quarta-feira, 6 de março de 2013

SORRIR É O REMÉDIO II


Como as intempéries da vida nos levam sempre aos descaminhos nem sempre planejados das nossas existências, a única saída é realmente sorrir, para não dar vazão a nenhuma depressão inconveniente ou oportunista.
E foi assim que fiz mais uma vez, sentado à beira da praia e ouvindo as estarrecedoras estórias de um amigo desavisado que, como sempre, merece a divulgação, sempre na tentativa humílima de divertir e dar certa leveza aos dias quentes de verão que estamos vivendo.
Antigamente, o carnaval de Itabuna era comemorado em plena avenida do Cinquentenário. E nosso amigo contador de “causos”, devidamente omitido o nome, estava tomando conhaque Cinco Estrelas, a noite toda, na barraca do colega e amigo bancário de alcunha Tijolão.
Saindo da festa de Momo amanhecendo o dia, travado, trocando as pernas, dirigiu-se à sua residência, tomou banho, pegou uma mochila e partiu para a rodoviária, ia a Santo Antônio de Jesus, atrás da namorada, pois a visitava de 15 em 15 dias.
Chegou na rodoviária, mostrou a passagem e sentou-se na poltrona do ônibus da Águia Branca, cochilou rápido. Bêbado, pocado, o sono parece uma eternidade. Aquela coisa de um minutinho só. Quando se deu conta, o veículo estava trafegando em direção à BR 101, na altura da, hoje, garagem da Rota. Quando viu os ônibus ali estacionados, se desesperou, dando uma de valente:
- Para o ônibus, para o ônibus! Que eu vou para Santo Antônio de Jesus, peguei o ônibus errado! – imaginando estar indo em direção contrária, em lado oposto.
O cobrador tentou amenizar, segurando-lhe o braço:
- Não, moço...
- Me larga, me larga, me larga...
- Moço, você está dentro do ônibus para Santo Antônio...
Ele, totalmente em paranoia, misto de ressaca e sono:
- Me larga, me larga, me larga, que eu tenho que ir para Santo Antônio de Jesus!
Aquela confusão infrene alardeou todos os passageiros, despertando-os para a loucura do caso inusitado em questão.
O motorista se zangou e encostou no posto de gasolina ao lado e ele se dirigiu à rodoviária. Chegando lá, percebeu a besteira que fez:
- Ih, eu tava no ônibus... E agora?
Pegou um táxi e foi atrás do automóvel, só alcançando-o em Ubaitaba. Pagou um dinheiro da zorra pela corrida.
Com a maior cara de pau, foi subindo no ônibus, o motorista quando viu, foi logo dizendo:
- Aqui você não vai entrar, não!
Ele tentou contemporizar:
- Não, o senhor me desculpe aí, passou já... É que eu amanheci no carnaval de Itabuna, estou meio desnorteado... mas já tou beleza já... já sarei já!...
E sob os olhares desconfiados de todos os que assistiam a cena, principalmente da senhora que estava na poltrona ao seu lado, ele subiu de novo no buzu, podendo, enfim, tirar o seu sagrado sono de folião ensandecido, enquanto as rodas singravam o asfalto em direção à cidade desejada.
* Gustavo Atallah Haun é professor, formado em Letras, UESC, e ministra aula em Itabuna e região. Escreve para jornais de Itabuna, Ilhéus e edita oblogderedacao.blogspot.com (g_a_haun@hotmail.com). É maçom, da Loja Acácia Grapiúna.

Nenhum comentário:

Postar um comentário