O ato de desviar-se da norma padrão no intuito de alcançar
uma maior expressividade, refere-se às figuras de linguagem. Quando o desvio se
dá pelo não conhecimento da norma culta, temos os chamados vícios de linguagem.
Subdividem-se em figuras de som, figuras de construção,
figuras de pensamento e figuras de palavras.
Figuras de som
a) aliteração: consiste na repetição ordenada de mesmos sons
consonantais.
“Esperando, parada, pregada na pedra do porto.”
b) assonância: consiste na repetição ordenada de sons
vocálicos idênticos.
“Sou um mulato nato no sentido lato
mulato democrático do litoral.”
c) paronomásia: consiste na aproximação de palavras de sons
parecidos, mas de significados distintos.
“Eu que passo, penso e peço.”
Figuras de construção
a) elipse: consiste na omissão de um termo facilmente
identificável pelo contexto.
“Na sala, apenas quatro ou cinco convidados.” (omissão de
havia)
b) zeugma: consiste na elipse de um termo que já apareceu
antes.
Ele prefere cinema; eu, teatro. (omissão de prefiro)
c) polissíndeto: consiste na repetição de conectivos ligando
termos da oração ou elementos do período.
“ E sob as ondas ritmadas
e sob as nuvens e os ventos
e sob as pontes e sob o sarcasmo
e sob a gosma e sob o vômito (...)”
d) inversão: consiste na mudança da ordem natural dos termos
na frase.
“De tudo ficou um pouco.
Do meu medo. Do teu asco.”
e) silepse: consiste na concordância não com o que vem
expresso, mas com o que se subentende, com o que está implícito. A silepse pode
ser:
• De gênero
Vossa Excelência está preocupado.
• De número
Os Lusíadas glorificou nossa literatura.
• De pessoa
“O que me parece inexplicável é que os brasileiros
persistamos em comer essa coisinha verde e mole que se derrete na boca.”
f) anacoluto: consiste em deixar um termo solto na frase.
Normalmente, isso ocorre porque se inicia uma determinada construção sintática
e depois se opta por outra.
A vida, não sei realmente se ela vale alguma coisa.
g) pleonasmo: consiste numa redundância cuja finalidade é
reforçar a mensagem.
“E rir meu riso e derramar meu pranto.”
h) anáfora: consiste na repetição de uma mesma palavra no
início de versos ou frases.
“ Amor é um fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer”
Figuras de pensamento
a) antítese: consiste na aproximação de termos contrários,
de palavras que se opõem pelo sentido.
“Os jardins têm vida e morte.”
b) ironia: é a figura que apresenta um termo em sentido
oposto ao usual, obtendo-se, com isso, efeito crítico ou humorístico.
“A excelente Dona Inácia era mestra na arte de judiar de
crianças.”
c) eufemismo: consiste em substituir uma expressão por outra
menos brusca; em síntese, procura-se suavizar alguma afirmação desagradável.
Ele enriqueceu por meios ilícitos. (em vez de ele roubou)
d) hipérbole: trata-se de exagerar uma ideia com finalidade
enfática.
Estou morrendo de sede. (em vez de estou com muita sede)
e) prosopopeia ou personificação: consiste em atribuir a seres
inanimados predicativos que são próprios de seres animados.
O jardim olhava as crianças sem dizer nada.
f) gradação ou clímax: é a apresentação de ideias em
progressão ascendente (clímax) ou descendente (anticlímax)
“Um coração chagado de desejos
Latejando, batendo, restrugindo.”
g) apóstrofe: consiste na interpelação enfática a alguém (ou
alguma coisa personificada).
“Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!”
Figuras de palavras
a) metáfora: consiste em empregar um termo com significado
diferente do habitual, com base numa relação de similaridade entre o sentido
próprio e o sentido figurado. A metáfora implica, pois, uma comparação em que o
conectivo comparativo fica subentendido.
“Meu pensamento é um rio subterrâneo.”
b) metonímia: como a metáfora, consiste numa transposição de
significado, ou seja, uma palavra que usualmente significa uma coisa passa a
ser usada com outro significado. Todavia, a transposição de significados não é
mais feita com base em traços de semelhança, como na metáfora. A metonímia
explora sempre alguma relação lógica entre os termos. Observe:
Não tinha teto em que se abrigasse. (teto em lugar de casa)
c) catacrese: ocorre quando, por falta de um termo
específico para designar um conceito, torna-se outro por empréstimo.
Entretanto, devido ao uso contínuo, não mais se percebe que ele está sendo
empregado em sentido figurado.
O pé da mesa estava quebrado.
d) antonomásia ou perífrase: consiste em substituir um nome
por uma expressão que o identifique com facilidade:
...os quatro rapazes de Liverpool (em vez de os Beatles)
e) sinestesia: trata-se de mesclar, numa expressão,
sensações percebidas por diferentes órgãos do sentido.
A luz crua da madrugada invadia meu quarto.
Vícios de linguagem
A gramática é um conjunto de regras que estabelece um
determinado uso da língua, denominado norma culta ou língua padrão. Acontece
que as normas estabelecidas pela gramática normativa nem sempre são obedecidas,
em se tratando da linguagem escrita. O
ato de desviar-se da norma padrão no intuito de alcançar uma maior
expressividade, refere-se às figuras de linguagem. Quando o desvio se dá pelo
não conhecimento da norma culta, temos os chamados vícios de linguagem.
a) barbarismo: consiste em grafar ou pronunciar uma palavra
em desacordo com a norma culta.
pesquiza (em vez de pesquisa)
prototipo (em vez de protótipo)
b) solecismo: consiste em desviar-se da norma culta na
construção sintática.
Fazem dois meses que ele não aparece. (em vez de faz ;
desvio na sintaxe de concordância)
c) ambiguidade ou anfibologia: trata-se de construir a frase
de um modo tal que ela apresente mais de um sentido.
O guarda deteve o suspeito em sua casa. (na casa de quem: do
guarda ou do suspeito?)
d) cacófato: consiste no mau som produzido pela junção de
palavras.
Paguei cinco mil reais por cada.
e) pleonasmo vicioso: consiste na repetição desnecessária de
uma ideia.
O pai ordenou que a menina entrasse para dentro
imediatamente.
Observação: Quando o uso do pleonasmo se dá de modo
enfático, este não é considerado vicioso.
f) eco: trata-se da repetição de palavras terminadas pelo
mesmo som.
O menino repetente mente alegremente.
Por Marina Cabral
Especialista em
Língua Portuguesa e Literatura
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