O TEXTO AUTOBIOGRÁFICO
É,
como o próprio nome indica, uma biografia redigida pela própria pessoa;
O
autor narra, em primeira pessoa, acontecimentos que seleciona da sua própria
vida, em geral para caracterizar a sua personalidade;
O
relato autobiográfico tem, em geral, um caráter mais expressivo do que
informativo, mas que gere interesse ao público;
Os
poetas podem utilizar (eu-lírico) para falar da sua arte poética.
Exemplo 1:
Dizem que finjo ou minto
Tudo que escrevo. Não.
Eu simplesmente sinto
Com a imaginação.
Não uso o coração.
Tudo o que sonho ou passo,
O que me falha ou finda,
É como que um terraço,
Sobre outra coisa ainda.
Essa coisa é que é linda.
Por isso escrevo em meio
Do que não está ao pé,
Livre no meu enleio,
Sério do que não é.
Sentir? Sinta quem lê!
(Fernando Pessoa, in Antologia Poética, RBA, 1996)
Tudo que escrevo. Não.
Eu simplesmente sinto
Com a imaginação.
Não uso o coração.
Tudo o que sonho ou passo,
O que me falha ou finda,
É como que um terraço,
Sobre outra coisa ainda.
Essa coisa é que é linda.
Por isso escrevo em meio
Do que não está ao pé,
Livre no meu enleio,
Sério do que não é.
Sentir? Sinta quem lê!
(Fernando Pessoa, in Antologia Poética, RBA, 1996)
Exemplo 2:
...Eu me experimento
inacabado. Da obra, o rascunho. Do gesto, o que não termina.
Sou como o rio em processo
de vir a ser. A confluência de outras águas e o encontro com filhos de outras
nascentes o tornam outro.
O rio é a mistura de
pequenos encontros. Eu sou feito de águas, muitas águas. Também recebo
afluentes e com eles me transformo. O que sai de mim cada vez que amo?
O que em mim acontece
quando me deparo com a dor que não é minha, mas que pela força do olhar que me
fita vem morar em mim? Eu me transformo em outros? Eu vivo para saber.
O que do outro recebo leva
tempo para ser decifrado. O que sei é que a vida me afeta com seu poder de
vivência. Empurra-me para reações inusitadas, tão cheias de sentidos ocultos.
Cultivo em mim o acúmulo
de muitos mundos. Por vezes o cansaço me faz querer parar. Sensação de que já
vivi mais do que meu coração suporta.
Os encontros são muitos;
as pessoas também. As chegadas e partidas se misturam e confundem o coração.
É nesta hora em que me pego
alimentando sonhos de cotidianos estreitos, previsíveis.
Mas quando me enxergo na
perspectiva de selar o passaporte e cancelar as saídas, eis que me aproximo de
uma tristeza infértil. Melhor mesmo é continuar na esperança de confluências
futuras.
Viver para sorver os novos
rios que virão. Eu sou inacabado. Preciso continuar. Se a mim for concedido o
direito de pausas repositoras, então já anuncio que eu continuo na vida.
A trama de minha
criatividade depende deste contraste, deste inacabado que há em mim. Um dia sou
multidão; no outro sou solidão.
Não quero ser multidão
todo dia. Num dia experimento o frescor da amizade; no outro a febre que me faz
querer ser só. Eu sou assim. Sem culpas.
Padre Fabio de Melo
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