Sêo Oscar era um dos homens mais
ricos da Bahia, com certeza o maior cacauicultor individual do mundo à sua
época.
A fama dele corria léguas e mais
léguas: homem previdente, astuto e trabalhador. Ninguém lhe passava a perna.
Corria a estória de que até seu genro tinha tentado assassiná-lo (de olho na gorda
fortuna!), porém não havia logrado êxito, pois Sêo Oscar fora mais esperto...
Havia migrado de Sergipe para o
sul da Bahia em busca de terras e riquezas. E as conseguiu, com muito suor e
dedicação.
O tempo passava e Sêo Oscar só prosperava
ainda mais.
Certa feita ele se dirigiu ao
antigo Banco Nacional – era um dos maiores correntistas da instituição – e
pediu para reaver sua aplicação. Era muito dinheiro. O Banco consultou o saldo:
mais de milhões! Trabalheira danada. Contaram, recontaram. Colocaram em várias
maletas o seu valioso vintém. No fim do dia, quando lhe entregaram o montante,
ele disse ao gerente:
- Ô, seu menino, sabe de uma, não vou levar o dinheiro, não... Só queria
saber se vocês tinham guardado ele bem, aí...
As más línguas criaram inúmeras
lendas sobre Sêo Oscar, como a de que ele amarrava um comprimido de melhoral e tomava para passar a dor de
cabeça constante. Quando estava bom da dor, puxava de volta o cordão, guardando
o remédio para uma próxima vez...
Como disse, muitas, muitas
lendas! E o homem era famoso por elas.
Mas um fato real aconteceu que
supera a todos os demais, e que de forma alguma vem abonar o seu caráter, senão
mostrar o seu espírito capitalista e de visão de mercado aguçadíssimo.
Juntando os dedos dos pés e das
mãos não dava para contar a quantidade de fazendas de Sêo Oscar. Eram inúmeras.
Todas produtivas, o que o fez colher a incrível soma de 120 mil arrobas de
cacau.
Enfim, ele tinha em uma das suas
“terrinhas” uma pedreira mui valiosa e que ele não sabia do fato. Depois de
aplainar o local para nova cultura agrícola, várias pedras de amolar apareceram
quebradas no terreno. De todos os tamanhos e formas.
Seu funcionário o alarmou para o
caso, ele não se fez de rogado. Mandou-o se dirigir à maior loja de ferragens e
material de construção da cidade e perguntar se o dono, Sêo Nicodemos, tinha a
tal pedra para vender.
- Olha, meu filho, tenho três pedrinhas aqui, muito boas...
Sêo Oscar mandou então o trabalhador
comprar as três. Seu funcionário, intrigado, ficou de orelha em pé: “Cumé que pode, o homi tem num sei quantas na
fazenda dele e manda cumprá?”
E durante as duas semanas
seguintes, o conhecido cacauicultor mandava alguns dos seus mais de trezentos
funcionários irem ao comerciante, um ou dois por dia, para perguntar se tinha
pedra de amolar para vender.
- Ô, meu filho, num tem não... Acabou! – Sempre respondia, mas
pensando de si para si no faro comercial: “Meu
Deus, tou perdendo um dinheiro da disgrama sem essas pedras aqui!”
Passando o tempo supracitado,
Sêo Oscar telefona para o amigo, dono da loja, como quem não quer nada:
- Ô Nicó, lá nas minhas “terrinhas” descobri umas pedrinhas de amolar...
Você não tem interesse, não, Nicó?
- Mas, Oscar, eu tenho e muito...
Fecharam negócio, e Sêo Oscar
mandou tantas carretas de pedras para o amigo Nicó, que este, vindo a morrer
trinta anos após, ainda tinha pedras de amolar para vender!
* Gustavo
Atallah Haun é professor, formado em Letras, UESC, e ministra aula em Itabuna e
região. Escreve para jornais de Itabuna, Ilhéus e edita
oblogderedacao.blogspot.com (g_a_haun@hotmail.com). É maçom, da Loja Acácia
Grapiúna.
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