20/09/2012
10h39 - Atualizado em 20/09/2012 11h16
Nos últimos 10 anos, 35 milhões
de pessoas entraram na classe média
Dado é de
estudo da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência.
Estima-se que
o Brasil tenha 104 milhões na classe, 53% da população.
Iara Lemos e Alexandro
Martello
Do G1, em Brasília
Na última década, 35 milhões de pessoas passaram a
integrar a classe média no Brasil, segundo estudo da Secretaria de Assuntos
Estratégicos (SAE), da Presidência da República divulgado nesta quinta-feira
(20). No total, estima-se que o Brasil tenha 104 milhões de pessoas na classe
média, o que representa 53% da população brasileira - 20% estão na classe alta
e 28%, na baixa. Em 2002, 38% da população estava na classe média.
O ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos da
Presidência, Moreira Franco, afirmou que a pesquisa é uma forma de o governo e
a sociedade conhecerem a classe média do país.
“Temos 35 milhões de pessoas entrando para a classe
média. Os senhores que aqui estão sabem do tamanho desta empreitada, desta
mobilização, deste esforço de garantia de direitos ao cidadão. A pobreza no
país neste período caiu de 27% para menos de 15% em 2012. A extrema pobreza,
que é um dos desafios do governo, passou de 10% da população para menos de 5%
da população. Em torno de 18 milhões de empregos foram criados neste período”,
afirmou.
Moreira Franco afirmou que um dos objetivos do
governo é combater a desigualdade. “Nós entendemos que a diferença não é ruim.
As pessoas são doferentes, as pessoas querem praticar a diferença. O que temos
de combater é a desigualdade”.
De acordo com o estudo “Vozes da Classe Média”, a
classe, com renda familiar per capta que varia entre R$ 291 e R$ 1.019, acessa
mais os serviços particulares, como escolas e planos de saúde. Na classe baixa,
5% possuem convênios médicos, na classe média esse percentual chega a 24%.
Os dados também mostram que a renda de 40% da classe
média vem do trabalho, sendo que 50% trabalham mais de 40 horas semanais.
Quando o assunto é economizar, a classe média poupa
mais que a classe baixa (32% contra 24%) e menos que a classe alta, que poupa,
em média, 51%.
Com relação aos estudos, a SAE aponta que 14% dos
jovens da classe media estão em escolas particulares. Já nas universidades,
eles representam apenas 7% dos alunos.
Renda X classe
Segundo os critérios da secretaria, quem vive com
mais de R$ 1.019 por mês pertence à classe alta. A comissão responsável pelos
parâmetros reconhece que o valor é baixo, mas segundo eles, a renda familiar
por pessoa, de mais da metade da população, é inferior a R$ 440 por mês. Para
ser incluído no grupo dos 5% mais ricos, a pessoa precisa ganhar na faixa de R$
2.365 mensais. Para compor a classe do 1% mais rico, a renda mínima é de
R$11.000 por ao mês.
O estudo usou dados da Pesquisa Nacional por
Amostras de Domicílios (PNAD), da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF),
ambas produzidas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Além dessas, o projeto usa pesquisas realizadas pelo Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada (Ipea), pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e pelo
Instituto Data Popular.
'Transformação profunda'
Para Moreira Franco, a sociedade brasileira está
vivendo uma "transformação profunda" com a ascensão de milhões de
pessoas à classe média. Esta transformação, segundo ele, está alterando a vida
das pessoas não somente no plano econômico, mas também em termos de valores e
atitudes.
"É uma mudança que nós temos que começar a nos
acostumar. Determinadas ações do governo já estão sendo obrigadas a olhar este
segmento de uma outra maneira. Ele deixa de ser objeto de política social apra
ser objeto de política econômica. Não é mais assistência social que vai
garantir a capacidade dessa parcela da população de crescer, de se desenvolver.
Temos de ter política econômica que não veja só o BNDES. Temos que ter
políticas que vejam a educação financeira, o crédito, a infraestrutura, que
cuide da educação, da qualificação e do emprego. São valores que estamos sendo
obrigados a incorporar no nosso universo de ação pública", declarou ele.
***
FOLHA ONLINE
08/08/2008
É
a classe média, estúpido!
Como diria alguém, nunca antes na história deste país a classe média
virou mais da metade da população. De acordo com estudo do economista Marcelo
Neri, da FGV (Fundação Getúlio Vargas), o número de famílias de classe média
subiu de 42,26% para 51,89% entre 2004 e 2008.
A FGV considera uma família de classe média (classe C) quando ela tem
renda mensal entre R$ 1.064 e R$ 4.591. O estudo também confirmou outros dados
recentes que mostram redução da pobreza.
São notícias boas para o país que acabam sendo boas para o governo de
plantão. Elas ajudam a explicar a popularidade de Lula.
O Brasil vem melhorando desde a redemocratização em 1985. Avançou
vagarosamente em alguns momentos, como nos governos Sarney e Collor e no
segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso. Avançou mais rapidamente em
outras fases, como nas gestões de Itamar e no primeiro mandato de FHC.
No governo Lula, progressos para os mais pobres têm acontecido com
relativa velocidade. O petista é beneficiado por esse processo geral de
melhora, por políticas que nasceram nos anos tucanos e por acertos próprios.
Lula conduziu a economia com responsabilidade e acelerou o ritmo de
redução da pobreza. Ele tem feito um ajuste fiscal mais duro do que o de FHC,
apesar de os tucanos baterem na tecla de aumento de gastos – algo que realmente
aconteceu no segundo mandato do petista. Lula massificou programas sociais tipo
amostra-grátis. O Bolsa-Família apanhou e apanha muito, mas tem muito mais
acertos do que erros.
Setores da oposição na política e na mídia oscilam do esperneio ao
desânimo. Ora, enxergam uma iminente tentação totalitária de Lula – o fantasma
do terceiro mandato, a conexão Farc. Ora, sonham com a explosão de novo
escândalo de corrupção para afundar o petista na impopularidade.
Essa gente está apostando errado. Talvez fosse conveniente aos planos
futuros do PSDB e do DEM chamar James Carville para uma conversa. Marqueteiro
de Bill Clinton em 1992, Carville cunhou a expressão "é a economia,
estúpido!". Ele se referia à recessão americana que levaria George Bush
pai à derrota na eleição presidencial daquele ano.
No Brasil sob Lula, a economia vai bem no geral. No entanto, os mais
pobres vivem melhor do que viviam antes da chegada do petista ao Palácio do
Planalto. Algum mérito Luiz Inácio deve ter tido. A classe média virou maioria
da população economicamente ativa.
Faria um bem danado à oposição se concentrar em propostas para melhorar
a vida de todos os brasileiros, de miseráveis a pobres, de remediados a ricos.
Carville aconselharia: "É a classe média, estúpido".
Kennedy
Alencar, 40, é
colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em
Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre os bastidores da política federal, aos
domingos.Também é comentarista do telejornal "RedeTVNews", no ar de
segunda a sábado às 21h10.
***
Brasil - Médios em
renda, medíocres em tudo
24.08.07 – BRASIL, por
Welton Oda*
“Sou
classe média
Papagaio de todo telejornal
Eu acredito na
imparcialidade da revista semanal
Sou classe média,
compro roupa e gasolina no
cartão
Odeio "coletivos"
e vou de carro que comprei a prestação
Só pago impostos,
Estou sempre no limite do
meu cheque especial...”
Max
Gonzaga
Eu
e os familiares (pensei dizer, para simplificar o entendimento, "meus
familiares", mas alguns pularam logo e disseram que não são meus) ganhamos
juntos mais de R$ 1.000,00 mensais. Somos, portanto, uma família de classe
média, certo? Talvez para o IBGE, mas, como vocês verão a seguir, somos muito
distintos deste retrato fidelíssimo descrito pelo Max Gonzaga. Nossa família
não é consangüínea, a mídia comercial para nós, é nociva e mais deforma do que
informa e, apesar de termos um carro, também andamos de ônibus e de bicicleta.
Ah! Muito importante: não temos cheque especial.
E
não é só isso: não freqüentamos shopping centers, butiques, cabeleireiros,
manicures, não pagamos condomínio, não compramos presentes no dia dos pais, dos
namorados, das mães, natal, dia das crianças ou qualquer outra data
capitalística. Nossos filhos não assistem aos produtos estupidificantes da
indústria cultural, que as emissoras de TV disponibilizam (nem as da TV aberta,
nem os dos canais privados) e, por conta disso, para nossas crianças, o mundo
não está sendo dividido entre o rosa das meninas e o azul dos meninos. Não
compramos videogames, Barbies, super-heróis japoneses ou americanos, nem
mochilinhas ou caderninhos dos programas de televisão.
Assim,
nós não temos PROBLEMAS. Aliás, este é um vocábulo tão difícil de pronunciar,
com seus tantos encontros consonantais, que os "médios" (como serão
chamados a partir de agora), utilizando-se de seu conhecido preconceito
lingüístico, pensam que a incapacidade de pronunciá-la corretamente é um
"defeito intelectual" de pessoas das classes "populares"
(eufemismo que utilizam para referirem-se aos pobres), que, na míope percepção
dos médios, só seriam capazes de dizer ‘pobrema’. Mal sabem os desinformados
médios que, por trás de uma suposta dificuldade de pronunciar adequadamente tal
palavra, há, em verdade, uma abissal diferença etimológica.
Os
que falam problema estão se referindo a situações que, por puro esbanjamento (o
espírito de "só quer ser gatinha, mas só come ovo"), não souberam
administrar, como o limite do cheque especial, o pagamento das aulas de balé da
filha, a prestação do carro novo, a reforma da casa, o condomínio, o corte de
cabelo que não ficou bom ou a nova amante do marido. Já ‘pobrema’ seria a
junção de pobre com problema (que o Aurélio me perdoe a heresia), ou seja,
definiria problemas mais reais de um cotidiano menos "Ilha da
Fantasia", como o ônibus que atrasa, o dinheiro que insiste em acabar
antes do final do mês, a falta de água nas torneiras, o aumento no preço do pão
ou a falta de professores nas escolas públicas.
Não
somos classe média, moramos no bairro manauara do Coroado, o Corô-Corô, não
vivemos em condomínio fechado. Assim, não corremos o risco de nos tornarmos o
sujeito descrito pelo Max Gonzaga, que não "tá nem aí, se o traficante é
quem manda na favela, não tá nem aqui, se morre gente ou tem enchente em
Itaquera, que quer é que se exploda a periferia toda, mas fica indignado com o
Estado, quando é incomodado pelo pedinte esfomeado, que lhe estende a mão, o
pára-brisa ensaboado, é camelô, biju com bala, e as peripécias do artista,
malabarista do farol". Confesso, inclusive, que adoro ver um médio com
"raivinha" do garoto insistente que tanto o "importuna",
querendo limpar seu pára-brisa.
Conheço
bem a classe média e, devo dizer, embora envergonhadamente, que já fui um
deles, convicto. Além disso, trabalho numa universidade pública e conheço a
empáfia destes sujeitos que acreditam que são melhores do que os outros porque
ingressaram nela, disputando em "regime de igualdade" com muitos
outros. É claro que as provas de seleção são feitas conforme as regras dos
médios, utilizando a linguagem dos médios, a literatura que seus professores
obrigaram-lhes a ler nas escolas particulares, além da garantia de que serão
avaliados pelos próprios médios. Tais processos, até os dias de hoje, são alvos
de crítica de todo educador lúcido, por avaliar mais a capacidade de
memorização do que as habilidades intelectivas. Portanto, selecionam
"computadores com memória abarrotada" e, portanto, menos capazes de
fazer o processador rodar. No entanto, estes nerds consideram-se (com o apoio
da família), verdadeiros geniozinhos. Sabem tudo sobre dinossauros e sobre a
Grécia Antiga. Só não sabem para que serve saber isso.
Não
sou classe média, portanto, diferente da maioria dos professores e dos
estudantes universitários, não leio best-sellers ou livros de auto-ajuda. Por
isso, compro livros a bons preços, muitos deles usados, vendidos em sebos. Não
priorizo os "novos", pois sei que grande parte das "grandes
novidades" da ciência e da literatura, os "best-sellers" literários
e uspianos, são bons mesmo em fazer a pessoa ficar estúpida, enquanto muitas
obras antigas, como as de Sócrates, Victor Hugo, Milan Kundera, Dostoyevsky,
Marx, Foucault, Deleuze, Nietzsche, Sartre, possuem a propriedade de serem
úteis e atuais em qualquer tempo. Os médios são todos iguais e, nos Jardins, em
São Paulo (conforme atestado pelo articulista Daniel Piza), ou no Vieiralves,
em Manaus, lêem tão pouco que, apesar de toda a sua volúpia, dentre suas
necessidades de consumo, suas butiques, restaurantes, pet shops e locadoras de
DVDs, não existe espaço para livros. Não existem livrarias.
Outra
diferença fundamental é que pobres sabem a real utilidade das coisas. Assim,
para eles, casas são feitas para morar e carros servem para andar (e não para
se exibir), embora muitos, tomados pelo espírito dos médios, sonhem com um
bólido possante com televisão, frigobar e computador. Os médios, por sua vez,
na ânsia de tornarem-se ricos, entram no lance da acumulação do capital,
comprando imóveis para "alugar" ou, em outras palavras, para
"desalojar outros", pois muitas vezes, mesmo tendo casa própria,
entram em financiamentos populares, tomando a casa e a vez de alguém que
realmente necessita.
Mas
os médios não se importam se estão condenando alguém a ficar desabrigado,
afinal, a propriedade privada é "sagrada" e foi conquistada "com
o seu próprio suor". Assim, ao mesmo tempo que desalojam famílias, são
contrários às ocupações populares (a que chamam de "invasões") e como
diz o teatralizante Marcos José, "se o pobre vive em um constante estado
de inanição, ele nunca vai atingir a plenitude da satisfação que, de certa
maneira, implicaria numa posterior relação afetiva com o próximo".
Talvez
agora, graças ao modismo bulímico das top models, os médios possam descobrir o
que é a privação, mesmo que através da caquexia de suas filhas amarguradas com
o regime de prisão domiciliar em que vivem. Quem sabe a greve de fome coletiva,
protagonizada por adolescentes e jovens médias, não seja uma recusa ao padrão
de vida de esbanjamento do corpo e da alma, a este espírito de obesidade
física e intelectual. Se esta suposta greve funcionar, talvez possa sobrar um
pouco de alimento para quem precisa e aí, como diria o cantor e profeta Tom Zé
"comece a nascer pra todo lado, Jesus Cristo e muito Fidel Castro".
Ter
espírito da classe média diz muito mais do que critérios de renda; são escolhas
éticas e políticas. Assim, da mesma forma que os médios são caricaturas dos
ricos, há pobres que se espelham na classe média e assumem todos os seus falsos
desejos, este fetichismo pelos objetos de consumo, chegando até a trocar uma
alimentação mais saudável ao longo do mês por um microsistem ou por um tênis
importado.
Quer
saber se você tem espírito de classe média? Basta responder afirmativamente as
seguintes perguntas; você já comprou (ou pretende comprar) o presente para o
Dia dos Pais? Comprou no shopping, é claro? Você já leu a Veja da semana? E a
Caras? Já assistiu ao Jornal Hoje? E a boneca da sua filha? É uma Barbie? Já
pagou a prestação do carro novo? Já leu o último livro do Paulo Coelho, do
Augusto Cury, do Içami Tiba? Já foi ao show do Fábio Júnior? Tem cartão da
C&A? E como anda o limite do cheque especial?
* Colaborador da Rádio Comunitária "A Voz das
Comunidades", membro do Núcleo Comunitário Sophia e professor da
Universidade Federal do Amazonas.
***
Classe
Média
Letra e música de Max Gonzaga
Sou classe média
Papagaio de todo telejornal
Eu acredito
Na imparcialidade da revista
semanal
Sou classe média
Compro roupa e gasolina no
cartão
Odeio "coletivos"
E vou de carro que comprei a
prestação
Só pago impostos
Estou sempre no limite do meu
cheque especial
Eu viajo pouco, no máximo um
pacote cvc tri-anual
Mas eu "to nem ai"
Se o traficante é quem manda
na favela
Eu não "to nem
aqui"
Se morre gente ou tem
enchente em itaquera
Eu quero é que se exploda a
periferia toda
Mas fico indignado com estado
quando sou incomodado
Pelo pedinte esfomeado que me
estende a mão
O pára-brisa ensaboado
É camelo, biju com bala
E as peripécias do artista
malabarista do farol
Mas se o assalto é em moema
O assassinato é no
"jardins"
A filha do executivo é
estuprada até o fim
Ai a mídia manifesta a sua
opinião regressa
De implantar pena de morte,
ou reduzir a idade penal
E eu que sou bem informado
concordo e faço passeata
Enquanto aumenta a audiência
e a tiragem do jornal
Porque eu não "to nem
ai"
Se o traficante é quem manda
na favela
Eu não "to nem
aqui"
Se morre gente ou tem
enchente em itaquera
Eu quero é que se exploda a
periferia toda
Toda tragédia só me importa
quando bate em minha porta
Porque é mais fácil condenar
quem já cumpre pena de vida.
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