quarta-feira, 16 de maio de 2012

NARRAÇÃO PARA O VESTIBULAR I



De forma genérica, pode-se dizer que narração é a apresentação, por meio de um narrador, de fatos ou acontecimentos, vividos por personagens, em determinado tempo e espaço.
Mas, qual a diferença da narração comum e da narração cobrada em vestibulares?
A diferença é o teor crítico. A narração é uma estória, informa indiretamente, através de personagens, ações destes, enredo, etc. Já a dissertação informa diretamente: vai direto ao ponto.
Mesmo assim, no vestibular, a narração deve ser crítica, uma estória mais profunda do que a que costumeiramente se lê em livros, jornais, revistas e sites.

LINGUAGEM NA NARRAÇÃO:

OBJETIVA –  é uma linguagem denotativa, dicionaresca, autoexplicativa e predomina o uso da 3ª pessoa.

SUBJETIVA – é uma linguagem conotativa, figurativa, metafórica, poética e predomina o uso da 1ª pessoa.

EXEMPLO DE LINGUAGEM OBJETIVA:

O incêndio

Ocorreu um pequeno incêndio na noite de ontem, em um apartamento de propriedade do Sr. Marcos da Fonseca.
No local habitavam o proprietário, sua esposa e seus filhos. Todos eles, na hora em que o fogo começou, tinham saído de casa e estavam jantando em um restaurante situado em frente ao edifício. A causa do incêndio foi um curto-circuito ocorrido no precário sistema elétrico do velho apartamento.
O fogo despontou em um dos quartos que, por sorte, ficava na frente do prédio. O porteiro do restaurante, conhecido da família, avistou-o  e imediatamente foi chamar o Sr. Marcos. Ele, mais que depressa, ligou para o Corpo de Bombeiros.
Embora não tivesse demorado a chegar, os bombeiros não conseguiram impedir que o quarto e sala ao lado fossem inteiramente destruídos pelas chamas. Não obstante o prejuízo, a família consolou-se com o fato de que aquele incidente não ter tomado maiores proporções, atingindo os apartamentos vizinhos. (Do livro Técnicas Básicas de Redação, ed. Scipione, p.21)

EXEMPLO DE LINGUAGEM SUBJETIVA:

Com a fúria de um vendaval

 Em uma certa manhã acordei entediada. Estava em minhas férias escolares do mês de julho. Não pudera viajar. Fui ao portão e avistei, três quarteirões ao longe, a movimentação de uma feira livre.
Não tinha nada para fazer, e isto estava me matando de aborrecimento. Embora soubesse que uma feira livre não constitui exatamente o melhor divertimento do qual um ser humano pode dispor, fui andando, a passos lentos, em direção àquelas barracas. Não esperava ver nada de original, ou mesmo interessante. Como é triste o tédio! Logo que me aproximei, vi uma senhora alta, extremamente gorda, discutindo com um feirante.
O dono da barraca tentava em vão acalmar a nervosa senhora. Não sei por que brigavam, mas sei o que vi: a mulher, imensamente gorda (...) erguia seus enormes braços e, com os punhos cerrados, gritava contra o feirante. Comecei a me assustar, com medo de que ela destruísse a barraca (e talvez o próprio homem) devido a sua fúria incontrolável. Ela ia gritando e se empolgando com sua raiva crescente e ficando cada vez mais vermelha, assim como os tomates, ou até mais.
De repente, no auge da ira, avançou contra o homem já atemorizado e, tropeçando em alguns tomates podres que estavam no chão, caiu (...) no asfalto, para o divertimento do pequeno público que,assim como eu, assistiu àquela cena incomum. (idem, p. 22 e 23)

DISCURSOS NA NARRAÇÃO:

DIRETO: é quando o narrador da voz aos personagens, há diálogos. Predomina o tempo presente, a presença de verbos discendi (perguntar, responder, dizer, etc.) e pontuação característica;

INDIRETO: é quando o narrador fala pelos personagens, não da voz, não há diálogos diretos. Predomina o tempo passado.

INDIRETO LIVRE: é a mistura dos outros dois tipos de discurso: ações dos personagens misturadas com a voz do narrador, assim como o tempo passado e o tempo presente.

EXEMPLO DE DISCURSO DIRETO:

O primeiro dia no cursinho

Maria Helena acabava de se matricular em um famoso cursinho, desses que preparam os alunos para os vestibulares. Logo no primeiro dia de aula, depois de subir os seis lances de escada que a conduziam à sua sala de duzentos e quarenta alunos, entrou na sala espantada com a quantidade de colegas. Assistiu às três primeiras aulas (ou conferências) que os professores deram com o auxílio de microfones.
Quando bateu o sinal do intervalo, ela perguntou a um colega de classe:
- Você, por acaso, sabe onde fica a lanchonete?
- Fica no térreo - respondeu-lhe o colega gentilmente.
Ela então começou a descer (...) escadas, acompanhada por uma quantidade incontável de pessoas, ou seja, os colegas das outras quinze salas de aula existentes em cada andar. Sentia-se como uma torcedora saindo do Morumbi depois de um clássico.
Após algum tempo chegou ao térreo e lá avistou uma aglomeração comparável ao público que comparecia aos comícios das “Diretas”.
- Por favor, você sabe onde fica a lanchonete? Disseram que estava no térreo - perguntou Maria Helena para uma moça que estava ao seu lado.
- Mas você já está na lanchonete!
Descobriu então que estava no lugar procurado, mas não dava para ver a caixa registradora, situada a alguns metros dela, de tanta gente que havia. Ela já estava na fila do caixa e não sabia. (idem, p. 30 e 31)

EXEMPLO DE DISCURSO INDIRETO:

O primeiro dia no cursinho

Maria Helena acabava de matricular-se em um famoso cursinho, desses que preparam os alunos para os vestibulares. Logo no primeiro dia de aula, depois de subir os seis lances de escada que a conduziam à sua sala de duzentos e quarenta alunos, entrou na sala espantada com a quantidade de colegas. Assistiu às três primeiras aulas (ou conferências) que os professores deram com o auxílio de microfones.
Quando bateu o sinal do intervalo, tentou encontrar a lanchonete que ficava no térreo. Maria Helena então começou a descer os seis lances de escadas, acompanhada por uma quantidade incontável de pessoas, ou seja, os colegas das outras quinze salas de aula existentes em cada andar. Sentia-se como uma torcedora saindo do Morumbi depois de um clássico.
Após algum tempo chegou ao térreo e lá avistou uma aglomeração comparável ao público que comparecia aos comícios das “Diretas”. Olhou para todos os lados e não viu lanchonete alguma.
Pouco tempo depois, descobriu que a lanchonete era lá mesmo, mas não dava para ver a caixa registradora, situada a alguns metros dela, de tanta gente que havia. Ela já estava na fila do caixa e não sabia. (idem, p. 30)

EXEMPLO DE DISCURSO INDIRETO LIVRE:

“Que vontade de voar lhe veio agora! Correu outra vez com a respiração presa. Já nem podia mais. Estava desanimado. Que pena! Houve um momento em que esteve quase... quase!
 Retirou as asas e estraçalhou-a. Só tinham beleza. Entretanto, qualquer urubu... que raiva...” (Ana Maria Machado)

 “D. Aurora sacudiu a cabeça e afastou o juízo temerário. Para que estar catando defeitos no próximo? Eram todos irmãos. Irmãos.” (Graciliano Ramos)

 “O matuto sentiu uma frialdade mortuária percorrendo-o ao longo da espinha.
 Era uma urutu, a terrível urutu do sertão, para a qual a mezinha doméstica nem a dos campos possuíam salvação.
Perdido... completamente perdido...” (H. de C. Ramos)

Um comentário:

  1. Ótimo texto, mas quais são os critérios para a correção de uma narração para o vestibular? Sou professora (inexperiente) de redação em um cursinho e gostaria que me indicasse alguns textos de base sobre o gênero narrativo. Se for, possível, sobre outros textos que são cobrados no vestibular também. Desde já, agradeço.

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