Romário é deputado federal (PSB) e
Candidato a Senador pelo RJ, na Chapa de Lindeberg Farias (Líder dos Caras
Pintadas no 'Fora Collor' e atual senador pelo PT); Ex-jogador do Vasco, do
Flamengo, do Fluminense, do PSV da Holanda, do Barcelona e da SELEÇÃO BRASILEIRA.
Romário ataca cartolas que
comandam o futebol: 'bando de ladrões, corruptos e quadrilheiros'
Atualizado: 09/07/2014 11:30 | Por ESPN.com.br-
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Leia na íntegra a carta publicada por
Romário:
Galera,
passado o luto das
primeiras horas seguidas da derrota, vamos ao que verdadeiramente interessa!
Quem tem boa memória, vai lembrar da minha frase: Fora de campo, já perdemos a
Copa de goleada!
Infelizmente, dentro de
campo, não foi diferente.
Ontem foi um dia muito
triste para nosso futebol. Venceu o melhor e ninguém há de questionar a
superioridade do futebol alemão já há alguns anos. Ainda assim, o
mundo assistiu com perplexidade esta derrota, porque nem a Alemanha, no seu
melhor otimismo, deve ter imaginado essa vitória histórica.
Porém, se puxarmos da
memória, vamos lembrar que nossa seleção já não vinha apresentando nosso melhor
futebol há muito tempo. Jogamos muito mal. Infelizmente, levamos sete e, por
mais que isso cause mal-estar, devemos admitir que a chuva de gols foi apenas
reflexo do pânico, da incapacidade de reação dos nossos jogadores e da falta de
atitude do treinador de mudar o time.
Vivemos uma crise no
nosso esporte mais amado, chegamos ao auge dela. Acha que isso é problema só
dos jogadores ou do Felipão? Nem de longe.
Nosso futebol vem se
deteriorando há anos, sendo sugado por cartolas que não têm talento para fazer
sequer uma embaixadinha. Ficam dos seus camarotes de luxo nos estádios
brindando os milhões que entram em suas contas. Um bando de ladrões, corruptos
e quadrilheiros!
O meu sentimento é de
revolta.
Estou há quatro anos
pregando no deserto sobre os problemas da Confederação Brasileira de Futebol,
uma instituição corrupta gerindo um patrimônio de altíssimo valor de mercado,
usando nosso hino, nossa bandeira, nossas cores e, o mais importante, nosso
material humano, nossos jogadores. Porque não se iludam, futebol é negócio,
business, entretenimento e move rios de dinheiro. Nunca tive o
apoio da presidenta do País, Dilma Rousseff, ou do ministro do Esporte, Aldo
Rebelo. Que todos saibam: já pedi várias vezes uma intervenção política do
Governo Federal no nosso futebol.
Em 2012, eu apresentei
um pedido de CPI da CBF, baseado em um série de escândalos envolvendo a
entidade, como o enriquecimento ilícito de dirigentes, corrupção, evasão de
divisas, lavagem de dinheiro e desvio de verba do patrocínio
da empresa área TAM. O pedido está parado em alguma gaveta em Brasília há dois
anos. Em questionamento ao presidente da Câmara dos Deputados, sr. Henrique
Eduardo Alves, mas ouvi como resposta que este não era o melhor momento para se
instalar esta CPI. Não concordei, mas respeitei a decisão. E agora, presidente,
está na hora?
Exceto por um vexame
como o de ontem, o Brasil não precisaria se envergonhar de uma
derrota em campo, afinal, derrotas fazem parte do esporte. Mas vergonha mesmo
devemos sentir de ter uma das gestões de futebol mais corruptas do mundo. A
arrogância dessa entidade é tão grande que até o chefe da assessoria de
imprensa chega ao absurdo de bater em um atleta de outra seleção, como fez o
Rodrigo Paiva contra um jogador do Chile Pinilla. Paiva pegou quatro jogos de
suspensão e foi proibido de acessar o vestiário dos jogadores. Este ato foi
muito simbólico e diz muito sobre eles. O presidente da entidade, José Maria
Marin, é ladrão de medalha, de energia, de terreno público e apoiador da
ditadura. Marco Polo Del Nero, seu atual vice, recentemente foi detido,
investigado e indiciado pela Polícia Federal por possíveis crimes contra o
sistema financeiro, corrupção e formação de quadrilha. São esses que comandam o
nosso futebol. Querem vergonha maior que essa?
Marin e Del Nero tinham
que estar era na cadeia! Bando de vagabundos!!!
A corrupção da CBF tem
raízes em todos os clubes brasileiros, vale lembrar que são as federações e
clubes que elegem há anos o mesmo grupo de cartolas, com os mesmos métodos
de gestão arcaicos e corruptos implementados por João Havelange e
Ricardo Teixeira e mantidos por Marin e Del Nero. Vale lembrar, que estes dois
últimos mudaram o estatuto da entidade e anteciparam a eleição da CBF para
antes da Copa. Já prevendo uma possível derrota e a dificuldade que eles teriam
de se manter no poder com um quadro desfavorável.
E os clubes? Sim, eles
também são responsáveis por essa crise. Gestões fraudulentas, falta de
investimento na base, na formação de atletas. Grandes clubes
brasileiros estão falindo afogados em dívidas bilionárias com bancos e não
pagamentos de impostos como INSS, FGTS e Receita Federal.
E toda essa má gestão
que tem destruído o nosso futebol, infelizmente, tem sido respaldada há anos
pelo Congresso Nacional com anistias e mais anistia destes débitos. Este ano
tivemos mais um projeto desses vexatórios para salvar os clubes. Um projeto que
previa que clubes pagassem apenas 10% de suas dívidas e investissem 90%
restante em formação de atletas. Parece até deboche. Uma soma de
aproximadamente R$ 4 bilhões ou muito mais, não se sabe ao certo.
Corajosamente, o deputado Otávio Leite, reconstruiu o texto e apresentou uma
proposta honesta estruturada em responsabilidade fiscal, parcelamento de
dívidas e a criação de um fundo de iniciação esportiva, com obrigações claras
para clubes e CBF.
Em resumo, a nova
proposta além de constituir a Seleção Brasileira de Futebol e o Futebol
Brasileiro como Patrimônio Cultural Imaterial - obrigava a CBF a contribuir com
alíquota de 5% sobre as receitas de comercialização de
produtos e serviços proveniente da atividade de Representação do Futebol
Brasileiro nos âmbitos nacional e internacional. O tributo também incidiria
sobre patrocínio, venda de direitos de transmissão de imagens dos jogos da
seleção brasileira, vendas de apresentação em amistosos ou torneios para
terceiros, bilheterias das partidas amistosas e royalties sobre produtos
licenciados. O valor seria destinado a um fundo de iniciação esportiva para
crianças e jovens de todo o Brasil. Esses e outros artigos dariam
responsabilidade à CBF, punição à entidades e outros gestores do futebol, a CBF
estaria sujeita a fiscalização do TCU e obrigada a ter participação de um
conselho de atletas nas decisões.
Mas este texto
infelizmente não foi para a frente. Sete deputados alemães fizeram os gols que
desclassificaram nosso futebol e nos tirou a chance de moralizar nosso esporte.
Estes deputados, como todos sabem, fazem parte da Bancada da CBF, mudei o nome
porque Bancada da Bola é muito pejorativo para algo que amamos
tanto. Gosto de dar os nomes: Rodrigo Maia (DEM -RJ), Guilherme Campos
(PSD-SP), Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP), José Rocha (PR-BA) , Vicente Cândido
(PT-SP), Jovair Arantes (PTB-GO) e Valdivino de Oliveira (PSDB-GO).
Essa partida ainda pode
ser revertida com a votação do projeto no Plenário da Câmara. Será que esses
sete deputados voltarão a prejudicar o nosso futebol?
O futebol brasileiro
tomou uma goleada e a derrota retumbante, infelizmente, não foi só em campo.
Nem sequer tivemos o prazer de jogar no Maracanã, um templo do futebol mundial,
reformado ao custo de mais de R$ 1 bilhão. Acha que foi porque não chegamos a
final? Não. Poderíamos ter jogado qualquer outro jogo lá. A resposta disso é
ganância e arrogância. É a CBF que escolhe onde o Brasil vai jogar, mas,
obviamente, poderia ter tido interferência do Ministério do Esporte e da
presidência da República, mas nenhum destes se manifestou. Quem levou com essas
escolhas?
Para fechar com
chave de ouro, a CBF expulsou do vestiário Cafu, capitão de seleção do pentacampeonato.
Cafu foi expulso do vestiário enquanto cumprimentava os jogadores ontem. Este é
o retrato do nosso futebol hoje, não honramos a nossa história.
Dilma tem sim que
entregar a taça para outra seleção. Este gesto será o retrato do valor que ela
deu ao nosso futebol nos últimos anos! Eles levarão a taça e nós ficaremos com
nossos estádios superfaturados e nenhum legado material, porque imaterial, mostramos
para o mundo que com toda nossa dificuldade, somos um povo feliz.
Essa será a taça da
vergonha.