: Amanda
Carvalho Maia Castro (fonte: www.g1.com)
A violência contra a mulher no
Brasil tem apresentado aumentos significativos nas últimas décadas. De acordo
com o Mapa da Violência de 2012, o número de mortes por essa causa aumentou em
230% no período de 1980 a 2010. Além da física, o balanço de 2014 relatou cerca
de 48% de outros tipos de violência contra a mulher, dentre esses a
psicológica. Nesse âmbito, pode-se analisar que essa problemática persiste por
ter raízes históricas e ideológicas.
O Brasil ainda não conseguiu se
desprender das amarras da sociedade patriarcal. Isso se dá porque, ainda no
século XXI, existe uma espécie de determinismo biológico em relação às
mulheres. Contrariando a célebre frase de Simone de Beavouir “Não se nasce mulher,
torna-se mulher”, a cultura brasileira, em grande parte, prega que o sexo
feminino tem a função social de se submeter ao masculino, independentemente de
seu convívio social, capaz de construir um ser como mulher livre. Dessa forma,
os comportamentos violentos contra as mulheres são naturalizados, pois estavam
dentro da construção social advinda da ditadura do patriarcado.
Consequentemente, a punição para este tipo de agressão é dificultada pelos
traços culturais existentes, e, assim, a liberdade para o ato é aumentada.
Além disso, já o estigma do
machismo na sociedade brasileira. Isso ocorre porque a ideologia da
superioridade do gênero masculino em detrimento do feminino reflete no
cotidiano dos brasileiros. Nesse viés, as mulheres são objetificadas e vistas
apenas como fonte de prazer para o homem, e são ensinadas desde cedo a se
submeterem aos mesmos e a serem recatadas. Dessa maneira, constrói-se uma
cultura do medo, na qual o sexo feminino tem medo de se expressar por estar sob
a constante ameaça de sofrer violência física ou psicológica de seu progenitor
ou companheiro. Por conseguinte, o número de casos de violência contra a mulher
reportados às autoridades é baixíssimo, inclusive os de reincidência.
Pode-se perceber, portanto, que
as raízes históricas e ideológicas brasileiras dificultam a erradicação da
violência contra a mulher no país. Para que essa erradicação seja possível, é
necessário que as mídias deixem de utilizar sua capacidade de propagação de
informação para promover a objetificação da mulher e passe a usá-la para
difundir campanhas governamentais para a denúncia de agressão contra o sexo
feminino. Ademais, é preciso que o Poder Legislativo crie um projeto de lei
para aumentar a punição de agressores, para que seja possível diminuir a
reincidência. Quem sabe, assim, o fim da violência contra a mulher deixe de ser
uma utopia para o Brasil.
4 –
Aluna: Cecília
Maria Lima Leite (fonte: www.g1.com)
Violação à dignidade feminina
Historicamente, o papel
feminino nas sociedades ocidentais foi subjugado aos interesses masculinos e
tal paradigma só começou a ser contestado em meados do século XX, tendo a
francesa Simone de Beauvoir como expoente. Conquanto tenham sido obtidos
avanços no que se refere aos direitos civis, a violência contra a mulher é uma
problemática persistente no Brasil, uma vez que ela se dá- na maioria das
vezes- no ambiente doméstico. Essa situação dificulta as denúncias contra os
agressores, pois muitas mulheres temem expor questões que acreditam ser de
ordem particular.
Com efeito, ao longo das
últimas décadas, a participação feminina ganhou destaque nas representações
políticas e no mercado de trabalho. As relações na vida privada, contudo, ainda
obedecem a uma lógica sexista em algumas famílias. Nesse contexto, a agressão
parte de um pai, irmão, marido ou filho; condição de parentesco essa que
desencoraja a vítima a prestar queixas, visto que há um vínculo institucional e
afetivo que ela teme romper.
Outrossim, é válido salientar
que a violência de gênero está presente em todas as camadas sociais, camuflada
em pequenos hábitos cotidianos. Ela se revela não apenas na brutalidade dos
assassinatos, mas também nos atos de misoginia e ridicularização da figura
feminina em ditos populares, piadas ou músicas. Essa é a opressão simbólica da
qual trata o sociólogo Pierre Bordieu: a violação aos Direitos Humanos não
consiste somente no embate físico, o desrespeito está –sobretudo- na
perpetuação de preconceitos que atentam contra a dignidade da pessoa humana ou
de um grupo social.
Destarte, é fato que o Brasil
encontra-se alguns passos à frente de outros países o combate à violência
contra a mulher, por ter promulgado a Lei Maria da Penha. Entretanto, é
necessário que o Governo reforce o atendimento às vítimas, criando mais
delegacias especializadas, em turnos de 24 horas, para o registro de queixas.
Por outro lado, uma iniciativa plausível a ser tomada pelo Congresso Nacional é
a tipificação do feminicídio como crime de ódio e hediondo, no intuito de
endurecer as penas para os condenados e assim coibir mais violações. É
fundamental que o Poder Público e a sociedade – por meio de denúncias –
combatam praticas machistas e a execrável prática do feminicídio.
5 – Candidata: Tainá Rocha Josino, de Fortaleza. Tema: A
persistência contra a mulher. Confira o texto nota máxima:
Apesar de destacar enquanto
potência econômica mundial, o Brasil ainda vivencia problemas sociais arcaicos,
como a persistência da violência contra a mulher. Diante da gravidade desta
questão urge a mobilização conjunta do Estado e da sociedade para seu efetivo
combate.
A violência contra a mulher no
Brasil está atrelada, entre outros fatores, ao processo histórico do país. A
herança do patriarcalismo colonial ainda é sensível em nossa cultura, sendo
evidenciada, inclusive, em discursos de várias pessoas públicas, como
candidatos à presidência ou à liderança de comissão de Direitos Humanos. Mesmo
que extremamente retrógrado, o machismo segue sustentando o consciente coletivo
de suposta superioridade masculina, e, lamentavelmente, proporcionando a
inúmeras mulheres cotidianos humilhantes, com afronta a seus direitos humanos
mais básicos.
É justo reconhecer, no entanto,
as iniciativas públicas e privadas que têm como objetivo a debelação dessa
triste realidade. Por exemplo, a lei Maria da Penha, em vigor desde 2006, já um
marco democrático para o Brasil, pois contribui exemplarmente para a proteção
da dignidade e soberania da mulher, em uma tentativa legítima de reverter o
cenário violento contra esse gênero. Juizados e varas especializadas neste
âmbito foram criados, denúncias de opressões foram estimuladas, entre outras
ações admiráveis, contudo, isso não tem sido suficiente para anular o número de
vítimas.
Dentre os agentes e impossibilidades
do fim desse tipo de agressão, destaca-se a infraestrutura inadequada para este
tipo de investigação de possíveis abusos, apreensão de agressores e sua devida
prisão. A falha acarreta constante impunidade e altos índices de reincidência
de agressões, que podem se agravar e se tornar fatais. Também há carência de
profissionais preparados para acolher a vítima e dar-lhe apoio psicológico.
Além disso, o desconhecimento
ou até descrédito da população quanto ao amparo jurídico dado às vítimas de
violência resulta na escassez de denúncias frente ao real número de agressões.
Portanto, para que haja o fim
deste cenário violento contra a mulher, é imprescindível esforço coletivo. O
Estado deve otimizar a infraestrutura destinada a essa seara, ampliando o número
de delegacias da mulher, por exemplo, além de se unir a instituições
profissionalizantes, com o fito de capacitar cada vez mais profissionais que
lidem de forma mais positiva possível com a proteção dos direitos femininos. A
população, previamente orientada por campanhas públicas e por eventos
culturais, contribuirá denunciando agressões. A educação é ponto nevrálgico
deste processo, de forma que as escolas precisam promover debates e seminários
acerca do tema, a fim de consolidar valores morais e éticos nesta geração e nas
futuras.
Através dessas e outras medidas
de promoção da cidadania a sociedade brasileira se tornará cada vez mais
sensata e consciente de sua responsabilidade no combate à violência (covarde,
desproporcional e insustentável) contra a mulher.
6 – Candidato: Carlos Eduardo Lopes
Marciano, 19 anos (RJ). Enem 2014. Tema: Publicidade infantil em
questão no Brasil. Veja o texto premiado com a nota máxima:
O
verdadeiro preço de um brinquedo
É comum vermos comerciais
direcionados ao público infantil. Com a existência de personagens famosos,
músicas para crianças e parques temáticos, a indústria de produtos destinados a
essa faixa etária cresce de forma nunca vista antes. No entanto, tendo em vista
a idade desse público, surge a pergunta: as crianças estariam preparadas para o
bombardeio de consumo que as propagandas veiculam?
Há quem duvide da capacidade de
convencimento dos meios de comunicação. No entanto, tais artifícios já foram
responsáveis por mudar o curso da História. A imprensa, no século XVIII,
disseminou as ideias iluministas e foi uma das causas da queda do absolutismo.
Mas não é preciso ir tão longe: no Brasil redemocratizado, as propagandas
políticas e os debates eleitorais são capazes de definir o resultado de
eleições. É impossível negar o impacto provocado por um anúncio ou uma retórica
bem estruturada.
O problema surge quando tal
discurso é direcionado ao público infantil. Comerciais para essa faixa etária
seguem um certo padrão: enfeitados por músicas temáticas, as cenas mostram
crianças, em grupo, utilizando o produto em questão.Tal manobra de “marketing”
acaba transmitindo a mensagem de que a aceitação em seu grupo de amigos está
condicionada ao fato dela possuir ou não os mesmos brinquedos que seus colegas.
Uma estratégia como essa gera um ciclo interminável de consumo que abusa da
pouca capacidade de discernimento infantil.
Fica clara, portanto, a
necessidade de uma ampliação da legislação atual a fim de limitar, como já
acontece em países como Canadá e Noruega, a propaganda para esse público,
visando à proibição de técnicas abusivas e inadequadas. Além disso, é preciso
focar na conscientização dessa faixa etária em escolas, com professores que
abordem esse assunto de forma compreensível e responsável. Só assim construiremos
um sistema que, ao mesmo tempo, consiga vender seus produtos sem obter vantagem
abusiva da ingenuidade infantil.
7 – Candidato: João Pedro Maciel
Schlaepfer, 19 anos (RJ).
Quem
Sabe o que é Melhor Para Ela?
Desde o final de 1991, com a
extinção da antiga União Soviética, o capitalismo predomina como sistema
econômico. Diante disso, os variados ramos industriais pesquisam e desenvolvem
novas formas e produtos que atinjam os mais variados nichos de mercado. Esse
alcance, contudo, preocupa as famílias e o Estado quando se analisa a
publicidade voltada às crianças em contraponto à capacidade de absorção crítica
das propagandas por parte desse público-alvo.
Por ser na infância que se
apreende maior quantidade de informações, a eficiência da divulgação de um bem
é maior. O interesse infantil a determinados produtos é aumentado pela
afirmação do desejo em meios de comunicação, sobretudo ao se articular ao
anúncio algum personagem conhecido. Assim, a ânsia consumista dos mais jovens é
expandida.
Além disso, o nível de
criticidade em relação à propaganda é extremamente baixo. Isso se deve ao fato
de estarem em fase de composição da personalidade, que é pautada nas
experiências vividas e, geralmente, espelhada em um grupo de adultos-exemplo.
Dessa forma, o jovem fica suscetível a aceitar como positivo quase tudo o que
lhe é oferecido, sem necessariamente avaliar se é algo realmente
imprescindível.
Com base nisso, o governo federal pode
determinar um limite, desassociando personagens e figuras conhecidas aos
comerciais, sejam televisivos, radiofônicos, por meios impressos ou quaisquer
outras possibilidades. A família, por outro lado, tem o dever de acompanhar e
instruir os mais novos em como administrar seus desejos, viabilizando alguns e
proibindo outros.
Nesse sentido, torna-se
evidente, portanto, a importância do acessoria parental e organização do Estado
frente a essa questão. Não se pode atuar com descaso, tampouco ser extremista.
A criança sabe o que é melhor para ela? Talvez saiba, talvez não. Até que se
descubra (com sua criticidade amadurecida), cabe às entidades superiores
auxiliá-la nesse trajeto.
Redação 8 – Candidato: José Querino de
Macêdo Neto, 17 anos (AL).
Se o conceito
censitário de publicidade entende o uso de recursos estilísticos da linguagem,
a exemplo da metáfora e das frases de efeito, como atrativo na vendagem de
produtos, a manipulação de instrumentos a serviço da propaganda infantil produz
efeitos que dão margem mais visível ao consumo desnecessário. Com base nisso,
estabelecem-se propostas de debate social acerca do limite de conteúdos
designados a comerciais televisivos que se dirigem a tal público.
Faz-se preciso,
no entanto, que se ressaltem as intenções das grandes empresas de comércio: o
lucro é, sobretudo, ditador das regras morais e decisivo na escolha das
técnicas publicitárias. Para Marx, por exemplo, o capital influencia, através
do acúmulo de riquezas, os padrões que decidem a integração de um indivíduo no
meio em que ele se insere — nesse caso, possuir determinados produtos é chave
de aceitação social, principalmente entre crianças de cuja inocência se
aproveita ao inferir importâncias na aquisição.
Em contraposição
a esses avanços econômicos e aos interesses dos grandes setores nacionais de
mercado infanto-juvenil, os órgãos de ativismo em proteção à criança
utilizam-se do Estatuto da Criança e do Adolescente para defender os direitos
legítimos da não-ludibriação, detidos por indivíduos em processo de formação
ética. Não obstante, a regulamentação da propaganda tende a equilibrar os
ganhos das empresas com o crescente índice de consumo desenfreado.
Cabe, portanto,
ao governo, à família e aos demais segmentos sociais estimular o senso crítico
a partir do debate em escolas e creches, de forma a instruir que as
necessidades individuais devem se sobrepor às vontades que se possuem, a fim de
coibir o abuso comercial e o superconsumo.
9 – Candidato: Juan Costa da Costa, 16
anos (PA).
Muito se discute
acerca dos limites que devem ser impostos à publicidade e propaganda no Brasil
– sobretudo em relação ao público infantil. Com o advento do meio
técnico-científico informacional, as crianças são inseridas de maneira cada vez
mais precoce ao consumismo imposto por uma economia capitalista globalizada – a
qual preconiza flexibilidade de produção, adequando-se às mais diversas
demandas. Faz-se necessário, portanto, uma preparação específica voltada para
esse jovem público, a fim de tornar tal transição saudável e gerar futuros
consumidores conscientes.
Um aspecto a ser
considerado remete à evolução tecnológica vivenciada nas últimas décadas. Os
carrinhos e bonecas deram lugar aos “smartphones”, videogames e outros aparatos
que revolucionaram a infância das atuais gerações. Logo, tornou-se essencial a
produção de um marketing voltado especialmente para esse consumidor mirim –
objetivando cativá-lo por meio de músicas, personagens e outras estratégias
persuasivas. Tal fator é corroborado com a criação de programas e até mesmo
canais voltados para crianças (como Disney, Cartoon Network e Discovery Kids),
expandindo o conceito de Indústria Cultural (defendido por filósofos como
Theodor Adorno) – o qual aborda o uso dos meios de comunicação de massa com
fins propagandísticos.
Somado a isso, o
impasse entre organizações protetoras dos direitos das crianças e os grandes
núcleos empresariais fomenta ainda mais essa pertinente discussão. No Brasil,
vigoram os acordos isolados com o Poder Público – sem a existência de leis
específicas. Recentemente, a Conanda (Comissão Nacional de Direitos da Criança
e do Adolescente) emitiu resolução condenando a publicidade direcionada ao
público infantil, provocando o repúdio de empresários e propagandistas – que
não reconhecem autoridade dessa instituição para atuar sobre o mercado. Diante
desses posicionamentos antagônicos, o debate persiste.
Com o intuito de
melhor adequar os “consumidores do futuro” a essa realidade, e não apenas
almejar o lucro, é preciso prepará-los para absorver as muitas informações.
Isso pode ser obtido por meio de campanhas promovidas pelo Poder Público nas
escolas (com atividades lúdicas e conscientizadoras) e na mídia (TV, rádio,
jornais impressos, internet), bem como a criação de uma legislação específica
sobre marketing infantil no Brasil – fiscalizando empresas (prevenindo
possíveis abusos) – além de orientação aos pais para que melhor lidem com o
impulso de consumo dos filhos (tornando as crianças conscientes de suas reais
necessidades). Dessa forma, os consumidores da próxima geração estarão prontos
para cumprirem suas responsabilidades quanto cidadãos brasileiros (preocupados
também com o próximo) e será promovido o desenvolvimento da nação.
10 – Candidata: Maria Eduarda de Aquino
Correa Ilha, 18 anos (RJ).
Consumidores
do futuro
De acordo com o
movimento romântico literário do século XIX, a criança era um ser puro. As
tendências do Romantismo influenciavam a temática poética brasileira através da
idealização da infância. Indo de encontro a essa visão, a sociedade
contemporânea, cada vez mais, erradica a pureza dos infantes através da influência
cultural consumista presente no cotidiano. Nesse contexto, é preciso admitir
que a alegação de uma sociedade conscientizada se tornou uma maneira hipócrita
de esconder os descasos em relação aos efeitos da publicidade infantil no país.
Em primeiro
plano, deve-se notar que o contexto brasileiro contemporâneo é baseado na
lógica capitalista de busca por lucros e de incentivo ao consumo. Esse
comportamento ganancioso da iniciativa privada é incentivado pelos meios de
comunicação, que buscam influenciar as crianças de maneira apelativa no seu
dia-a-dia. Além disso, a ausência de leis nacionais acerca dos anúncios
infantis acaba por proporcionar um âmbito descontrolado e propício para o
consumo. Desse modo, a má atuação do governo em relação à publicidade infantil
resulta em um domínio das influências consumistas sobre a geração de
infantes no Brasil.
Por trás dessa
lógica existe algo mais grave: a postura passiva dos principais formadores de
consciência da população. O contexto brasileiro se caracteriza pela falta de
preocupação moral nas instituições de ensino, que focam sua atuação no conteúdo
escolar em vez de preparar a geração infantil com um método conscientizador e
engajado. Ademais, a família brasileira pouco se preocupa em controlar o fluxo de
informações consumistas disponíveis na televisão e internet. Nesse sentido, o
despreparo das crianças em relação ao consumo consciente e às suas
responsabilidades as tornam alvos fáceis para as aquisições necessárias
impostas pelos anúncios publicitários.
Torna-se
evidente, portanto, que a questão da publicidade infantil exige medidas
concretas, e não um belo discurso. É imperioso, nesse sentido, uma postura
ativa do governo em relação à regulamentação da propaganda infantil, através da
criação de leis de combate aos comerciais apelativos para as crianças. Além
disso, o Estado deve estimular campanhas de alerta para o consumo moderado.
Porém, uma transformação completa deve passar pelo sistema educacional, que em
conjunto com o âmbito familiar pode realizar campanhas de conscientização por
meio de aulas sobre ética e moral. Quem sabe, dessa forma, a sociedade possa
tornar a geração infantil uma consumidora consciente do futuro, sem perder a
pureza proposta pelo Movimento Romântico.