De forma genérica, pode-se dizer
que narração é a apresentação, por meio de um narrador, de fatos ou
acontecimentos, vividos por personagens, em determinado tempo e espaço.
Mas, qual a diferença da
narração comum e da narração cobrada em vestibulares?
A diferença é o teor crítico. A
narração é uma estória, informa indiretamente, através de personagens, ações
destes, enredo, etc. Já a dissertação informa diretamente: vai direto ao ponto.
Mesmo assim, no vestibular, a
narração deve ser crítica, uma estória mais profunda do que a que
costumeiramente se lê em livros, jornais, revistas e sites.
LINGUAGEM NA NARRAÇÃO:
OBJETIVA – é uma
linguagem denotativa, dicionaresca, autoexplicativa e predomina o uso da 3ª
pessoa.
SUBJETIVA – é uma linguagem conotativa, figurativa,
metafórica, poética e predomina o uso da 1ª pessoa.
EXEMPLO DE LINGUAGEM OBJETIVA:
O incêndio
Ocorreu um pequeno incêndio na
noite de ontem, em um apartamento de propriedade do Sr. Marcos da Fonseca.
No local habitavam o
proprietário, sua esposa e seus filhos. Todos eles, na hora em que o fogo
começou, tinham saído de casa e estavam jantando em um restaurante situado em
frente ao edifício. A causa do incêndio foi um curto-circuito ocorrido no
precário sistema elétrico do velho apartamento.
O fogo despontou em um dos
quartos que, por sorte, ficava na frente do prédio. O porteiro do restaurante,
conhecido da família, avistou-o e
imediatamente foi chamar o Sr. Marcos. Ele, mais que depressa, ligou para o
Corpo de Bombeiros.
Embora não tivesse demorado a
chegar, os bombeiros não conseguiram impedir que o quarto e sala ao lado fossem
inteiramente destruídos pelas chamas. Não obstante o prejuízo, a família
consolou-se com o fato de que aquele incidente não ter tomado maiores
proporções, atingindo os apartamentos vizinhos. (Do livro Técnicas Básicas de
Redação, ed. Scipione, p.21)
EXEMPLO DE LINGUAGEM SUBJETIVA:
Com
a fúria de um vendaval
Em uma certa manhã acordei
entediada. Estava em minhas férias escolares do mês de julho. Não pudera
viajar. Fui ao portão e avistei, três quarteirões ao longe, a movimentação de
uma feira livre.
Não tinha nada para fazer, e
isto estava me matando de aborrecimento. Embora soubesse que uma feira livre
não constitui exatamente o melhor divertimento do qual um ser humano pode
dispor, fui andando, a passos lentos, em direção àquelas barracas. Não esperava
ver nada de original, ou mesmo interessante. Como é triste o tédio! Logo que me
aproximei, vi uma senhora alta, extremamente gorda, discutindo com um feirante.
O dono da barraca tentava em vão
acalmar a nervosa senhora. Não sei por que brigavam, mas sei o que vi: a
mulher, imensamente gorda (...) erguia seus enormes braços e, com os punhos
cerrados, gritava contra o feirante. Comecei a me assustar, com medo de que ela
destruísse a barraca (e talvez o próprio homem) devido a sua fúria
incontrolável. Ela ia gritando e se empolgando com sua raiva crescente e ficando
cada vez mais vermelha, assim como os tomates, ou até mais.
De repente, no auge da ira,
avançou contra o homem já atemorizado e, tropeçando em alguns tomates podres
que estavam no chão, caiu (...) no asfalto, para o divertimento do pequeno
público que,assim como eu, assistiu àquela cena incomum. (idem, p. 22 e 23)
DISCURSOS NA NARRAÇÃO:
DIRETO: é quando o narrador da voz aos personagens, há
diálogos. Predomina o tempo presente, a presença de verbos discendi (perguntar,
responder, dizer, etc.) e pontuação característica;
INDIRETO: é quando o narrador fala pelos personagens, não da
voz, não há diálogos diretos. Predomina o tempo passado.
INDIRETO LIVRE: é a mistura dos outros dois tipos de
discurso: ações dos personagens misturadas com a voz do narrador, assim como o
tempo passado e o tempo presente.
EXEMPLO DE DISCURSO DIRETO:
O primeiro dia no
cursinho
Maria Helena acabava de se
matricular em um famoso cursinho, desses que preparam os alunos para os
vestibulares. Logo no primeiro dia de aula, depois de subir os seis lances de
escada que a conduziam à sua sala de duzentos e quarenta alunos, entrou na sala
espantada com a quantidade de colegas. Assistiu às três primeiras aulas (ou
conferências) que os professores deram com o auxílio de microfones.
Quando bateu o sinal do
intervalo, ela perguntou a um colega de classe:
- Você, por acaso, sabe onde
fica a lanchonete?
- Fica no térreo - respondeu-lhe
o colega gentilmente.
Ela então começou a descer (...)
escadas, acompanhada por uma quantidade incontável de pessoas, ou seja, os
colegas das outras quinze salas de aula existentes em cada andar. Sentia-se
como uma torcedora saindo do Morumbi depois de um clássico.
Após algum tempo chegou ao
térreo e lá avistou uma aglomeração comparável ao público que comparecia aos
comícios das “Diretas”.
- Por favor, você sabe onde fica
a lanchonete? Disseram que estava no térreo - perguntou Maria Helena para uma
moça que estava ao seu lado.
- Mas você já está na
lanchonete!
Descobriu então que estava no
lugar procurado, mas não dava para ver a caixa registradora, situada a alguns
metros dela, de tanta gente que havia. Ela já estava na fila do caixa e não
sabia. (idem, p. 30 e 31)
EXEMPLO DE DISCURSO INDIRETO:
O primeiro
dia no cursinho
Maria Helena acabava de
matricular-se em um famoso cursinho, desses que preparam os alunos para os
vestibulares. Logo no primeiro dia de aula, depois de subir os seis lances de
escada que a conduziam à sua sala de duzentos e quarenta alunos, entrou na sala
espantada com a quantidade de colegas. Assistiu às três primeiras aulas (ou
conferências) que os professores deram com o auxílio de microfones.
Quando bateu o sinal do
intervalo, tentou encontrar a lanchonete que ficava no térreo. Maria Helena
então começou a descer os seis lances de escadas, acompanhada por uma
quantidade incontável de pessoas, ou seja, os colegas das outras quinze salas
de aula existentes em cada andar. Sentia-se como uma torcedora saindo do
Morumbi depois de um clássico.
Após algum tempo chegou ao
térreo e lá avistou uma aglomeração comparável ao público que comparecia aos
comícios das “Diretas”. Olhou para todos os lados e não viu lanchonete alguma.
Pouco tempo depois, descobriu
que a lanchonete era lá mesmo, mas não dava para ver a caixa registradora,
situada a alguns metros dela, de tanta gente que havia. Ela já estava na fila
do caixa e não sabia. (idem, p. 30)
EXEMPLO DE DISCURSO INDIRETO LIVRE:
“Que vontade de voar lhe veio
agora! Correu outra vez com a respiração presa. Já nem podia mais. Estava
desanimado. Que pena! Houve um momento em que esteve quase... quase!
Retirou as asas e estraçalhou-a. Só tinham
beleza. Entretanto, qualquer urubu... que raiva...” (Ana Maria Machado)
“D. Aurora sacudiu a cabeça e afastou o juízo
temerário. Para que estar catando defeitos no próximo? Eram todos irmãos.
Irmãos.” (Graciliano Ramos)
“O matuto sentiu uma frialdade mortuária
percorrendo-o ao longo da espinha.
Era uma urutu, a terrível urutu do sertão,
para a qual a mezinha doméstica nem a dos campos possuíam salvação.
Perdido... completamente
perdido...” (H. de C. Ramos)
Ótimo texto, mas quais são os critérios para a correção de uma narração para o vestibular? Sou professora (inexperiente) de redação em um cursinho e gostaria que me indicasse alguns textos de base sobre o gênero narrativo. Se for, possível, sobre outros textos que são cobrados no vestibular também. Desde já, agradeço.
ResponderExcluir