Luís Fernando Veríssimo nasceu em 26 de setembro de
1936, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Filho do grande escritor Érico Veríssimo,
iniciou seus estudos no Instituto Porto Alegre, tendo passado por escolas nos
Estados Unidos quando morou lá, em virtude de seu pai ter ido lecionar em uma
universidade na Califórnia, por dois anos. Voltou a morar nos EUA quando tinha
16 anos, tendo cursado a Roosevelt High School de Washington, onde também
estudou música, sendo até hoje inseparável de seu saxofone.
No jornal Zero Hora,
começou a escrever crônicas, narrando de uma forma leve e engraçada, fatos de
nosso cotidiano, indo desde assuntos como a política até os namoros do tempo de
portão. Foi daí que surgiu seu estilo único, apreciado e comentado em todo o
país.
Veja abaixo um dos
textos mais conhecidos deste autor:
O povo
Não posso deixar de concordar com tudo que
dizem do povo. É uma posição impopular, eu sei, mas o que fazer? É a hora da
verdade. O povo que me perdoe, mas ele merece tudo o que se tem dito dele. E
muito mais.
As opiniões recentemente emitidas sobre ao
povo até agora foram tolerantes. Disseram, por exemplo, que o povo se comporta
mal em grenais. Disseram que o povo é corrupto. Por um natural escrúpulo, não
quiseram ir mais longe. Pois eu não tenho escrúpulo.
O povo se comporta mal em toda parte, não
apenas no futebol. O povo tem péssimas maneiras. O povo se veste mal. Não raro,
cheira mal também. O povo faz xixi e cocô em escala industrial. Se não houvesse
povo, não teríamos o problema ecológico. O povo não sabe comer. O povo tem um
gosto deplorável. O povo é insensível. O povo é vulgar.
A chamada explosão demográfica é culpa
exclusivamente do povo. O povo se reproduz numa proporção verdadeiramente
suicida. O povo é promíscuo e sem-vergonha. A superpopulação nos grandes
centros se deve ao povo. As lamentáveis favelas que tanto prejudicam nossa
paisagem urbana foram inventadas pelo povo, que as mantém contra os preceitos
da higiene e da estética.
Responda, sem meias palavras: haveria os
problemas de trânsito se não fosse pelo povo? O povo é um estorvo.
É notória a incapacidade política do povo.
O povo não sabe votar. Quando vota, invariavelmente vota em candidatos
populares que, justamente por agradarem ao povo, não podem ser boa coisa.
O povo é pouco saudável. Há, sabidamente,
95 por cento mais cáries dentárias entre o povo. O índice de morte por má
nutrição entre o povo é assustador. O povo não se cuida. Estão sempre sendo
atropelados. Isto quando não se matam entre si. O banditismo campeia entre o
povo. O povo é ladrão. O povo é viciado. O povo é doido. O povo é imprevisível.
O povo é um perigo.
O povo não tem a mínima cultura. Muitos
nem sabem ler ou escrever. O povo não viaja, não se interessa por boa música ou
literatura, não vai a museus. O povo não gosta de trabalho criativo, prefere
empregos ignóbeis e aviltantes. Isto quando trabalha, pois há os que preferem o
ócio contemplativo, embaixo de pontes. Se não fosse o povo nossa economia
funcionaria como uma máquina. Todo mundo seria mais feliz sem o povo. O povo é
deprimente. O povo deveria ser eliminado.
voce é fantástico!
ResponderExcluirHOJE O LUIS FERNANDO VERISSIMO COM 86 ANOS
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