Menos da metade dos professores de escolas
públicas leem no tempo livre
05/02/2013 - 9h15
Mariana Tokarnia
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Um cabo de vassoura
que era capaz de falar e sentir era o protagonista do primeiro livro lido pela
então adolescente Denise Pazito. Hoje, professora e pedagoga no Espírito Santo,
ela fala da experiência em seu blog. "O livro foi indicado pela
escola. Provavelmente, eu estava no 4° ou 5° ano. Ele se chamavaMemórias de
um Cabo de Vassoura e o seu autor era Orígenes Lessa. Professora
inspirada a minha. Acertou na mosca. Uma história encantadora. Me encantou pelo
mundo das letras."
Mas assim como são capazes de
encantar, os professores têm em suas mãos o poder de desencantar, não por
intenção, às vezes por desconhecimento. Uma pesquisa feita pelo QEdu:
Aprendizado em Foco, uma parceria entre a Meritt e a Fundação
Lemann., organização sem fins lucrativos voltada para educação, mostra que
menos da metade dos professores das escolas públicas brasileiras tem o hábito
de ler no tempo livre.
Baseado nas respostas dadas aos
questionários socioeconômicos da Prova Brasil 2011, aplicados pelo Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), e
divulgados em agosto do ano passado, o levantamento do QEdu mostra que dos
225.348 professores que responderam à questão, 101.933 (45%) leem sempre ou
quase sempre, 46.748 (21%) o fazem eventualmente e 76.667 (34%), nunca ou quase
nunca.
No caso de Denise, a leitura
levou essa prática para as salas de aula, no entanto, muitos brasileiros
terminam o ensino básico sem ler um livro inteiro. Para além da falta do hábito
de leitura, a questão pode estar ligada a infraestrutura.
"O número de professores que
não leem é chocante, mas isso pode estar ligado ao acesso. É preciso lembrar
que faltam bibliotecas e que um livro é caro. Um professor de educação básica
ganha em média 40% menos que um profissional de ensino superior. Acho que
faltam políticas de incentivo. Não acredito que seja apenas desinteresse",
diz a diretora executiva do movimento Todos pela Educação, Priscila Cruz.
Um levantamento divulgado em janeiro
pelo movimento mostra que o Brasil precisa construir 128 mil bibliotecas
escolares em sete anos para cumprir uma lei federal que vigora desde 2010. Segundo a pesquisa, faltam 128
mil bibliotecas no país. Para sanar esse déficit até 2020, deveriam ser
erguidos 39 espaços por dia, em unidades de ensino públicas e particulares.
Atualmente, a deficiência é maior nas escolas públicas (113.269), o que
obrigaria a construção de 34 unidades por dia até 2020.
Para Priscila, uma possível
solução seriam os livros digitais. O Programa Nacional de Formação Continuada
em Tecnologia Educacional (ProInfo Integrado) do Ministério da Educação
distribui equipamentos tecnológicos nas escolas e oferece conteúdos e recursos
multimídia.
Além disso, o governo facilita o
acesso aos conteúdos por meio da distribuição de tablets, tanto
para professores quanto para estudantes. No ano passado, o MEC transferiu R$
117 milhões para 24 estados e o Distrito Federal para a compra de 382.317 tablets,
destinados inicialmente a professores do ensino médio.
Sobre o acesso digital, os dados
do levantamento do QEdu mostram que 68% dos professores (148.910) que
responderam à pergunta usam computador em sala de aula. O estado com a maior
porcentagem é Mato Grosso do Sul: 95% dos professores disseram que usam o
equipamento. O Maranhão é o estado com a menor porcentagem (50,5%) de professores
fazem o uso do computador. É lá também onde se constatou a maior porcentagem de
escolas onde não há computadores: 38,3%. Estão no Sudeste, no entanto, as
maiores porcentagens dos professores que acreditam não ser necessário o uso de
computador nas salas: Minas Gerais (16%), Rio de Janeiro (15,4%) e São Paulo
(15%).
O responsável pelo estudo, o
coordenador de Projetos da Fundação Lemann, Ernesto Martins, diz que o país
ainda tem problemas estruturais que dificultam o acesso a tecnologias.
"Existem muitos desafios no país ligados a problemas de infraestrutura.
Não apenas de acesso às máquinas, mas de acesso à internet, à qualidade dos
sinais", disse.
Ao recepcionar o professor
norte-americano, o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, ressaltou a importância
dos meios digitais: “O conteúdo ao qual o filho dos mais ricos tem acesso pode
ser dado aos menos servidos de educação. Queremos tornar a educação não algo
escasso, mas um direito humano que todas as pessoas possam ter”, disse.
Edição:
Tereza Barbosa // Matéria alterada às 10h44 para esclarecer informações
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