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segunda-feira, 19 de novembro de 2012

COMO FAZER UMA BOA REDAÇÃO



"Um dos piores erros que os candidatos podem cometer em uma prova de redação é a extrema preocupação com a forma, com a gramática. O importante é que ele opine sobre o tema", explica a coordenadora da banca de avaliação de redações da PUC-RS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul), Marisa Magnus Smith.
Já faz tempo que o segredo de escrever uma boa redação deixou de ser o fato de não errar a gramática. Na opinião de especialistas, acima de tudo, uma boa redação de vestibular - que nada mais é do que um teste para averiguar a capacidade do estudante em opinar e refletir - deve conter argumentação bem colocada e bem fundamentada.
Para se sair bem em sua "defesa", os especialistas dizem que os candidatos não devem ficar "em cima do muro" (ora a favor, ora contra o tema), tampouco comprar opiniões do senso-comum. Se o candidato não estiver certo do que está dizendo e não expuser razões para pensar daquela forma o texto fica vazio. "O texto tem que ter posicionamento, se for exclusivamente informativo não é bom. Aliás, não dá nem para começar a escrever um texto se não tiver uma opinião. Um texto sem opinião não existe", reforça o professor de redação do Cursinho Anglo, Maurício Soares Filho.
Para entender melhor por que os especialistas defendem essa idéia é fácil: imagine que as drogas acabaram de ser legalizadas pelo governo. Segundo os especialistas, se as pessoas abrem o jornal e procuram um artigo sobre a questão e encontram um texto sem nenhuma argumentação ou opinião, elas não refletirão, além de chato de ler. Para eles, aquilo que o leitor espera de um articulista é o mesmo que um examinador de vestibular espera de um futuro universitário (especialmente se for de universidade pública): opinião e reflexão.
De acordo com Soares Filho, para seu texto causar impacto, porém, a opinião deve estar muito clara. Por isso, a construção da redação deve valorizar seus argumentos. A ordem é apostar na organização da estrutura textual para não perder o fio da meada. "Organizar as informações é o segredo para fazer que a opinião apareça", complementa Soares Filho.

TREINANDO UM TEXTO NOTA 10

Se a intenção é obter destaque por meio de uma boa argumentação, o que fazer para se preparar? Ler, ler, ler e escrever, escrever e escrever. "O hábito da leitura ajuda a desenvolver a escrita. Além disso, com a prática da redação, alguns padrões de textualidade são mais facilmente assimilados do que pelo professor a falar em sala de aula", enfatiza Marisa.
Para Soares Filho, a prova de redação é 50% leitura e 50% escrita. "Uma é conseqüência da outra. O primeiro passo para ter sucesso é ler o tema com muita atenção e, em seguida, posicionar sua opinião para definir o que será defendido".
Uma boa dica é ler editoriais, crônicas, artigos e textos assinados que emitam opinião sobre o tema que é retratado. Com isso, é possível criar uma bagagem de como e em que momentos é pertinente evidenciar as opiniões pessoais.
Outra dica valiosa é procurar ser autêntico. Na hora de escrever um texto sobre a legalização das drogas ou do aborto ninguém precisa "encarnar o revolucionário" para passar em um vestibular de uma universidade famosa por sua histórica política de contestação. A autenticidade do seu pensamento deve estar refletida em seu texto, nem mais, nem menos.
"Como professor, uma de minhas preocupações é esclarecer para os meus alunos que eles não devem fingir ser uma pessoa que não são na hora de escrever, pois assim, vão ter dificuldades em sustentar os argumentos, e fica muito fácil se contradizer, o que compromete a qualidade do texto", diz Maurício.
Por fim, a prova de redação serve para avaliar a capacidade do candidato de se comunicar por escrito, de fazer reflexão e de conseguir se expressar de maneira simples e coesa. Por isso é tão importante não ser superficial e mostrar uma visão crítica sobre o tema a ser discutido.

REDAÇÕES COMENTADAS

REDAÇÃO DE Luíza Sampaio, aluna do 3º ano do Colégio Anchieta:

Tema:
A Democracia envelheceu (perdeu a respeitabilidade) ou o homem perdeu o senso de respeito ao seu semelhante?

Texto: 
É democrática toda ação que representa a expressão da vontade da maioria. A Democracia é o princípio que, ao unir liberdades individuais e coletivas do cidadão, permite a troca e o diálogo político, sem retirar do Estado o poder de decisão em prol do bem estar da sociedade.
Nunca existiu, entretanto, um regime verdadeiramente democrático no planeta, desde a antiguidade até a era contemporânea. No passado recente da história humana, dois sistemas políticos, aparentemente opostos, revelaram como o autoritarismo controla as relações de poder entre os homens, desde sempre.
A ditadura socialista errou ao partir do pressuposto de que todos os indivíduos possuem as mesmas necessidades, errou ao sufocar a individualidade e o movimento das massas com o autoritarismo. A ditadura socialista errou ao retirar do cidadão o direito de se expressar, o direito de criticar.
Da mesma forma, o capitalismo massacrou identidades ao impor produto e pregar padrão comportamental, propiciando as condições de massificação da sociedade. O jogo capitalista também tem sua forma requintada de manipular opiniões e controlar as formas de comunicação. A ditadura do capital apresenta a propaganda de uma sociedade guiada pela liberdade sem citar que para cada Estados Unidos, paga-se o preço de uma África.
Cada dia que passa, enfim, as nações se afastam do regime verdadeiramente democrático. É necessário desenvolver um modelo humanista que saiba conciliar as liberdades individuais e coletivas. Simultaneamente, o homem precisa ter assegurados seus direitos fundamentais e, ainda, notar que existe liberdade maior que a pura e simples liberdade de escolher entre as marcas A e B.

Comentário do professor Evert Reis:

Temos aí uma redação de nível bastante competitivo. Atendendo perfeitamente ao contexto do tema, ela define, primeiro, o que é Democracia para, em seguida, responder, de maneira crítica e contundente, que nunca existiu, de fato, regime democrático do planeta. Toma dois valores referenciais e desenvolve a ideia de que eles sempre foram os manipuladores desse processo. O texto apresenta, também, um nível de linguagem formal, elegante e argumentação criativa, reafirmando pontos de vista com o uso de repetição enfática e objetiva.
A estrutura frasal é outra boa marca desse texto. A conclusão poderia ser menor (uma linha apenas) para ser mais perfeita, mas a fluência verbal é tão boa que absorve tranquilamente esse detalhe. Quanto ao conteúdo, um tema dessa natureza oferece um campo enorme de abordagem, mas no espaço oferecido de 25 a 30 linhas o aluno deve ter o cuidado de selecionar seus tópicos para não tornar seu texto denso ou prolixo.
Enfim, o texto é claro, conciso, correto e de linguagem criativa. O vestibular não espera menos que isso.
 
REDAÇÃO DE Mauro Tupiniquim, aluno do 3º ano do Centro Federal de Educação Tecnológica da Bahia (CEFET-BA):

Tema:
Citação escolhida pelo aluno para a produção do texto dissertativo: “Com as mudanças climáticas, o cotidiano de bilhões de pessoas foi diretamente afetado e, para evitar a piora da situação, é preciso que haja o controle de um dos maiores responsáveis pelo aquecimento global: o efeito estufa.”

Texto:
O elevado desenvolvimento capitalista, em um contexto de avanço tecnológico histórico na produção de materiais, provoca uma série de conseqüências, as quais podem ser desastrosas para o nosso planeta. A pressão do setor financeiro especulativo sobre os “detentores do capital” acentua o fenômeno da dominação econômica, não deixando espaço para solução de danos, como o do efeito estufa, inviabilizando as propostas criadas por cientistas renomados, alguns da NASA, para “salvar o planeta”.
Desde meados do século passado até a atualidade, a sociedade capitalista, firmada como soberana (com o fim da União Soviética) , vem acumulando uma série de detritos e restos resultantes da alta produção e resultante consumo de produtos. Esse lixo produzido em vasta quantidade, de composição altamente agressiva ao equilíbrio ecológico do planeta, vem causando prejuízos e danos às populações humanas como o caso do “Furacão Catrina” que arruinou cidades, no segundo semestre de 2006.
Dos danos previstos para o futuro, se nada for feito, acredita-se que o derretimento das calotas polares, causado pelo efeito estufa, será o mais significativo pois alagará cidades costeiras economicamente importantes como Nova York, principalmente a Ilha de Manhathan.
Mesmo com o perigo eminente dessas conseqüências, previsto para menos de 30 anos, os grandes capitalistas se recusam a gastar dinheiro em investimentos necessários para tentar evitar tais conseqüências. O principal argumento é que os investimentos são caros demais para serem arcados por eles.
Se continuarmos nesse ritmo, é penoso afirmar que não haverá saída para a civilização humana senão a adaptação a essas novas mudanças. A questão será se o ser humano conseguirá se adaptar a elas ou se seremos vítimas do nosso próprio fracasso.

Comentário da Professora Conceição Araújo:

O texto tem uma linguagem clara e fluente. Os argumentos são sólidos e contundentes. Não há problemas de coerência e coesão, elementos indispensáveis a um bom texto dissertativo.

Observações específicas sobre o tratamento do tema:

1. O aluno sublinha, na citação, o eixo central do tema proposto. Essa atitude demonstra que o aluno fez uma leitura interpretativa atenciosa. Iniciando dessa forma, pôde avaliar as possibilidades de escrita bem como a opção pela via de análise que mais seja apropriada para dissertar sobre o tema: o efeito estufa.

   2. No 1º parágrafo, o aluno detecta e examina a raiz do problema apresentado na citação: o capitalismo.

   3. No 2º , faz um breve comentário crítico sobre o lixo produzido pelo consumo exagerado de produtos, considerado como mais um elemento causador do efeito estufa, o que resulta em catástrofe ambiental, exemplificando com fato recente, divulgado pela mídia.

   4. No 3º, destaca a recusa dos grandes capitalistas, em investir em soluções para o problema.

   5. No 4º, acrescenta informação sobre previsão de catástrofe, num futuro bem próximo, em âmbito internacional.

   6. Conclui coerentemente, apesar de não oferecer uma proposta de solução objetiva e prática para a questão, considerando a complexidade do tema abordado.