Muitos colegas professores se exaltam quando a discussão descamba para a qualidade dos livros lidos pela juventude atual. Alguns acham uma merda, baixa literatura, qualidade zero. Ótimo. É bom ter essa visão crítica acerca dos vários livros ruins que são lançados anualmente no Brasil e no mundo.
Paulo Coelho, o maior vendedor de livros do Brasil. |
O que alguns doutos docentes não percebem é que tais livros – série Harry Potter, série Crepúsculo, Paulo Coelho, Augusto Cury, etc. – servem como a boa e velha isca para a formação de futuros leitores. Ou alguém acha por aí que uma criatura se inicia nas letras lendo Ulisses, de James Joyce?
Para os que têm livros à mão, gozam das suas companhias, é só recuar um pouco no tempo e no espaço, lembrando-se das primeiras páginas lidas. Começou nas páginas de Os Sertões, de Euclides da Cunha, ou nos gibis de Batman, Superman ou da Turma da Mônica? O primeiro livro lido foi Grande Sertão Veredas, de Guimarães Rosa, ou as epopéias da literatura infanto-juvenil cobradas pelas professoras ginasiais em tenra infância?
O bruxinho Harry Potter é responsável por milhares de jovens lerem no mundo. |
Quem, em sã consciência, gostou de ler Machado de Assis com treze, quatorze anos de idade, em pleno Ensino Fundamental? Só doido ou gênio.
Não, os livros lidos eram os de Monteiro Lobato, e olhe lá! Livros de Bartolomeu Campos Queirós, Cecília Meirelles, Ruth Rocha, Ana (e Clara) Maria Machado, Pedro Bandeira, Moacyr Scliar, Vinícius de Moraes e tantos outros povoadores do imaginário lúdico infante.
O que convém nesse debate - sobre o que é bom ou não para se ler - é fazer com que os discentes, vivendo em um mundo absurdamente virtual, agreguem o computador com os livros, o televisor com os livros, o estudo com os livros, o namoro com os livros, a música eletrônica com os livros, a novela com os livros, etc. Não é tentar apartá-los, sem nenhum motivo plausível, dos prazeres e facilidades mundanos, mas fazê-los somar a tudo isso que desfrutam hoje aos benditos livros.
E se tiver que começar com os livros do pequenino bruxo inglês (longe de ser o bruxo do Cosme Velho!), que seja! Se tiver que começar torcendo pelo namoro dos vampirinhos Bella e Edward, que seja! Se for para descortinar os mistérios do ladrão de raios, que seja!
Livro inicial da série Crespúsuclo, de Bella e Edward. |
E as escolas não podem ignorar esse turbilhão de novidades que englobam a escrita no planeta. Não podem e não devem ficar obsoleta, cultuando apenas o ontem, esquecendo-se da atualidade.
Atualmente, O Ladrão de Raios arrebata a juventude. |
O que não convém, no entanto, é estacionar aí nesse nível. Tem que incentivar os alunos a seguir adiante, sendo introduzidos aos poucos à boa literatura, brasileira e universal. Um livro com uma densidade linguística um pouco maior, depois outro com uma trama mais complexa. Sempre partindo da narrativa mais clássica para a modernista e pós-modernista. Depois vêm os poemas, que são leituras mais sofisticadas e necessitam de maior conhecimento do mundo e da arte literária.
Sem saber como se processam os mecanismos do deleite, e vítimas do imediatismo que ronda a educação doméstica e escolar, os adultos tendem a impor aos jovens, aos adolescentes, os livros que eles acham bons, esquecendo-se que um dia também já foram jovens sem nenhuma preocupação na cabeça.
Gustavo Atallah Haun - Professor.
"Valeu Gustão", estamos nos deleitando e ampliando nosso prisma conscientivo neste incrível blog!
ResponderExcluirObrigada!!!!!
Excelente seu artigo. Sou professora de ensino fundamental há 25 anos e penso como você. A "isca" é fundamental. Meus alunos já leem Guimarães e Graciliano no 9º ano, mas antes passaram por Paula Pimenta (entre outros).
ResponderExcluirValeu, professor.
Falar que ler besteira forma leitores é só blá blá blá de relativista de quem não consegue separar o bom do ruim.
ResponderExcluir“Aquele que lê maus livros não leva vantagem sobre aquele que não lê livro nenhum.”
Mark Twain
Ricardo, então o menino cheio de ipad, iphone e os escambau começa a ler Machado de Assis ou James Joyce porque ele tem consciência lúcida do que é bom ou ruim em literatura universal? Muito sábio de sua parte, mostra o quanto você está distante da sala de aula, parceiro... Para começar a ler Mark Twain, que você cita, eu comecei com gibis... Depois livros de lendas, fábulas, histórias infantis e juvenis! Monteiro Lobato. Claro que, se eu tiver falando com algum gênio precoce, perdoe-me a inflexão! De resto, prove-me que estou errado, com argumentos e prática em turmas que você leciona, aí passarei a pensar igual a você!
ExcluirAbraços,
perguntei?
ExcluirSeus textos são ótimos, realmente enriquece qualquer leitor. Parabéns! virei seguidor do seu blog.
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