O mundo está sofrendo enormes
convulsões em todas as áreas. A todo instante são noticiados levantes,
intifadas, revoltas, catástrofes.
Filhos matando os pais e pais
matando os filhos já passaram para a ala do bestial cotidiano.
Drogadição, ser humano vivendo
em lixões, abortos, penas de morte sumárias (sem julgamentos!), lavagens de
dinheiro, falta de fé no próximo e em algo superior. Enfim, essa parece ser a
trajetória atual do homem pós-ultra-moderno mergulhado em longa crise identitária.
Como se não bastasse, há ainda aqueles
que desprezam a História, o outro, desdenham da condição alheia, invejam os que
estão em postos de comando e, assim, fazem de tudo para derribá-lo, mesmo que
com isso custe a vida de milhões.
É nessa perspectiva que se deve
assistir ao incrível documentário O Nó,
dirigido, produzido e roteirizado por Dilson Araújo.
Capa do documentário O Nó, de Dilson Araújo.
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O documentário trata da inserção
da praga moniliophtora perniciosa,
vulgarmente apelidada de vassoura-de-bruxa ou VB, no ano de 1989, em toda a região
cacaueira do sul da Bahia.
Através dos meios de comunicação
fica-se sabendo que as verbas para a realização do documentário foram
conseguidas entre os cacauicultores, entidades e empresas do ramo agropecuário
- para denunciar e também servir de prova em peça jurídica -, e, à primeira
vista, pode-se ter uma ideia preconcebida de unilateralidade, parcialidade, coorporativismo,
ou seja, um filme para defender o lado dos antigos sinhozinhos e coronéis.
Mas não se trata disso. Pensar
assim é pensar tacanho em frente aos fatos.
O documentário O Nó desvela uma realidade amplamente comprovada,
vivida, sentida. Documentos oficiais perpassam por todo o enredo do filme,
aliados aos depoimentos técnicos elucidadores e narrações (embora lentas,
baixas e insípidas) que nos fazem ter uma visão mais global, percebendo a hecatombe
biológica que aconteceu no sul do estado.
Ficam evidentes em O Nó o despreparo da Ceplac com a praga
(mesmo a VB sendo conhecida nas regiões amazônicas e pela Ceplac deter uma
verba superior ao do estado de Alagoas), o descaso dos governos com os
produtores e a falta de representação política da região para levar o assunto
em nível nacional.
Um fato interessante e
perturbador na película é o depoimento do senhor Timóteo, um dos mentores do
terrorismo biológico. Ele aponta todos os que faziam parte do núcleo político
interno da Ceplac responsável pelo ato, deliberado para que essa Instituição
não cerrasse as portas e também para destruir os cacauicultores ricos, que na
maioria das cidades grapiúnas dominavam a política local.
E é ainda mais estranho e
desconcertante saber que todos os apontados estão por aí, à solta, alguns até eleitos
em sufrágio popular, pois segundo as investigações há um precedente de
prescrição, o crime não pode ser julgado, não há indiciados.
É filme obrigatório para que todos
aqueles que têm ligação umbilical com a região possa entender o que por aqui se
passou. É assistir e se estarrecer. Sem pipocas e sem guloseimas para não
engasgar: apenas desfrutando do choque brutal jogado na cara pela telinha.
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