Respostas de formandos no Enade 2012 têm erros de português como
‘egnorância’ e ‘precarea’
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Estudantes que estão concluindo ensino
superior cometem equívocos grosseiros de ortografia e construção frasal.
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Inep diz que há rigor na correção.
Publicado:15/04/13 - 7h45
Atualizado:15/04/13 - 8h24
RIO - Não
é apenas no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) que os estudantes cometem
erros absurdos de ortografia. No Exame Nacional de Desempenho de Estudantes
(Enade), alunos que estão se formando no ensino superior cometem desvios tão ou
mais graves como “egnorancia”, “precarea” e “bule” (bullying).
Esses
e outros exemplos foram repassados por uma corretora do Enade 2012, que avaliou
concluintes de cursos como Direito, Comunicação Social, Administração, Ciências
Econômicas, Relações Internacionais e Psicologia. A professora entregou o
material pessoalmente ao GLOBO, mas, por ter assinado contrato de sigilo com o
Ministério da Educação (MEC), não pode ser identificada. A docente procurou o
jornal depois de ler, também no GLOBO, a reportagem, publicada no dia 18 de
março, mostrando que redações que receberam nota 1.000 no Enem tinham erros
como “trousse”, “enchergar” e “rasoável”.
Em dez
respostas à segunda questão discursiva, há erros, sobretudo, de estrutura
frasal, imprecisão vocabular e fragmentação de sentido. Segundo a professora,
mesmo corrigidos equívocos de pontuação, regência, ortografia e concordância,
esses textos continuariam errados.
A questão
pedia que, a partir da análise de charges e da definição de violência formulada
pela Organização Mundial de Saúde (OMS), o candidato redigisse um texto sobre a
violência atual, contemplando três aspectos: tecnologia e violência (3 pontos);
causas e consequências da violência na escola (3 pontos); proposta de solução
para a violência na escola (4 pontos).
Um formando
escreveu: “A violencia e causada muitas vezes pela falta de cultura e pela
egnorancia dos seres humanos, cuja a tecnologia sao duas grandes preocupação
para a sociedade, causando violencia nas escolas”. Outro estudante respondeu:
“Hoje o sistema de segurança publica a inda e muito precarea no Brasil precisa
ater mais infraestrutura para a segurança da sociedade em geral”.
Um terceiro
redigiu: “As escolas tem que orienta e ajuda estas crianças que são violêntas e
pratica o bule por enquanto são crianças por que só assim elas terão chacer de
melhora e ser uma pessoa melhor e mas calma”. Em outra resposta, constava:
“Esperamos que com a oportunidade de farias formação academica possa
futuramente acabar ou diminuir este comportamnento do sr humano”.
— Os
critérios são benevolentes, mandam não pesar a mão para manter média 5. Precisa
se dar à opinião pública a ideia de que o ensino está melhorando. Mas não está.
As faculdades formam profissionais analfabetos funcionais. Esse é o final do
filme — diz a corretora.
Em nota, o
Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anisio Teixeira (Inep) rebate com
veemência as críticas, afirmando que “são completamente infundadas as
suspeições levantadas pela suposta corretora de que ocorreu orientação para
‘aliviar’ nas correções”. De acordo com o órgão, responsável pela aplicação da
prova, “isso não acontece, nem aconteceu, no Enade, Enem, ou em qualquer outro
exame sob responsabilidade do Inep/MEC”. O comunicado esclarece ainda quaisquer
erros tão grosseiros como os citados nesta reportagem certamente teriam
“baixíssima avaliação”.
Segundo o
Inep, as correções do Enade 2012 são feitas por bancas constituídas de um
professor doutor como presidente e membros com titulação de doutorado ou
mestrado, vinculados há, pelo menos, cinco anos a instituições de ensino
superior. “São cerca de 500 profissionais do mais alto nível que podem atestar
a seriedade do exame e das correções”, diz a nota.
De acordo
com o órgão, “o rigor das avaliações do Enade se expressa nas medidas de
supervisão e regulação adotadas pelo MEC, com base nos indicadores de qualidade
como o índice geral de cursos (IGC) e o conceito preliminar de curso (CPC). Na
nota do CPC, o desempenho dos estudantes representa 55% do total”. O resultado
do Enade não impossibilita que os estudantes se formem, a menos que eles não
compareçam à prova.
Pós-doutor
em Linguística Aplicada e professor da UFRJ e da Uerj, Jerônimo Rodrigues de
Moraes Neto considera gravíssimo o exercício de qualquer profissão sem o
conhecimento da língua portuguesa:
— As
profissões nas quais esses alunos se formam não geram à sociedade os resultados
a que se destinam. Advogado que não entende cliente não consegue, na petição,
se fazer entender pelo juiz. Não tem condições de interpor recursos.
Este ano,
apenas 10,3% dos 114.763 participantes que prestaram o Exame de Ordem dos
Advogados do Brasil (OAB) foram aprovados. É o pior resultado desde que passou
a ser aplicado no formato unificado, em 2010. E, como mostrou pesquisa do
Núcleo Brasileiro de Estágios, erros de português são o principal motivo de
reprovação em processos seletivos de estágio. No estudo, que avaliou 7.219
alunos de níveis superior e médio, 28,8% perderam oportunidades por isso. Para
corrigir as deficiências, universidades oferecem cursos de reforço. Na opinião
de Moraes Neto, esse tipo de curso é excelente, mas o cerne da questão é a
formação do professor de Português:
— O ponto
crucial reside na formação do professor de Português, que deverá ensinar o
aluno a falar, escrever e ler, mediante conhecimento do sistema linguístico da
língua portuguesa.
Para a
professora Cibele Yahn de Andrade, do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas
da Unicamp, nivelar o ensino superior é necessário. Mas, para ela, o centro do
problema está nos ensinos fundamental e médio.
— Não é
possível superar essas deficiências acumuladas, de modo satisfatório, em curto
prazo. São habilidades que deveriam ser adquiridas ao longo da vida escolar, na
sequência de atividades de leitura e escrita diversificadas e com desafios
crescentes.
(Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/educacao/respostas-de-formandos-no-enade-2012-tem-erros-de-portugues-como-egnorancia-precarea-8114717#ixzz2QXZbrDbq)
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